Sob o meu olhar

Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.

30/07/2012

Elogio da dialética (Bertold Brecht)



A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração
E isto é apenas o começo.

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem, pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores do amanhã.

29/07/2012

Frei Betto: O que é ser mineiro


Como todo mineiro é um pouco filósofo, há um mistério sobre o qual medito há anos: o que é ser mineiro?


De reflexões e inflexões que extraí sobre a mineirice - muitas delas colhidas de metafísicas inscrições em rótulos de cachaça e quinquilharias de beira de estrada - eis as conclusões a que cheguei:

Mineiro a gente não entende - interpreta.

Ser mineiro é dormir no chão para não cair da cama; usar sapatos de borracha para não dar esmola a cego; tomar café ralo e esconder dinheiro grosso; pedir emprestado para disfarçar a fartura.

É desconfiar até dos próprios pensamentos e não dar adeus para evitar abrir a mão.

Mineiro não é contra nem a favor; antes, pelo contrário. Aliás, mineiro não fala, proseia. Toca em desgraça, doença e morte e vive como quem se julga eterno. Chega na estação antes de colocarem os trilhos, para não perder o trem. E, na hora em embarque, grita para a mulher, que carrega a sua mala: "Corre com os trens que a coisa já chegou!"

Mineiro, quando viaja, leva de tudo, até água para beber. E um coração carregado de saudades.

Relógio de mineiro é enfeite. Pontual para chegar, o mineiro nunca tem hora para sair. A diferença entre o suíço e o mineiro é que o primeiro chega na hora. O mineiro chega antes.

O bom mineiro não laça boi com embira, não dá rasteira em pé de vento, não pisa no escuro, não anda no molhado, só acredita em fumaça quando vê fogo, não estica conversas com estranhos, só arrisca quando tem certeza, e não troca um pássaro na mão por dois voando. 

Ser mineiro é sorrir sem mostrar os dentes, ter a esperteza das serpentes e fingir a simplicidade das pombas, fazer de conta que acredita nas autoridades e conspirar contra o governo.

Mineiro foge da luz do sol por suspeitar da própria sombra, vive entre montanhas e sonha com o mar, viaja mundo para comer, do outro lado do planeta, um tutu de feijão com couve picada. 

Mineiro sai de Minas sem que Minas saia dele. Fica uma saudade forte, funda, farta e fértil.

Enquanto outros não conseguem, mineiro num dá conta. Nem paquera, espia. Não arruma briga, caça confusão. E mineira não se perfuma, fica cheirosa.

Ser mineiro é venerar o passado como relíquia e falar do futuro como utopia, curtir saudade na cachaça e paixão em serenatas, dormir com um olho fechado e outro aberto, suscitar intrigas com tranqüilidade de espírito, acender vela à santa e, por via das dúvidas, não conjurar o diabo.

Mineiro fala de política como se só ele entendesse do assunto, faz oposição sem granjear inimigos, gera filhos para virar compadre de político. 

Ser mineiro é fazer a pergunta já sabendo a resposta, ter orgulho de ser humilde, bancar a raposa e ainda insistir em tomar conta do galinheiro. 

Mineiro fica em cima do muro, não por imparcialidade, mas para poder ver melhor os dois lados.

Cabeça-dura, o mineiro tem o coração mole. Acredita mais no fascínio da simpatia que no poder das idéias. Fala manso para quebrar as resistências do adversário.

Mineiro é isso, sô! Come as sílabas para não morrer pela boca. Faz economia de palavras para não gastar saliva. Fala manso para quebrar as resistências do interlocutor. Sonega letras para economizar palavras. De vossa mercê, passa pra vossemecê, vossência, vosmecê, você, ocê, cê e, num demora muito, usará só o acento circunflexo! 

Mineiro fala um dialeto que só outro mineiro entende, como aquele sujeito que, à beira do fogão de lenha, ensinava o outro a fazer café. Fervida a água, o aprendiz indagou: "Pó pô pó?" E o outro respondeu: "Pó pô, pô".

Mineiro não fica louco; piora. Por isso, em Minas não se diz que alguém endoidou, mas sim que "se manifestou..."

Ser mineiro é comer goiabada de Ponte Nova, doce de leite de Viçosa, queijo do Serro, requeijão de Teófilo Otoni e lingüiça de Formiga, tudo regado a pinga de Salinas. 

É cozinhar em fogão de lenha com panela de pedra sabão.

Mineiro não tem idéias, só lembranças; não raciocina, associa; pão-duro, tem o coração mole; pensa que esposa é parente, filho, empregado e carrega sobrenome como título de nobreza.

Ser mineiro é acreditar mais no fascínio da simpatia que no poder das idéias. É navegar em montanhas e saber criar bois, filhos e versos. 

Mineiro vai ao teatro, não para ver, mas para ser visto, freqüenta igreja para fingir piedade, ri antes de contar a piada e chora com a desgraça alheia. Adora sala de visitas trancada, na esperança de retorno do rei. 

Avarento, não lê o jornal de uma só vez para não gastar as letras, e ainda guarda para o dia seguinte para poder ter notícias. Aliás, mineiro não lê, passa os olhos. Não fala ao telefone, dá recado.

Praia de mineiro é barzinho e, sua sala de visitas, balcão de armazém e cerca de curral. Ali a língua rola solta na conversa mole, como se o tempo fosse eterno. Certo mesmo é que o momento é terno.

Ser mineiro é ajoelhar na igreja para ver melhor as pernas da viúva, frequentar batizado para pedir votos, ir a casamentos para exibir roupa nova.

Mineiro que não reza não se preza. Acende a Deus a vela comprada do diabo. Religioso, na sua crendice há lugar para todos: O Cujo e a mula-sem-cabeça; assombrações e fantasmas; duendes e extra-terrestres.

Mineiro vai a enterro para conferir quem continua vivo. Nunca sabe o que dizer aos parentes do falecido, mas fica horas na fila de cumprimentos para marcar presença. Leva lenço no bolso para o caso de ter de enxugar as lágrimas da família.

Não manda flores porque desconfia que a flora embolsa a grana e não cumpre o trato.

Mineiro só elogia quando o outro virou defunto. E fala mal de vivo convencido de que está fazendo o bem.

Ser mineiro é esbanjar tolerância para mendigar afeto, proferir definições sem se definir, contar casos sem falar de si próprio, fazer perguntas já sabendo as respostas.

Mineiro é capaz de falar horas seguidas sem dizer nada. E cumprimenta com mão mole para escapar do aperto.

Mineiro é feito pedra preciosa: visto sem atenção não revela o valor que tem, pois esconde o jogo para ganhar a partida e acredita que a fruta do vizinho é sempre mais gostosa.

