Sob o meu olhar

Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.

31/12/2011

2012 - Um Novo Ano (Carmen Figueiredo)


Durante nossa vida aprendemos a valorizar coisas que não são fundamentais:
Materialismo, modismo, poder, status.....
E coisas deste tipo são o que importam em nossa sociedade.

Por isso, venho convocá-los para uma revolução.......
Vamos renovar a espécie humana!
Vamos investir na alma!
Resgatar não só a natureza, mas o natural.

Vamos vender mais paz.....
Filtrar as emoções...
Aglutinar a inveja!
Contabilizar as boas relações
Reciclar as relações ruins!
Reatar as velhas amizades.

Equipar o prazer...
Trabalhar a perseverança...
Vençer o cansaço!
Fazer a diferença, sem precisar de propaganda
Resolver tudo sem alarde!

Usar o marketing da sinceridade.
Cobrar o profissionalismo de todos,
Inclusive daqueles que cada um elegeu....

Vamos maximizar a energia...
Preservar os recursos
Tratar a água, pois, ela é nossa fonte de vida...
E como o ar, que também é meio de vida,
Vamos ser transparentes!

Renovar o estoque de sorrisos...
Canalizar os bons pensamentos...
Usar o marketing do amor!
Abraçar mais,
Beijar os nossos amores...
Relembrar o quanto os amamos.

E com a mesma força,
Dizer não ao racismo,
À intolerância,
À discriminação.
Ser saudável, inclusive nas atitudes.
Dar bons exemplos!
Dizer, a verdade, principalmente para as crianças,
Para que elas cresçam sabendo acreditar.

Criar nossos filhos como cidadãos do mundo.
Cultivar nossa fé, seja ela qual for,
E viver na razão da emoção,
Lutando pela felicidade plena,
E por um futuro melhor.

Mas principalmente, não podemos esqueçer,
De agradecer sempre,
Por estar neste mundo.

29/12/2011

Epidemia e conformismo: a banalização da morte violenta

Carta Maior - Paulo Kliass


Dentre os inúmeros temas que freqüentam as páginas dos jornais nessa época, um dos que mais chocam é o relativo às mortes violentas em nosso País. E uma das coisas que mais impressionam é a maneira como a sociedade brasileira termina por lidar com tal realidade.

E uma das coisas que mais impressionam é a maneira como a sociedade brasileira termina por lidar com tal realidade. Uma espécie de conformismo com a brutalidade das cenas, dos choques e das informações. Tudo se passa como se a repetição “ad nauseam” de acidentes e de assassinatos criasse um mecanismo de defesa nas pessoas individualmente, e no inconsciente coletivo, para não mais se deixarem afetar pelo contato tão freqüente com a morte de homens, mulheres e crianças. Fenômeno que muitas vezes passa próximo de si, quase vizinho mesmo a cada um de nós.

Além disso, os números desse tipo de ocorrência por aqui estão muito acima dos limites utilizados pela Organização Mundial para a Saúde (OMS) para caracterizar tal fenômeno como uma “manifestação epidêmica” – 10 mortes anuais por grupo de 10 mil habitantes. Os óbitos provocados pela violência em nossas terras constituem - sim! - uma epidemia

Mortes no trânsito
Tanto quanto as demais formas, o volume das perdas humanas em acidentes de trânsito é algo que me parece inconcebível em uma sociedade que se pretende, digamos assim, civilizada. Os números berram aos nossos olhos. A ponto de o governo federal haver lançado há poucos dias mais uma tentativa para enfrentar o problema. Agora, trata-se do Pacto Nacional pela Redução de Acidentes. Porém, a gravidade do quadro sugere a necessidade de medidas mais profundas. Senão, vejamos.

Ao longo de 2010, houve exatamente 40.610 vítimas fatais em acidentes de trânsito. Não, não houve erro de digitação! O número é esse mesmo! O duro de lidar com estatísticas é que elas podem escancarar uma realidade que muitas das vezes nos recusamos a enfrentar. Durante o ano passado, portanto, houve um total superior a 111 mortes por dia nas ruas e estradas do Brasil. Ou seja, a cada hora morriam quase 5 pessoas em acidentes de trânsito. Para quem não entendeu ainda: a cada 12 minutos uma nova morte. Aguardemos os números a serem consolidados e tabulados pelo Sistema de Informações de Mortalidade (SIM - ligado ao SUS) para 2011. 

