Portal Vermelho
Lula, o marqueteiro do câncer
Urariano Mota
A julgar pelos comentários apaixonados que gerou, o câncer na laringe de
Lula foi, é um sucesso. Das chamadas redes sociais, do Twitter, do
Facebook, do Youtube a todo o universo do mar, terra, ar, e internet, o
câncer do ex-presidente veio provar, do modo mais paradoxal, que Lula
está hoje ainda mais vivo e bulindo. Penso que até as sondas espaciais,
os laboratórios distantíssimos em órbita, que rondam além do nosso
sistema planetário, já transmitem para os ETs que no Brasil há um cara
que, ao ser presenteado com um câncer, virou mais notícia que todos os
astros do esporte, da televisão e do cinema.
O Jornal Nacional se vê obrigado a noticiar a doença, sério, grave (é do
estilo), ainda que em doses homeopáticas, louco de raiva, possesso, por
não fazer do caso uma grande telenovela jornalística. Lembram-se da
magnífica obra-prima do horror no acidente da TAM? Os capítulos tinham
nomes: “O maior desastre da aviação brasileira ... Duas tragédias em dez
meses... Tristeza e indignação na madrugada em São Paulo... A aflição
das famílias das vítimas em Porto Alegre... O medo de quem mora próximo a
Congonhas”. Mas desta vez, não abusem por favor, creiam na criação, se o
Jornal Nacional está sem os próximos capítulos, pelo menos possui o
título geral: “Lula, o pau de arara que nasceu para o câncer”. Imaginem
como isso prepararia bem o lindo obituário, já pronto: “Lula, enfim,
descansa em paz!” Desgraçado, que nós também.
Como isso é possível? Como é que Lula, fora da presidência, quando, e
guardo a esperança de que os verbos dos seus adversários, inimigos,
estejam nesta gradação: quando o queriam e desejavam e apostavam que ele
estivesse desaparecido, se possível morto, pois para Deus nada é
impossível, como pode o ameno barbudo voltar com tal onipresença, da
terra à lua? Eis que na pesquisa na web, entre os comentários mais
entusiasmados e criadores, descobri a razão. Escolho para vocês estas
pérolas, das quais limpo o português mais sujo:
“Nada de novo, pessoal. Trabalho com marketing há mil anos e sei o que
houve. O que fazer quando a sua imagem está a ponto de detonar (quase
dez ministros detonados), com o processo do mensalão em andamento,
inflação crescente, o diabo, o que é que se faz? Cria-se um fato novo! O
povo precisa ter pena do cara, não é mesmo? Que câncer, que nada! Isso é
pura armação de um bandido mentiroso e que não tem saída. Só um câncer
arranjado. Matei? O cara é muito malandro, ele não está nada com câncer,
é pura jogada dos marqueteiros da petralha. Matei?”
Ao que outro mais culto, com as luzes e o método arguto do que o bravo imagina ser a ciência política, desvendou melhor as patas do caranguejo:
“A divulgação manipulada do estado de saúde prevalece igual ao do líder
venezuelano Hugo Chávez. O conhecimento público do seu câncer o favorece
na reeleição do ano que vem, entendem? É mais um mistério que ainda
envolve a gravidade da doença, talvez porque sua veiculação dispararia a
sucessão de um líder egocêntrico demais para deixar herdeiros. Mataram a
charada?”
E finalmente, esta pepita de ouro que ilustra o sucesso internacional do câncer de Lula no mundo e na história:
“Devagar, pessoal, o ‘universo’ está dando uma boa mão para nós
terráqueos e limpando a terra dos esquerdistas. Senão, vejamos: o
Kadaffi já morreu, o Fidel Castro está agonizando, o Hugo Chaves está
agonizando, o Kim Jong-il da Coreia do Norte está agonizando, agora o
Lula está com o câncer. Viva o câncer!”.
A essas linhas bárbaras, que festejavam a morte geral na esquerda,
reagiu rápido uma leitora espirituosa, como se fosse a voz da
consciência entre caranguejos, animais e fúria:
“Tudo agonizando, não é? E o Capitalismo também.... Ahahahahaha”
Em resumo, amigos: nunca se viu, em toda história, um marqueteiro do câncer como Lula.
Sucesso universal e absoluto.
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