Mineiro age com a esperteza das serpentes mas se veste com a simplicidade das pombas, e encobre as contradições com o manto fictício da cordialidade. Mas conta fora tudo que se passa em casa.

Ser mineiro é fazer cara feia e rir com o coração, andar com guarda-chuva para disfarçar a bengala, fingir que não sabe o que bem conhece, fumar cigarro de palha para espantar mosquitos, mascar fumo para amaciar a dentadura.

Mineiro sabe quantas pernas tem a cobra, escova os dentes do alho, teme rasteira de pé de mesa e, por via das dúvidas, põe água e alpiste para o cuco.

Mineiro é pão-duro, não abre a mão nem pra dar bom dia. Desconfiado, retira o dinheiro do banco, conta e torna a depositar. Vive pobre para morrer rico e pede emprestado para disfarçar a fartura.

Mineiro rico compra carro do ano e manda pôr meia sola em sapato usado. Viaja ao exterior e não dá esmola a pobre. Fica sócio de clube para ter status. E faz filho para virar compadre de político.

Pacífico, mineiro dá um boi para não entrar na briga e a boiada para continuar de fora. Mas, se pisam no calo do mineiro, ele conjura, te esconjura, jurado e juramentado no sangue de Tiradentes. 

Mineiro é como angu, só fica no ponto quando se mexe com ele.

Em Minas, o juiz é de fora, o mar é de Espanha, os montes são claros, a flor é viçosa, a ponte é nova, o ouro é preto, é belo o horizonte, o pouso é alegre, as dores são de indaiá e os poços de caldas. 

"Minas Gerais é muitas", como disse Guimarães Rosa. É fogão de lenha e comida preparada em panela de pedra sabão; turmalina e esmeralda; tropa de burro e rios indolentes chorando a caminho do mar; sino de igreja e tropeiros mourejando gado sob a tarde incendiada pelo hálito da noite. 

Minas é Mantiqueira e serrado, Aleijadinho e Amílcar de Castro, Drummond e Milton Nascimento, pão de queijo e broa de fubá. 

Minas é uma mulher de ancas firmes e seios fartos, sensual nas curvas, dócil no trato, barroca no estilo e envolta em brocados, ostentando camafeus. 

Minas é saborosamente mágica.

Ave, Minas! Batizada Gerais, és uma terra muito singular.

Reforma Política e Eleições Municipais (Frei Betto)


É ingenuidade pedir ao poder para se autorreformar. Poder e governo são que nem feijão, só funcionam na panela de pressão. O fogo que o aquece e provoca modificações em seu conteúdo tem que vir de baixo. Da pressão popular.
eleições
Hoje, no Brasil, o deputado e senador que você ajudou a eleger pode votar a favor e declarar ter votado contra
Por isso, o Congresso empurra com a barriga a reforma política. Medo de que qualquer alteração nas atuais regras do jogo venha a diminuir o poder de quem agora ocupa o centro do palco político. Como está é ruim, mas como estará poderá ser pior para quem ousar propor a reforma.
Na falta de reforma política, o que vemos em torno não é nada animador. A democracia reduzida a mero ritual delegatário, os partidos cada vez mais parecidos entre si, os discursos cheios de palavras vazias, e o eleitor votando em A para eleger B, considerado o quociente eleitoral.
Na verdade, nem é justo falar em democracia, e sim em pecuniacracia, já que o dinheiro exerce, somado ao tempo disponível na TV, poder de eleger candidatos.
Estimativas indicam que, na capital paulista, apenas dois candidatos à prefeitura, Serra e Haddad, gastarão, juntos, R$ 118 milhões.
De onde jorram tantos recursos? É óbvio, de quem amealha grandes fortunas – bancos, empresas, empreiteiras, mineradoras etc. Cria-se, assim, o círculo vicioso: você investe em minha eleição, eu na sua proteção. Eis a verdadeira parceria entre o público e o privado. Como se constata na CPI do Cachoeira e nos cuidados que os parlamentares tomam quando é citada a Construtora Delta.
A pasteurização da política faz com que ela perca, a cada eleição, a sua natureza de mobilização popular, para se transformar em um negócio administrado por marqueteiros e lideranças partidárias. As “costuras” são feitas por cima; os princípios ideológicos escanteados; a militância é substituída por cabos eleitorais remunerados; os acordos são fechados tendo em vista fatias de poder, e não programas de governo e metas administrativas.
O eleitor é quem menos importa. Até porque a ciência do marketing sabe como manipulá-lo. Todos sabemos que o marketing consegue induzir as pessoas a acreditarem que a roupa do shopping é melhor do que a da costureira da esquina; refrigerante com gosto de sabão é melhor que suco de frutas; sanduíche sabor isopor é melhor que um prato de saladas.
Do mesmo modo, os candidatos são maquiados, treinados, orientados e produzidos para ocultar o que realmente pensam e planejam, e manifestar o que agrada aos olhos e ouvidos do mercado eleitoral.
A falta de reforma política impede inclusive o aprimoramento de nosso processo democrático. No Congresso, em decisões importantes, como cassação de mandatos, o voto é secreto. E isto é absurdamente constitucional. Princípio que fere a própria natureza da democracia, que exige transparência em todos os seus atos, já que os representados têm sempre o direito de saber como procedem seus representantes.
Hoje, no Brasil, o deputado e senador que você ajudou a eleger pode votar a favor e declarar ter votado contra. Mentir descaradamente. E agir segundo interesses escusos – tão frequentes nesse regime de pecuniacracia.
Há, contudo, uma novidade que escapa ao controle dos marqueteiros e das lideranças partidárias: as redes sociais. Através delas os eleitores deixam de ser passivos para se tornarem protagonistas, opinativos, formadores de opinião.
Uma sugestão ao eleitor(a): nessas eleições municipais, escreva em um papel 10 ou 20 exigências ou propostas a quem você gostaria de ver eleito vereador e prefeito. Analise quais prioridades merecem ser destacadas em seu município: Saneamento? Educação? Saúde? Creches em áreas carentes? Transporte coletivo? Áreas de lazer e cultura?
Caso tenha contato direto com candidatos, pergunte a ele, sem mostrar o papel, se está de acordo com o que você propõe para melhorar o município. Se ele disser que sim, mostre o papel e peça que ele assine.
Você verá o resultado.

Tributos sobre energia - Reduções a vista









A presidente Dilma Rousseff pretende convencer os governadores a aderir à redução da tributação do ICMS sobre energia elétrica – tal como o governo federal fará com o PIS/Cofins – mediante proposta que atenderia a uma antiga reivindicação dos Estados: diminuição do pagamento dos serviços das dívidas estaduais que foram renegociadas no fim dos anos 90 com a União. Além disso, haveria a troca do indexador aplicado nesses débitos.