Mas as informações para os anos anteriores demonstram que há uma tendência de manutenção desse tipo de evento em patamares muito elevados. O total para 2009 registrou 37.594 óbitos. Em 2008, o sistema havia contabilizado 38.273 mortes. Uma análise mais detalhada para os dados de 2009, por exemplo, evidencia que mais de 80% dos falecidos são homens, sendo que quase a metade estava na faixa etária entre 20 e 39 anos. Em termos de comparação internacional, ocupamos o quinto lugar nesse tipo de tragédia, atrás apenas de Índia, China, Estados Unidos e Rússia.

Mortes com motos
Nos anos mais recentes, porém, uma informação em especial começou a chamar a atenção dos analistas. Trata-se da participação específica das mortes envolvendo acidentes de motociclistas no total dos óbitos em acidentes de trânsito. Desde 2007 que o total de falecimentos com motociclistas passou a superar o total de perdas de ocupantes de veículos e o total de pedestres. Em 2010, por exemplo, foram 10.134 mortes de motoqueiros, ante 9.078 de pedestres e 8.659 de ocupantes de automóveis.

Um dos aspectos que é mais inquietante, quando se analisa esse tipo de informação, refere-se ao fato do fenômeno estar umbilicalmente associado ao processo recente de melhoria da renda das camadas mais pobres da população e o ingresso em um mercado de bens de consumo até então considerados inacessíveis. Nas grandes metrópoles, nas cidades médias e nos rincões do Brasil profundo a presença da moto se faz de forma incisiva e exponencialmente crescente. Desde os “moto-boys” para tentar superar as dificuldades de trânsito até os moto-táxis para suprir as carências de transporte público em regiões menos bem servidas, passando pelo uso de um novo tipo de transporte individual mais rápido e mais barato, o fato é que a motocicleta transformou-se em verdadeiro fenômeno social.

No entanto, aquilo que deveria ser aplaudido como mecanismo de inserção social, na verdade se revela mais como um risco potencial de problemas de diversas ordens – inclusive o risco de perder a vida. A ausência do Estado como um provedor efetivo de políticas públicas abre o espaço para esse tipo de realidade revelada pelas estatísticas. O uso da moto não carrega mais consigo o elemento simbólico da conquista da liberdade e da autonomia, como nos sonhos da década de 70. Ele pode significar, isso sim, a ante-sala da morte. Entre 1996 e 2010, enquanto o número de mortes por atropelamento caiu de 30%, o total de falecimentos em acidentes com motos cresceu 1.300%. Para um período mais recente, entre 2002 e 2010, o total de mortes com motos quase triplicou.

O quadro é complexo e as causas de múltiplas origens. Mas são inegáveis a ausência de programas efetivos de conscientização e a precariedade na fiscalização e punição de irregularidades na forma de conduzir os veículos – tanto as motos como os demais. Soma-se a isso a falta manutenção das mesmas e a ausência de infra-estrutura urbana adequada a tal fluxo veicular. Finalmente, vale lembrar as péssimas condições de trabalho a que são submetidos os profissionais desse tipo de transporte, com carga horária apertada e exigência de desempenho que termina por colocar em risco a própria vida. Em São Paulo, em 2010, as estatísticas registraram a morte de 478 motoqueiros – mais de 1 por dia, quase 10 por semana.

Homicídios
As estatísticas relativas aos homicídios também são impressionantes em nosso País. Mas como nos habituamos às informações cotidianas a respeito das mortes, acabamos por perder um pouco a noção exata dos números e da realidade dramática das famílias e demais pessoas envolvidas. Um estudo consolidado para o Brasil inteiro, realizado por uma instituição especializada, é estarrecedor. Ali podem ser encontradas informações gerais e detalhadas por Regiões, Estados e Municípios.