Ao assinar os contratos de refinanciamento, os Estados concordaram com o limite de pagamento do serviço da dívida, que varia de 11,5% a 15% ao ano, conforme o caso. Há anos, os governadores pedem que esse comprometimento caia para a casa dos 9%. Reivindicam também a mudança do indexador da dívida do IGP-DI para o IPCA, desde que este, mais uma taxa fixa, não seja superior à Selic.

A presidente está disposta a negociar essas alterações – que independem de mudança legal – para que os governadores ajudem o governo federal a diminuir o custo da energia para grandes consumidores em cerca de 20%.

A redução da carga tributária incidente sobre a conta de energia é uma das principais medidas que o governo vai anunciar em agosto, provavelmente no dia 7, quando Dilma terá a terceira reunião deste ano com um grupo de empresários. A cobrança de impostos federais e estaduais e de uma série de encargos é responsável por cerca de 45% da fatura de energia, e essa foi uma das principais reivindicações do setor privado no primeiro encontro com a presidente, em março.

De lá para cá, a presidente começou a trabalhar em novas medidas para melhorar a competitividade da indústria e incentivar os investimentos, além de desvalorização cambial e queda de juros.

A alíquota do PIS/Cofins sobre a energia é de 8,5% e terá uma substancial redução. O que mais onera a conta de luz, porém, é a cobrança do ICMS. Dependendo do Estado, esse imposto supera 30%. Razão pel a qual o governo quer o envolvimento dos governadores. Os encargos atuais, da Conta de Consumo de Combustível (CCC) à Luz para Todos, serão todos transferidos para o Tesouro Nacional.

Associado à essa iniciativa, o governo também espera obter uma redução tarifária importante – da ordem de 10% – por ocasião da prorrogação das concessões federais do setor elétrico por mais 20 a 25 anos.

Valor Econômico


(Fonte: www.cavini.adv.br)
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CIUME, INFELICIDADE E CRIME


por Luiza Nagib Eluf
Alegoria do Ciúmes, de Luca Ferrari, 1640
Supervalorizar a fidelidade é um erro. Os amores livres, sem mentiras, narrados por Stieg Larsson nos mostram: nossa natureza não é a exclusividade
O ciúme nasce com o ser humano. Irmãos lutam pela atenção dos pais, crianças têm apego possessivo pelos brinquedos. No entanto, além das tendências inatas, padrões culturais centenários insuflam o sentimento de posse, de domínio do outro nas relações afetivas e sexuais.
Ao contrário do que disse Vinícius de Moraes, o ciúme não é o perfume do amor -e pode ser sua desgraça. Impossível estabelecer uma relação gratificante quando as perseguições e as cobranças são a tônica da vida a dois.
A exclusividade entre parceiros não deveria merecer tanta prioridade. A supervalorização da fidelidade é um erro, é a maior causa de infelicidade conjugal. Não que se deva ignorar a importância de um parceiro fiel e dedicado, mas a obsessão pela exclusividade pode tornar a vida um inferno e levar à violência doméstica. Crime passional nada mais é do que homicídio por ciúme.
O que caracteriza a passionalidade é o motivo do crime. O Código Penal qualifica o homicídio, aumentando a pena, quando ele é praticado por motivo torpe. O ódio gerado pelo ciúme e a sede de vingança que atormentam a pessoa que foi trocada por outra configuram a torpeza.
O móvel do crime é uma combinação de egoísmo, de amor próprio ferido, de instinto sexual e, acima de tudo, de uma compreensão deformada da Justiça, pois o homicida acha que está no seu “direito”.
A pena prevista é de 12 a 30 anos de reclusão. Quanto mais estreita a mentalidade do agente, maior sua insegurança, sua necessidade de dominar e de se autoafirmar às custas da companheira ou companheiro.
O homicídio entre casais é uma aberração que durante séculos foi avalizada pela sociedade, principalmente quando o autor era homem e a vítima, apontada como traidora, era mulher. Foi assim que morreram Ângela Diniz, Eliane de Grammont, Sandra Gomide e muitas outras.
O caso Matsunaga é uma exceção à regra do crime passional. Na esmagadora maioria das vezes, quem mata é o homem; a mulher é vítima do marido e da sociedade patriarcal.
A tragédia transcende o casal. No geral, há filhos que ficam órfãos, pais e mães que definham no desespero de perdas irreparáveis, futuras gerações que são obrigadas a suportar o estigma do assassinato em família.
Está na hora de corrigir padrões de comportamento que contrariam a natureza humana e por isso não são respeitados.
A natureza não ditou a fidelidade eterna. A exclusividade entre parceiros existe, mas em geral é apenas temporária.
Além disso, o ciúme é um mal a ser extirpado, não a ser incentivado, como se costuma fazer. Não se pode cultivar sentimento de posse e propriedade sobre um ser humano.
Leon Rabinowicz, em 1933, já mostrava perplexidade com o crime passional: “Curioso sentimento o que nos leva a destruir o objeto de nossa paixão! Mas não devemos nos extasiar perante o fato. É preferível deplorá-lo”. O instinto de destruição é exatamente o instinto de posse exacerbado. A propriedade completa compreende também o poder de matar.
O ciúme incomoda, fere, humilha quem o sente. Diz Roland Barthes: “Como ciumento, sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo por isso, porque temo que meu ciúme magoe o outro e porque me deixo dominar por uma banalidade. Sofro por ser excluído, agressivo, louco e comum”.
O sueco Stieg Larsson, autor da trilogia Millennium, criou em sua obra personagens envolvidos em tramas intrincadas e fascinantes. Extremamente moderno e arrojado, ele construiu relações amorosas baseadas na liberdade individual, mostrando as variadas possibilidades de ser feliz no amor sem as amarras da exclusividade e da mentira.
Se conseguirmos lidar melhor com nosso egoísmo, o fim do amor será sempre resolvido nas varas da família, não no Tribunal do Júri.

Bendita Salud (Delfina Acosta)




Recién llegados al mundo, éramos la razón de la alegría de nuestros padres. 
Nuestra madre nos daba de mamar y el universo se reducía a la relación amorosa entre ella, su paciencia infinita y nuestra hambre que iba siendo saciada con la leche salida de unos senos generosos.
Pasado un tiempo la vida nos fue empujando al mundo. Algunos disfrutábamos de una infancia feliz y entretenida con aquellos juegos simbólicos y causantes de gracia que dejaban al descubierto nuestra inocencia en su estado más puro.
Después que dejamos de ser niños, vivimos la adolescencia como pudimos y según como se iban dando las circunstancias. Nos enamoramos, escribimos largas epístolas (muy mal redactadas tantas veces) de tristeza y de pasión, y nos quedamos aguardando respuestas.
El deseo de encontrarnos con la persona querida en algún sitio en especial hacía que la existencia tuviera una calificación excelente para nuestros sentidos.
¿Qué podía ser más importante que decir aquellas trivialidades, aquellas frases hijas de un corazón convertido en brazas, al ser amado?
Amamos y fuimos correspondidos.
Amamos y no hemos sido correspondidos.
Llegamos a la adultez y nos encontramos con un mundo que muestra diversos rostros a medida que se presentan las dificultades y no hallamos la manera práctica de superarlas. Empezamos a extrañar, y cuánto, por cierto, aquel hogar inicial donde no faltaban en la mesa la sopa caliente y el postre. El budín daba un broche de oro al cálido almuerzo familiar.
Y ahora caemos en la cuenta de que existen personas marcadamente malvadas.
Aún cuando no hayamos hecho nada que merezca un maltrato, la vida nos va despojando de algunas pieles de alegría, de confianza y de buen humor.
Cuidado…
Por otra parte, es muy dura la tarea de ganarnos el pan honradamente.
Algunas gentes soportan a diario el mal genio de muchos patrones que obsesionados por su afán de dinero exigen un exagerado rendimiento físico e intelectual.
El trato cotidiano con personas malhumoradas, despectivas y cultivadoras de chismes hacen lo suyo, vale decir, nos llevan a un terreno peligroso.
Cuántos individuos han caído en la depresión pues el ambiente negativo, la malicia de personajes ruines, la carencia de planes, las oportunidades fallidas para sobresalir en algún área, han ido minando lentamente su ánimo.
La depresión no solamente es un vacío, es un sufrimiento extremo que paraliza casi todas las emociones y lleva al individuo a flaquear.
La salud mental de muchas personas está pasando por momentos delicados, críticos en estos momentos. ¿Cómo recuperarla?
Los especialistas en salud mental tendrían que tener más de una respuesta.
El Ministerio de Salud Pública y Bienestar Social debe desarrollar rápidamente un programa que encare los desórdenes nerviosos acompañados de ansiedad, estrés y ataques de pánico.
Infórmese sobre las consecuencias negativas que traen a su mente la sociedad de consumo. No se quede encerrado en su habitación pues ella se convertirá en su cárcel.
Desconfíe de los consejos y razonamientos burdos y desprolijos de quienes solamente buscan ventaja personal.

24/07/2012

Nem tudo se copia e muita coisa se cria (Luciano Siqueira)


Dizem os publicitários em tom bem humorado que nada se cria, tudo se copia. Mas não é bem assim. Que seria da vida se tudo não passasse de mera repetição? Não valeria a pena viver, pois a vida que deve ser vivida é a vida reinventada, como ensina Cecília Meireles.


Pois bem. Estamos em plena campanha eleitoral e, como sempre acontece, candidatos ao Executivo municipal debatem propostas, anunciam o que se convencionou chamar programa de governo. Aqui e acolá uns acusam outros de plágio, reivindicando para si a paternidade de determinada proposição. Ou, o que dá no mesmo, reclama que o adversário copia experiências testadas em outras plagas.

Pura bobagem. Primeiro, porque as boas ideias devem ser, em tese, acolhidas por todos os que com elas estiverem de acordo. Segundo, porque experiências bem sucedidas devem sim, servir de exemplo e podem e devem ser adaptadas à realidade local.

Mas o que está no motivo da discórdia é o jogo de palavras destinado a atrair a simpatia do eleitorado. No entanto, ao se examinarem as propostas de cada um – mesmo com rotulagem semelhante -, surgem diferenças de conteúdo, muitas vezes profundas.

As diferenças qualitativas começam pela dimensão em que a proposta é apresentada. Não basta anunciar a intenção, impõe-se esclarecer o gesto: o quê, quando, onde, como, quanto custa, quais as fontes de financiamento. Isto vale, por exemplo, para a melhoria e a ampliação da rede municipal de saúde, para a requalificação da educação fundamental e assim por diante.

Demais, o contexto político que sustenta tal ou qual proposta, a depender da natureza das forças reunidas em torno dela, também faz a diferença. Por isso é comum propostas aparentemente inovadoras caírem no descaso quando se vê quem as defende – sem a menor possibilidade de realiza-las. Por outro lado, se quem a sustenta se respalda na experiência acumulada, exibe potencialidade de vitória no pleito e condições de governabilidade a posteriori, a receptividade – e a credibilidade – nem se compara.

Também pesa o modo como se gesta o programa apresentado: se urdido entre quatro paredes por técnicos que, embora competentes e bem intencionados, não dialogam com a população; ou se produzido mediante fusão entre o conhecimento e a experiência acumulada e a ausculta da população.

Finalmente, um dado de concepção que também importa, e muito. Da mesma maneira que a sociedade nova é parida na sociedade velha – numa perspectiva mais ampla da transformação social -, em geral não se deve negar integralmente o que foi feito para começar tudo de novo. Uma medida da consequência do que se propõe é a devida consideração do que terá sido construído antes, que agora pode ser reformado, requalificado e posto em bases mais avançadas.

Assim, nem tudo se copia e muita coisa pode ser criada, à luz de uma postura política renovadora e consequente e da mobilização de competências técnicas associadas ao sentimento das ruas.

Bastidores – O processo de licenciamento de Belo Monte



ESCRITO POR TELMA MONTEIRO   
SEXTA, 20 DE JULHO DE 2012

Começo a partir de hoje uma série de artigos que mostrarão alguns momentos dos bastidores dos principais licenciamentos ambientais de hidrelétricas na Amazônia. O processo de Belo Monte será o primeiro a ser esmiuçado. A segunda etapa do licenciamento de Belo Monte, que levou ao início das obras e que podem selar a destruição do rio Xingu, teve início em 2006 e, até abril deste ano, os 35 volumes somaram 6.696 páginas, sem contar as centenas de anexos e imagens.

Rever a evolução desse licenciamento ambiental conduzido pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tem me feito retroceder no tempo e olhar os fatos sob outra ótica. Vai ser possível expor alguns deles que marcaram momentos escamoteados do crivo da sociedade. Isso pode ajudar a entender como se viabiliza legalmente, no Brasil, a gestação e o nascimento de monstros em forma de projetos de desenvolvimento, que superam nossos piores pesadelos.

Bastidores não tem prazo de encerramento e vai evoluir para contar ao público como enfiaram Belo Monte e outras hidrelétricas goela abaixo da sociedade. Não será um resumo, nem uma análise, mas uma espécie de memória de passagens inusitadas ou curiosas, registradas oficialmente nos milhares de ofícios, pareceres, cobranças, justificativas, notas, questionamentos e, principalmente, em tentativas de dar um "jeitinho" na lei.