Em 2010, o total de mortes por homicídios superou o total de mortes em acidentes de trânsito em 25%. Ou seja, foram assassinadas 50 mil pessoas ao longo do ano passado. Pois é, o número impressiona, mais uma vez! De acordo com as informações do SIM, durante os últimos 31 anos (1980 – 2010), houve 1,1 milhão de assassinatos no Brasil! Uma loucura com a qual fomos nos habituando ao longo do tempo, onde a cada dia são adicionados 137 novas mortes por esse tipo de crime. Feitas as contas, chega-se à taxa de um novo morto a cada 10 minutos.

Os telejornais, as notícias dos rádios, os meios de comunicação impressa, as páginas da internet, enfim, todos os veículos contribuem para informar os novos eventos e a sociedade acaba se conformando, com uma espécie de impotência. É uma reação compreensível, face à impossibilidade de solucionar ou intervir em tal quadro de natureza catastrófica. 

Os números relativos às mortes por assassinato em nossas terras revelam-se superiores, em termos de média anual, a um parte expressiva dos conflitos militares internacionais dos últimos anos. Ao longo das últimas 3 décadas, os mais de 30 mil assassinatos anuais aqui registrados foram mais elevados do que a média de mortos por ano na Guerra da Chechênia, de Angola e da intervenção estadunidense no Iraque, entre outros. Assim, talvez devêssemos reavaliar a tão propalada tradição pacifista de nosso País e de nosso povo. Na verdade, ela se esconde por trás de um cotidiano marcado pela violência sem limites e pela impunidade generalizada na apuração das responsabilidades.
As informações recolhidas permitem a construção de um indicador: a taxa de homicídios, com base no número de eventos por cada 100 mil habitantes. O mesmo parâmetro das epidemias apontado no início do artigo. A taxa para 2010 foi de 26,2. As taxas mais elevadas ficaram por conta do biênio 2002/2003, quando superaram a marca de 28 homicídios por 100 mil. Apesar dessa ligeira queda, os valores são muito elevados. E a tendência é preocupante. Por exemplo, ao longo das últimas 3 décadas, apesar da população brasileira ter crescido 60%, a taxa de homicídios cresceu bem mais e atingiu 124%. Por outro lado, a desagregação dos dados, demonstra uma estabilidade ou mesmo uma queda da taxa nas grandes metrópoles e um aumento expressivo nas regiões mais afastadas e cidades de menor porte. Assim, estaríamos face a uma espécie de “interiorização” dos homicídios.

Por outro lado, as informações oficiais confirmam a percepção intuitiva que se tem a respeito de maior incidência da juventude e negros nesse universo, provavelmente em razão de se constituírem em grupos de maior exposição aos fatores de risco e de marginalidade social e econômica. Os jovens (15 a 24 anos) apresentaram em 2010 uma taxa de 52,4 homicídios por 100 mil habitantes, enquanto o restante da população exibia uma taxa bem mais reduzida de 20,5. No que se refere à distribuição racial, a tendência reflete uma queda na taxa entre brancos e aumento entre negros. Ou seja, no período de 2002 a 2010, o número de assassinatos de brancos é reduzido de 19 mil para 14 mil. Já o total anual de homicídios de negros sobe de 27 mil para 33 mil no mesmo período.

Custo para toda a sociedade
Enfim, o quadro é bastante dramático. E isso tudo sem contar os elementos econômicos associados a tais fenômenos. Para além do um custo social e demográfico, há um imenso custo econômico envolvido em tal processo. É o caso dos custos do sistema de saúde, por exemplo. Um estudo do IPEA tentou quantificar esses valores para meados da década passada e chegou à estimativa de R$ 25 bilhões anuais como sendo a fatura total que o País tem que arcar apenas com acidentes de trânsito nas rodovias federais e estaduais, envolvendo despesas com saúde, depreciação dos veículos e equipamentos, horas não trabalhadas, entre outros. Pode-se imaginar qual seria o custo do total das mortes violentas!

A violência está cada vez mais incorporada em nosso tecido social. Como reconhecido pelos organismos que trabalham com o tema, as mortes violentas devem ser reconhecidas como uma verdadeira epidemia nacional. Além da tomada de consciência e do reconhecimento do fenômeno como um problema verdadeiro a ser combatido, torna-se urgente o estabelecimento de políticas públicas efetivas para enfrentar a questão e estabelecer metas para redução de números tão elevados quanto preocupantes.