Componente indígena

A questão indígena tem sido um dos principais temas discutidos no processo de Belo Monte. Os impactos negativos e as violações dos direitos indígenas do projeto têm chamado atenção internacional e contado com uma atuação pífia da Fundação Nacional do Índio (Funai).

No Volume V, páginas 808 e 809, do processo de licenciamento ambiental pelo Ibama, está um ofício da Funai, de 22 de dezembro de 2008, assinado pelo Diretor de Assistência, Aluyzio Guapindaia. Esse ofício trata do acompanhamento do processo de licenciamento da UHE Belo Monte no que tange ao Componente Indígena, pois envolveria diferentes etnias e terras indígenas em várias fases de regularização.

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O que mais interessou nesse ofício foi o fato de a Funai classificar a análise dos impactos no Componente Indígena em três grupos distintos: o grupo 1, formado por terras indígenas que seriam diretamente impactadas e, portanto, deveriam ser objeto de trabalhos de campo e levantamento de dados primários para atender ao Termo de Referência – Terras Indígenas Paquiçamba, Arara da Volta Grande, Juruna do km 17 e Trincheira Bacajá; no grupo 2, consideradas no ofício indiretamente impactadas, cujos estudos seriam facultativos, foram elencadas as Terras Indígenas Apyterewa, Araweté do Igarapé Ipixuna, Koatinemo, Kararaô, Arara e Cachoeira Seca; no grupo 3, o ofício esclarece que as comunidades indígenas deverão ser só contempladas com Plano de Comunicação específico, apenas para a etnia Kayapó, para minimizar os impactos psico-sociais herdados do projeto anterior, Kararaô.

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O ofício, então, faz referência a um pedido feito pela Eletrobras, membro do Grupo Gestor responsável pelos estudos de impacto de Belo Monte, para remanejar a TI Trincheira Bacajá do grupo 1 para o grupo 2. Para a Funai, segundo a explicação no próprio ofício, a inclusão da TI Trincheira Bacajá no grupo 1 se dera por sua estreita ligação com o rio Bacajá que é a via de acesso ao Xingu e ao uso que as comunidades fazem dele.

A Eletrobras alegou que os estudos na TI Arara da Volta Grande já incluiriam os dados necessários de campo sobre a TI Trincheira Bacajá. A Funai, sem mais delongas, aceitou o argumento da Eletrobras.

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Esse ofício comprova que a Funai considerou que Belo Monte iria impactar diretamente três TIs. A informação oficial é preciosa e não foi divulgada na época. Isso nocauteia o discurso mentiroso do governo, da Eletrobras, das empresas e da Norte Energia, de que as terras indígenas da Volta Grande do Xingu não sofrerão impactos porque não serão inundadas pelos reservatórios ou pelas obras estruturais de Belo Monte.

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O passado dura muito tempo: as ações antidemocráticas do governo Dilma na greve nacional das federais



ESCRITO POR ROBERTO LEHER   

A postura do governo Dilma frente à greve nacional dos docentes e, mais recentemente, dos técnicos e administrativos das IFES (Instituições Federais de Ensino Superior), não pode ser compreendida como uma mera contenda trabalhista. Se a greve é tão ampla, abrangendo 58 das 59 universidades federais, e foi capaz de lograr grande adesão interna, é porque conta com a adesão esclarecida de sua base. As vozes dos professores, animadoramente polissêmicas, convergem, de distintos modos, para a necessidade de um outro horizonte de futuro para a universidade pública, abrangendo a carreira, as condições de trabalho e o padrão remuneratório como fundamentos materiais da autonomia didático-científica das universidades.

De fato, o reclamo da falta de autonomia na definição dos cursos é geral, situação particularmente tensa nos novos campi em que cursos minimalistas, fast delivery diploma (1), nos moldes do bacharelado/licenciatura interdisciplinar, proliferam provocando insatisfação entre os docentes e estudantes. O mesmo sentimento de indignação frente à perda de autonomia está presente na pós-graduação, hiper-intensificada e submetida, e ao heterônomo controle produtivista da CAPES que, cada vez mais, inviabiliza a produção rigorosa e sistemática de conhecimento e a formação verdadeiramente universitária de mestres e doutores.

A greve possui pauta precisa e objetiva: carreira, malha salarial e condições de trabalho (mais concursos e recursos para as instituições) e é luminosa: insere na agenda educacional a necessidade de crítica a esse modelo de expansão da educação superior, muito fortemente inspirado nos community colleges e no processo de Bolonha e não muito diferente da expansão na Argentina no triste período menemista.

Os “espíritos do passado” seguem oprimindo o presente

A semelhança das políticas educacionais dos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff com as de Cardoso não decorre da mera cópia, mas, antes, da força das frações burguesas dominantes no bloco de poder que vem sendo consolidado desde a primeira eleição de Cardoso e que conhece seu esplendor nos governos Lula da Silva e Dilma. Tais frações burguesas dominantes – e agora hegemônicas no bloco de poder – abandonaram qualquer traço de projeto de nação autopropelido e, por isso, consideram que a universidade funcional ao modelo não pode possuir real autonomia. Esse é o impasse de fundo da greve e que leva o governo Dilma a agir de modo semelhante ao de Cardoso.

Examinando o movimento de constituição do bloco de poder gerenciado pelos governos Lula e Dilma não surpreendente que o ex-ministro da educação Fernando Haddad tenha sido alçado à condição de candidato de Lula da Silva à prefeitura de São Paulo. Tampouco poderia surpreender o apoio de Paulo Salim Maluf ao candidato, um gesto político certamente justo. Afinal, o seu partido, herdeiro da antiga ARENA, é base do governo.

Injustiça mesmo seria o não apoio de Paulo Renato de Souza à Haddad, se vivo fosse. Afinal, o pretendente a prefeito lhe prestou sistemática homenagem ao seguir com maestria as principais diretrizes do octanato de Paulo Renato no MEC: apoiou decididamente o setor educacional privado-mercantil, oferecendo subsídios públicos que nem mesmo seu mentor educacional ousou realizar – como as isenções tributárias ao setor mercantil, por meio do PROUNI e como os imensos subsídios públicos do FIES –, despencando a taxa de juros para o comprador da mercadoria educacional, o que obviamente exige crescentes subsídios públicos para custear a diferença entre os juros referenciados na taxa SELIC e os praticados no programa.

O resultado dessas políticas foi a redução da participação das matrículas das universidades federais. Embora ampliadas em termos absolutos ao longo da década, inclusive com os referidos cursos fast delivery e com os inacreditáveis cursos de graduação a distância constrangedoramente precários, a taxa de expansão das matrículas federais foi em menor proporção do que a das privadas turbinadas pelo PROUNI e pelo FIES, passando de magros 16,6% das matrículas totais em 2001 para 14,7% em 2010 (2), em benefício das grandes corporações e fundos de investimentos que controlam os principais grupos privados.