27/12/2011

Abrindo o baú das ditaduras para construir um futuro de paz


Países da América do Sul ainda lidam de forma diferenciada com sua história recente. Diálogo com países como Alemanha, por exemplo, que enfrentou um passado inglório, é caminho para proteger os direitos humanos, aponta painel realizado em Berlim.


Associação Parque pela Paz Villa Grimaldi, em Santiago do Chile
Associação Parque pela Paz Villa Grimaldi, em Santiago do Chile
Manter o passado vivo para construir um futuro onde os direitos humanos serão sempre respeitados. Este foi o principal tema do debate intitulado "Cultura da memória", integrante de uma conferência sobre a América Latina realizada em Berlim no final de novembro.

Nas últimas décadas, as atrocidades cometidas pelas antigas ditaduras militares em diversos países da América Latina saíram das sombras e passaram a ser debatidas pela opinião pública.

Não apenas exclusividade do continente, o tópico está se tornando uma preocupação global em países democráticos. A conferência ressaltou o intercâmbio de alguns países latino-americanos com a Alemanha, que também é marcada por perseguições em sua história recente.

Memoriais para o futuro
Nos últimos anos, diversos países, como Chile, Argentina e Uruguai, criaram associações para relembrar e indenizar as vítimas. Essas iniciativas geralmente são associadas a lugares historicamente simbólicos. 

Nesses países, a sociedade civil tem um papel fundamental em manter essa memória viva. "O passado não é encarado apenas como algo a se lamentar, e sim um caminho para consertar as injustiças do presente", declarou Margarita Méndez, presidente da Associação Parque pela Paz Villa Grimaldi, antigo quartel militar que hoje é museu e memorial na região metropolitana de Santiago. Ela também integra a diretoria do museu da memória e direitos humanos da cidade.

Segundo Margarita Méndez, no Chile as vítimas e os ativistas de direitos humanos reconstroem a memória através de pesquisas e investigações com ex-prisioneiros e familiares de desaparecidos. "As Forças Armadas não fornecem nenhum documento para o auxílio da construção da nossa história recente", completou.

Mesmo assim, os governos democráticos não conseguiram criar reparações para a sociedade em conjunto, apenas para as vítimas. No Chile, há mais de mil processos correndo contra oficiais militares, contou. Para a ativista, um dos principais objetivos de associações e memoriais é manter essa memória viva para as novas gerações. Mais de 50% dos visitantes da Villa Grimaldi são estudantes. 
 
Comissão da verdade

Esse tipo de iniciativa tardou a acontecer no Brasil, mas hoje o país se ocupa da questão. Recentemente, a presidente Dilma Rousseff criou a Comissão Nacional da Verdade, que visa investigar as violações aos direitos humanos ocorridas no país entre 1946 e 1988. Durante dois anos, a comissão investigará locais, estruturas e instituições relacionadas a essas violações.

A nova comissão convocará, sem caráter obrigatório, vítimas e acusados de violações para depoimentos. Todos os arquivos do poder público também serão analisados porém, a comissão não terá o poder de punir ou recomendar que acusados de violar direitos humanos sejam punidos.

Memória x jogo de interesses
Outro país com uma relação muito particular com a memória é a Nicarágua. "Nos últimos 35 anos, tivemos nossa história constantemente reescrita e a memória propositalmente apagada", declarou Margarita Vinnini, historiadora da Universidade Nacional da Nicarágua.

Em 1978, o triunfo da revolução sandinista colocou fim a 42 anos de ditadura, o que gerou a guerra revolucionária e diversos conflitos internos. O país teve acesso à democracia neoliberal em 1990, depois da derrota do sandinismo e, mais recentemente, o triunfo eleitoral com aspirações populistas e religiosas de Daniel Ortega, eleito em 2006 e reeleito novamente nesse ano. 

Cada novo governo significava mudanças drásticas na economia, na sociedade e na estrutura do país. Em cada transformação, mudaram também os discursos políticos e houve o uso e abuso da reconstrução da memória e da identidade, cita.

"A memória se tornou um campo de batalha pública que envolvia propaganda eleitoral, meios de comunicação e políticas oficiais, e que se reflete em textos escolares, comemorações oficiais e a construção ou destruição de espaços de memória", declarou a historiadora. 