Mas a injustiça seria incomensurável não apenas pelo que Haddad fez em prol do privado-mercantil. Afinal, a ação geral do governo Dilma na atual greve das Federais segue o modus operandi cunhado pela dupla Fernando Henrique Cardoso-Paulo Renato e que, nos anos 1990 e no início da década de 2000, gerou pesadas críticas dos petistas aos tucanos. A reiteração dos atos dos tucanos como justos e corretos não pode deixar de ser compreendida como um tardio, mas honesto, desagravo aos “injustiçados” tucanos.

De fato, por ocasião da grande greve dos professores das universidades federais de 2001, a dupla se recusou a negociar com os professores, postergando as audiências, como se fosse algo indiferente para eles o fato de que mais de 500 mil estudantes e o conjunto das universidades federais tivessem de manter 108 dias de greve para lograrem negociações efetivas (3). Após dois meses de greve, Cardoso e Souza perceberam que os docentes lutariam por sua dignidade e em prol da defesa da universidade pública, empreendendo uma cruzada repressiva de grande monta: elaboraram um decreto para coibir as greves, cortaram os salários dos professores e bloquearam o repasse de recursos do MEC para as IFES, retirando o alimento da mesa dos professores, forçando-os a regressar ao trabalho derrotados, “de joelhos”, no dizer da liminar contra o bloqueio do pagamento elaborada pelo ministro Marco Aurélio Mello do STF (4), e de cabeça baixa. Seria uma grande falta de rigor histórico ignorar que, em 2001, grande parte dos parlamentares do PT ficou ao lado dos professores, promovendo denúncias e ações que viabilizassem as negociações.

Contudo, o terreno político se move sem perder os nexos com a base econômica. As frações das classes dominantes que dirigem o bloco de poder sempre pesam nas decisões. A aliança das forças políticas que outrora estiveram nas trincheiras da oposição a Cardoso com o grande capital flexibilizou os seus posicionamentos ético-políticos em todos os domínios, conformando um processo que Gramsci denominou de transformismo. Por isso, quando onze anos mais tarde, em 17 de maio de 2012, os professores deflagraram a já mencionada robusta greve – insatisfeitos com o estilhaçamento de sua carreira, com o arrocho salarial que coloca os docentes no rodapé da remuneração dos servidores públicos federais e com a inaudita intensificação do trabalho imposta por uma expansão sem planejamento, recursos e concursos compatíveis com a expansão dos campi, das matrículas, dos cursos e da pós-graduação – o governo Dilma, com o silêncio obsequioso de Aloísio Mercadante, empreende medidas postergatórias e, como a greve se estende no tempo por sua única responsabilidade, promove medidas repressivas para derrotar os professores e técnicos e administrativos.

Com efeito, o atual governo reproduz os mesmos atos da dupla tucana (2001) na atual greve das IFES: desmarcou todas as audiências que poderiam abrir o processo de negociação e mesmo após 53 dias de greve, finge ignorar que 58 das 59 universidades estão em greve, afetando um milhão de estudantes, bem como pesquisas e atividades de extensão. A força do movimento grevista, entretanto, logrou romper o silêncio cúmplice dos grandes meios de comunicação e não foram poucas as vozes de importantes setores que se solidarizaram com a greve. Surgiu, assim, a oportunidade de repetir a história (como farsa). Faltava a medida repressiva, a mesma de Cardoso e Souza: retirar o alimento dos professores, esperando, assim, a volta ao trabalho derrotados, humilhados e cabisbaixos e sem reclamar mais dos seus magros vencimentos até 2015. E mais: que ficariam silenciados diante da refuncionalização da universidade pública federal como “escolões” que ministram aguadas pinceladas de conhecimentos aos futuros trabalhadores, possibilitando manter os fundamentos do capitalismo dependente, entre os quais a hiperexploração do trabalho.

A presidenta Dilma poderia ter examinado melhor as consequências advindas da aplicação da instrução do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG 552047, de 06/07/2012) impondo o corte de salário dos grevistas. Trata-se de uma medida inconstitucional, pois desrespeita o preceito da autonomia universitária. Conforme a memorável liminar obtida pelo Andes-SN, por ocasião do bloqueio do repasse dos salários pelo MEC na greve de 2001, o ministro Marco Aurélio de Souza, do STF, expôs, de modo raramente visto em manifestações do judiciário, que as universidades estão abrigadas institucionalmente pela Constituição Federal e, mais especificamente, pelo Art.207 da Carta. Na interpretação do ministro do STF, nenhuma instância externa à universidade pode determinar o corte de salários, a não ser o colegiado superior das instituições (5).

É possível avançar na prática da autonomia universitária

As universidades estão diante de uma oportunidade ímpar para alargar os estreitos limites da autonomia. Os colegiados superiores das universidades que, apesar da Carta de 1988, não lograram condições políticas para afirmar a autonomia constitucional podem aproveitar o ato de inaudita violência contra a autonomia universitária para se pronunciarem de modo corajoso e ousado em defesa da auto-aplicabilidade do dispositivo constitucional. Não basta, portanto, impedir a efetivação do corte salarial, mas, antes, de empreender enérgica campanha nacional contra o ato ofensivo à autonomia e em defesa do Artigo 207 da Constituição.

No momento em que a dupla FHC-Paulo Renato desferiu suas violentas ações contra a universidade e seus professores, os docentes agiram com dignidade, coragem e compromisso com a universidade e sua autonomia, fortalecendo a greve. Não resta dúvida de que o mesmo acontecerá na atual greve: certamente, a adesão será ainda maior, como ocorreu em 2001, pois os professores não se calarão diante de tal ofensiva. Caso o governo Dilma tente repetir o gesto de Cardoso, bloqueando os recursos do MEC, os acontecimentos de 2001 sugerem cuidado. Após perder as ações judiciais no STJ e no STF, com as quais o governo Cardoso queria dar legalidade ao seu ato de violência, somente restou a Paulo Renato de Souza – que ainda pretendia postergar o cumprimento das decisões judiciais determinando o imediato repasse de recursos para o pagamento dos docentes – solicitar um habeas corpus preventivo para não terminar na prisão.

Diante dos tristes e preocupantes atos de recrudescimento da violência contra a universidade que equiparam a presidenta Dilma e seu ministro da Educação a personagens com a mesma estatura política de seus antecessores, os setores democráticos não podem se omitir: exigem, de imediato, a abertura de negociações com os professores, técnicos e administrativos em greve nas universidades e na educação básica federal e que o governo não persevere na trilha obscurantista de coerções contra as instituições de ensino federais brasileiras.