Aprendendo com o passado
A discussão ressaltou a importância não só do diálogo entre nações latino-americanas, mas também com países como a Alemanha. "Além de democracia, precisamos constantemente documentar nossa história e analisar os fatos de diferentes perspectivas", declarou Elke Gryglewiski, pesquisadora da Casa da Conferência de Wannsee. Hoje memorial e museu, o local histórico nos arredores de Berlim recebeu em 1942 a elite do comando nazista que decidiu sobre a deportação e o assassinato dos judeus na Europa. 

A instituição mantém há mais de dez anos diálogos com a Argentina e o Chile para trocar experiências e buscar maneiras efetivas de manter a história viva e imparcial. Outro ponto importante é o caráter pedagógico e educacional, ressalta a historiadora: "Na Alemanha, muitos jovens resistem em se interessar pelo passado, pois nossa história está carregada de implicações morais. Não podemos deixar isso acontecer. Temos que ensinar as novas gerações que direitos humanos não devem ser apenas um discurso, mas algo que temos que aprender e usar em nossa vida cotidiana".

A 'FILOSOFIA DA REVOLUÇÃO' DE CHE GUEVARA (Eduardo Mancuso)


A reflexão de Guevara sobre o socialismo não se limita unicamente a Cuba ou América Latina: ela é universal, mundial, internacionalista. Para o Che o verdadeiro socialista é aquele que considera sempre os grandes problemas da humanidade como seus problemas, que não se sente alheio a eles, muito pelo contrário.

Apropriar-nos de forma criativa da herança guevarista, resgatando a atualidade que esta conserva frente às grandes mudanças globais e as metamorfoses sociais, políticas e culturais que marcaram a passagem do século XX ao XXI, é um desafio bastante estimulante. Nas palavras do próprio Che, “se novos fatos determinam novos conceitos, não se tirará nunca sua parte de verdade daqueles que tenham passado.”

Muitos não percebem a atualidade do pensamento guevarista. Porém, quando nos debruçamos sobre ele, descobrimos que muitas das mudanças ocorridas nas últimas décadas, encontram respostas no legado do Che, tanto programáticas quanto estratégicas. A “filosofia da revolução” do Che é, nos dias de hoje, absolutamente contemporânea, tão vívida como a permanência icônica e universal de sua imagem.

“A real capacidade de um revolucionário se mede por saber encontrar táticas revolucionárias adequadas em cada mudança de situação, em ter presente todas as táticas e explorá-las ao máximo..”.

O intelectual cubano Luiz Salazar propõe uma tese muito interessante. Diz ele que voltar à obra do Che nos permite ver no significado de suas utopias as “verdades do futuro” (Vitor Hugo). Defende que podemos encontrar no acervo político do Che, novas “soluções revolucionárias”.

O socialismo para nós continua sendo pré-condição para que a humanidade possa constituir uma nova civilização, alternativa a barbárie moderna. E o Che ensinava: “Para construir o comunismo simultaneamente com a base material há que construir o homem novo.” Não devemos esquecer, também, que para o Che, “o dever de todo o revolucionário é fazer a revolução”, lutar por isso persistentemente. Para o Che, a construção do socialismo exige uma radical revolução democrática, participativa, além de uma grande revolução cultural.

A práxis revolucionária guevarista buscou sempre recuperar a essência subversiva dos clássicos do marxismo. Por exemplo, o maior marxista latino-americano da primeira metade do século XX, o peruano José Carlos Mariátegui, escrevia em 1928: “Contra uma América do Norte capitalista, plutocrática, imperialista, só é possível opor de maneira eficaz uma América, latina ou ibérica, socialista”. Quatro décadas mais tarde, Che Guevara retoma esta bandeira socialista e antiimperialista, concluindo sua famosa “Mensagem a Tricontinental” afirmando: “ou revolução socialista ou caricatura de revolução”!

Mas qual socialismo o Che defendia? Cada vez mais crítico nos seus últimos anos em relação às experiências socialistas “reais”, européia e chinesa, Guevara buscava um novo caminho para Cuba e para nossa América Latina. Para enfrentar esse desafio ele também coincidia com as idéias de Mariátegui, que havia declarado: “Não queremos, certamente, que o socialismo seja nas Américas calco e cópia. Deve ser criação heróica. Temos que dar vida, com nossa própria realidade, com nossa própria linguagem, ao socialismo indo-americano.”