Certamente, não haverá mudança de rumo na grande política do governo Dilma, mas a greve nacional das universidades pode convencer os setores mais esclarecidos de seu governo a admitir que o Estado não pode sufocar todas as instituições da República. A autonomia universitária sempre possibilitou melhor retorno social ao povo e, por isso, no lugar de olhar exclusivamente para a banca, o governo poderia escutar as universidades brasileiras e admitir que as contradições são fecundas para a democracia.

Brasil e Paraguai


ESCRITO POR MÁRIO MAESTRI   
SEXTA, 20 DE JULHO DE 2012

Fernando Lugo foi deposto, em um vapt-vupt, menos de 24 horas!, pelo parlamento conservador paraguaio, sem que o governo de Dilma Rousseff interpusesse qualquer oposição, como a realizada pela administração Lula da Silva, quando do golpe hondurenho, em 2009, contra Manuel Zelaya. E, se a oposição ao golpe em Honduras era dificultada pela distância daquele país do Brasil, as proximidades geográfica, política, econômica e social do Paraguai permitiam ao governo brasileiro garantir sobrevida ao governo constitucional ameaçado, até que a mobilização popular em curso revertesse a aventura golpista. Entretanto, nada foi feito.

O golpe no Paraguai deu-se sob os auspícios do governo Obama, que segue cumprindo a promessa de superar o abandono da América Latina pelas administrações de Bush, empantanadas no Iraque e no Afeganistão. A deposição de Fernando Lugo foi uma rasteira certa na proposta de integração latinoamericana, da qual o Brasil é o principal promotor e favorecido. Os USA antipatizam com o Mercosul, com a União Europeia etc., preferindo as discussões bilaterais, olho no olho, nas quais os grandalhões convencem facilmente os pequeninos.

Com Fernando Lugo, perdeu um governo progressista que falava muito e concedia nada, à imagem e semelhança do petismo brasileiro, em seus melhores momentos. A desculpa do luguismo para tamanha inatividade social era o parlamento de direita que, alinhado aos USA, não reconhecia a China, mantinha relações estreitas com Israel, cedia base militar aos estadunidenses e, sobretudo, vetava o ingresso da Venezuela ao Mercosul, união comercial em clara perda de dinamismo.

Ao contrário de Lula da Silva, em Honduras, Dilma Rousseff apoiou a deserção do ex-bispo mulherengo, que saiu de modo ainda mais apressado e inglório do que o de João Goulart, em abril de 1964. Afirma-se que se tratou de mais um passo da indiscutível aproximação de seu governo ao dos USA, já expressa no distanciamento do Irã, da Líbia, da Síria; na nomeação de Antônio Patriota, para ministro das relações exteriores, conhecido filo-estadunidense.

Por além das aparências, subsiste a alma profunda dos negócios. Lula da Silva resistiu à deposição de Manuel Zelaya também porque aquele país era destino privilegiado, ainda que pequeno, das exportações manufaturadas do Brasil. Tentou inutilmente impedir a entrada do raposão em galinheiro que pensava seu. Por sua vez, Dilma Rousseff apoiou a entrega imediata do poder por Fernando Lugo e promoveu, com ainda maior rapidez, a suspensão provisória do Paraguai no Mercosul e a introdução da Venezuela como quinto membro daquele organismo, em ação igualmente prenhe de consequências econômicas.

Com as informações de que dispomos, é ainda difícil saber a sequência exata das decisões. Teria, desde o primeiro momento, prevalecido o princípio de que valia menos um Fernando Lugo, em fim de mandato, do que uma Venezuela no Mercosul, para sempre? Teria se tratado de um apoio preventivo dilmista aos brasiguaios, parte do agronegócio nacional, locomotiva atual das exportações brasileiras, associado a empurrão nos segmentos industrialistas, em processo de desindustrialização tendencial? A Venezuela, país produtor de energia, é forte importador de manufaturados. Maná dos céus, portanto, para a indústria brasileira e argentina. Seu ingresso no Mercosul torna a aliança regional mais atrativa para os países que se encontram fora dela. Ou apenas se fez da “necessidade, virtude”, respondendo a rasteira com poderoso rabo-de-arraia.

Trata-se, em todo caso, de uma aposta perigosa. Os USA avançam a Aliança do Pacífico, entre o Chile, Peru, Colômbia, México, claramente em oposição ao Brasil, que aproxima a Venezuela e fortalece o Mercosul, enquanto vê afastar-se o Paraguai, nação estratégica de sua fronteira mais candente, da qual depende parte do fornecimento de sua energia elétrica.

Sobretudo, permite que o Império golpeie com sucesso o governo progressista latinoamericano mais frágil, precisamente quando vivia verdadeiro sufoco social, devido ao massacre de trabalhadores sem terra, sua principal base de apoio. Fortalece, portanto, a ameaça aos governos boliviano, equatoriano, venezuelano e, até mesmo, argentino. E o boi, como se diz aqui no Rio Grande do Sul, se come aos pedaços!

GRAMÁTICA... SEMPRE É BOM SABER


UMA LIÇÃO TÃO BEM PREPARADA...  rsrsrsrs 
 
 
Pena que não podemos mostrar aos  alunos. Num instante eles iriam entender.

Filho da putaé adjunto adnominal, quando a frase for:
            "Conheci um político filho da puta".
- Mas se a frase for:
             "O político é um filho da puta", daí, é predicativo.
- Agora, se a frase for:
           "Esse filho da puta é um político", é sujeito.
- Porém, se o cara aponta uma arma para a testa do político e diz:
           "Agora nega o roubo, filho da puta!" - daí é vocativo.
- Finalmente, se a frase for:
           "O ex-ministro..., aquele filho da puta, desviou o dinheiro das estradas" daí, é apôsto.
Que língua a nossa, não?!
Agora vem o mais importante para o aprendizado:
- Se estiver escrito:
         "Saiu da presidência em janeiro e ainda se acha presidente."
O filho da puta é sujeito oculto... 
 

22/07/2012

Não somos o avesso do jovem que fomos





Um dia descobrimos que não nos transformamos em quem sonhávamos ser e isso não tem nada de errado. 

A juventude é uma vertigem. As cartas ainda não foram dadas, os dados não foram lançados. O leque das possibilidades é imenso e sedutor. Somos fortes, belos e não temos medo da morte por isso sonhamos o impossível, o improvável e o utópico. Benditos sejam os dias e os anos da nossa juventude: eles nos dão uma dimensão de poder e invulnerabilidade que nunca mais teremos. 

Eternos sempre serão os dias e os anos da nossa juventude porque o tempo não existia. Tínhamos tanto tempo que desperdiçávamos ou desdenhávamos das horas como se elas fossem inesgotáveis. 

O tempo não era contado muito pelo contrário, na nossa avidez de tudo sentir e viver, queríamos que ele voasse. As horas não eram preciosas pois não eram raras, nem caras. Intactos sempre serão os dias da nossa juventude: só então fomos eternos.

Às vezes nos lembramos daquela arrogância maravilhosa e sentimos saudade da experiência da plenitude bruta e gratuita, do vigor físico e do idealismo heróico. No entanto, não conheço nenhum "adulto" razoavelmente bem resolvido que quisesse voltar a ser jovem - a não ser ter "juntas e vista" de jovem como diria João Ubaldo. 

Descobrimos que se não somos especiais como pensávamos ser isso não é triste nem nos transforma em perdedores. É só vida real. Descobrimos que se não somos geniais ou revolucionários somos nossos próprios heróis. Descobrimos que não transformamos o mundo mas tocamos pessoas. Descobrimos que o possível é mais complexo que o impossível porque o possível está à nossa frente não no mundo das idéias. Descobrimos que o projeto de paz mundial não é viável sem paz interior. Descobrimos que mesmo sem prêmios nóbeis, fortuna ou fama nos realizamos em profissões e atividades comuns e isso não tem nada a ver com mediocridade. 

Não somos o avesso do jovem que fomos: somos quem pudemos ser e se fazemos o nosso melhor, se lutamos com coragem nossas pequenas lutas, se defendemos com dignidade nossas bandeiras, se amamos com generosidade nossos amigos, pais e filhos, se respeitamos nossos semelhantes e a nós mesmos somos com certeza especiais, de um jeito muito real. 

Um dia descobrimos com serena maturidade que não nos transformamos em quem sonhamos ser na juventude mas em alguém muito melhor.


Los niños invisibles (Juan Gelman)


Hay estadísticas de todo tipo en cualquier país, pero una poco aflora
públicamente entre las miles que cada año se compilan en EE.UU.: la de
los niños sin techo del país, 1,6 millones en el año 2010, es decir, uno de
cada 45, y un 38 por ciento más que en el 2007, según una investigación
del National Center on Family Homelessness (NCFC). Nada mal para el país
más poderoso del planeta.
El hecho cambia imágenes del sin techo en EE.UU. No se trata ya de
un hombre solo y andrajoso que pide limosna en una esquina: el segmento
de homeless que aumenta más rápidamente es de las familias con hijos.
Tampoco de un haragán: unos 4 millones de familias perdieron su vivienda
desde comienzos del 2007 a comienzos del 2012, informó The New York Times
, al compás del crecimiento de la desocupación.
En el 2007 explotó el globo hipotecario que condujo a la crisis económica
mundial que hoy castiga al mundo. Ese año, 2,2 millones de deudores
hipotecarios perdieron su departamento o casa en EE.UU. y un
millón en el 2010. Y aun los que trabajan con un salario exiguo no
siempre pueden pagar un alquiler. En Orlando, el alquiler promedio
de un departamento con dos dormitorios exige que el inquilino gane
18 dólares la hora. Una pareja que labore 40 horas por semana no
la puede sufragar con un salario mínimo de 7,67 dólares la hora.
En el estado de California hay que ganar 26 dólares la hora para
alquilar esa clase de departamento, pero el salario mínimo que perciben
muchos es de no más que 8 dólares la hora.
No es sólo el desempleo, entonces.
El problema de los sin techo no tenía a comienzos de la década de
los ’80 la calidad de endemia que alcanzó después. La tasa de familias
neoyorquinas con hijos pequeños echadas a la calle aumentó un 500
por ciento entre 1981 y 1995 (www.eric.ed.gov, enero 1996) y el
Departamento de Vivienda y Desarrollo Urbano registró en su
evaluación correspondiente al 2010 que el 35 por ciento de los
homeless del país dormía en albergues del gobierno y
de entidades caritativas (//portal.hud.gov, 14-6-11).
Ralph da Costa-Núñez, que fue funcionario del ex alcalde de Nueva
York Ed Koch, señaló al ex presidente Ronald Reagan como el culpable
de la veloz expansión del fenómeno: “Anuló todos los programas sociales
que ayudaban a los pobres. ¿A dónde iban a ir? A la calle, a los albergues.
Un día le dije al alcalde Koch que lo que empezaba así iba a permanecer”.

. En tanto, Reagan mistificaba la cuestión. “Lo que tenemos en este país
 –declaró en el programa televisivo TV Good Morning America
el entonces presidente de EE.UU.– es un problema que siempre
tuvimos, incluso en los mejores tiempos; tal vez somos ahora
más conscientes de su existencia, y es la gente que duerme a la
intemperie, los sin techo que no tienen techo, se podría decir, por
elección” (//abc.go.com, 31-1-84). Sí, desde luego, cómo no.
Bill Clinton continuó estas políticas de su predecesor republicano y
sus reformas en materia de pobreza no tomaron muy en cuenta a
las mujeres y los niños. La ley de ayuda temporaria a las familias
necesitadas que se promulgó durante su mandato imponía rigurosas
exigencias para acceder a la asistencia y ésta, como lo indica el
nombre de la ley, era de limitada duración.
Los niños homeless, en este marco, devienen “los marginados más
jóvenes de EE.UU.”, señala el informe del NCFC. “Se han convertido
gradualmente –agrega– en una parte descollante de un Tercer Mundo
que está emergiendo en nuestra nación. A pesar de que su número
crece, los niños sin techo son invisibles para la mayoría de
nosotros, no tienen voz ni audiencia. Sin una cama que puedan
llamar propia, han perdido seguridad, privacidad y el confort hogareño,
así como a sus amigos, pertenencias, mascotas, rutinas reposadas
y a sus comunidades. Estas pérdidas producen una experiencia de
vida perturbadora que inflige heridas profundas y duraderas.”
Seis estados solamente –de los 50, más el distrito federal, que
constituyen la federación estadounidense– han desarrollado
estrategias para enfrentar la situación. Otros han diseñado proyectos
decenales para resolverla por completo, pero su eficacia está por
verse. Se olvida, además, que los niños sin techo pasan hambre y son
más proclives a contraer infecciones respiratorias y digestivas, asma,
tuberculosis y otras enfermedades. Su desamparo no les permite
asistir a clase con regularidad: los cambios de ubicación de sus familias
son frecuentes. En este caso, mucho más que en otros y por otras razones,
se aplica lo dicho alguna vez por Jean Cocteau: “La infancia sabe lo que quiere.
Quiere dejar atrás la infancia”.



Tomado de Página 12: http://www.pagina12.com.ar/diario/contratapa/13-199246-2012-07-22.html