Boa parte da reflexão do Che e de sua prática política, sobretudo nos anos 60, tinha como meta sair do impasse que a caricatura de socialismo burocrático do modelo soviético impunha aos povos na América Latina e no Terceiro Mundo.

Segundo Michael Lowy, “o motor essencial desta busca de um novo caminho – mais além de questões econômicas específicas – é a convicção de que o socialismo não tem sentido – e não pode triunfar – se não representa um projeto de civilização, uma ética social, um modelo de sociedade totalmente antagônico aos valores do individualismo mesquinho, do egoísmo feroz, da competição, da guerra de todos contra todos da civilização capitalista”.

Como lembra Lowy, o Che tinha perfeitamente claro que a construção do socialismo é inseparável de certos valores éticos. Na famosa entrevista de Guevara a um jornalista francês em julho de 1963, ele insistia: “o socialismo econômico sem a moral comunista não me interessa. Lutamos contra a miséria, mas ao mesmo tempo contra a alienação. (...) Se o comunismo passa por cima dos fatos de consciência, pode ser um modo de distribuição, mas não será mais uma moral revolucionária”. O Che sabia que se o socialismo tentasse competir com o capitalismo no terreno do adversário, o terreno do produtivismo e do consumismo, utilizando suas próprias armas – o mercado e a concorrência – estava condenado ao fracasso.

O socialismo para o Che era o projeto histórico de uma nova sociedade, baseada em valores de igualdade, solidariedade, livre discussão e ampla participação popular. Lowy salienta que tanto suas críticas crescentes ao modelo soviético quanto sua prática como dirigente político e sua reflexão teórica sobre a experiência cubana são inspirados por esta utopia revolucionária. Em seus escritos econômicos a questão da planificação socialista ocupa um lugar central, e nos seus últimos anos a concepção de democracia socialista na planificação começa a aparecer como essencial.

Quando critica o Manual de Economia Política da Academia de Ciências da URSS, Che Guevara avança um princípio democrático fundamental, capaz de colocar de cabelos em pé os burocratas stalinistas (e de outros tipos também): numa verdadeira planificação socialista é o próprio povo, os trabalhadores, as massas que devem tomar as grandes decisões econômicas.

Contra a monopolização das decisões por tecnocratas ou burocratas “comunistas”, o Che insistia na necessidade de uma verdadeira participação popular: os grandes problemas sociais e econômicos de uma sociedade são políticos e devem ser objeto de debate e decisão democrática pela maioria. Fica claro que a reflexão de Guevara sobre o socialismo não se limita unicamente a Cuba ou América Latina: ela é universal, mundial, internacionalista. Para o Che o verdadeiro socialista é aquele que considera sempre os grandes problemas da humanidade como seus problemas, que não se sente alheio a eles, muito pelo contrário.

Numa bela síntese apresentada por Michael Lowy no Fórum Social Mundial de Porto Alegre encontramos o “espírito” da filosofia da revolução guevarista : “O internacionalismo para Guevara – ao mesmo tempo modo de vida, fé profana, imperativo categórico e pátria espiritual – era inseparável da idéia mesmo de socialismo, enquanto humanismo revolucionário, enquanto emancipação dos explorados e oprimidos do mundo inteiro, numa luta sem tréguas nem fronteiras com o imperialismo e a ditadura do capital.”

E segundo Lowy, os herdeiros do Che, a esquerda marxista e revolucionária, nas últimas décadas, “aprendemos a enriquecer nossa idéia do socialismo com a contribuição do movimento das mulheres, dos movimentos ecológicos, das lutas de negros e indígenas contra a discriminação. Assim é o processo de construção do projeto socialista: não um edifício pronto e acabado, mas um imenso canteiro de obras, onde se trabalha para o futuro, sem esquecer as lições do passado.”

Ao fim e ao cabo, como disse o velho Marx, o mais importante é a luta.

Afinal, como gostavam de lembrar, realisticamente, tanto Lenin como Walter Benjamin: o capitalismo não vai morrer de morte natural.

Grande Fernando Pessoa

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso."

Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo. 
Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.

Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.