Sob o meu olhar

Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.

29/09/2012

No princípio era Portugal


Portugal
O Castelo de São Jorge foi utilizado como residência real por D. Afonso Henriques depois da reconquista de Lisboa aos mouros, em 1147
O sistema mundial em que vivemos – interestatal e capitalista – surgiu na Europa, e só na Europa, entre 1150 e 1450, de um longo conflito sistêmico entre “feudos” e “centros imperiais” de poder, que conseguiram transformar suas “economias naturais” em economias capitalistas mais poderosas do que a dos seus rivais. Neste período, a Península Ibérica cumpriu um papel decisivo, na formação do próprio sistema e no início da sua expansão para fora da Europa. Os reinos de Castela, Leon e Aragão, que se transformaram no núcleo político do Império Habsburgo, que dominou a Europa, durante o século XVI, sob a batuta de Carlos V e Felipe II. Mas antes dos espanhóis, foi o reino de Portugal que se estruturou primeiro, como estado nacional, e foi ele também que liderou o primeiro século da expansão mundial da Europa, depois da sua conquista de Ceuta, em 1415.
Portugal nasceu de um pequeno “feudo” – situado entre os rios Minho e Douro – que se rebelou contra Leon e Castela, em 1143, e depois travou uma guerra expansiva de mais de dois séculos, em duas frentes: contra os muçulmanos, ao sul, e contra os espanhóis, ao leste. Foi neste período de guerra quase contínua com os “mouros” e os “castelhanos” que se formou o estado português, depois da “reconquista” de Lisboa, em 1147, e da expulsão definitiva dos árabes, do Algarve, em 1249; e depois da assinatura do Tratado de Paz, de 1432, referendando a separação e o reconhecimento mútuo entre Portugal e Castela, algumas décadas após a Revolução de Avis, de 1385. Mas foi só no século seguinte à expulsão mulçumana de 1249, que Portugal criou as estruturas legais, tributárias e administrativas do seu estado moderno.
O mesmo estado que seguiu se expandindo, durante mais um século e meio, depois da paz com os castelhanos, até construir o primeiro grande império marítimo da história moderna. O impulso inicial desta expansão “para fora” não parece ter tido um objetivo nem um sucesso mercantil imediato, e só promoveu a ocupação e a colonização dos territórios conquistados, depois de 1450, na Ilha da Madeira. Além disto, o empreendimento português contou com ajuda externa, mas se financiou sobretudo através da capacidade tributária do novo estado, e da riqueza de suas Ordens Militares religiosas – em particular, os Templários, sucedidos pela Ordem de Cristo, depois do seu fechamento em 1312 – que forjaram em conjunto uma verdadeira máquina de guerra, conquista e tributação.
Na altura de 1147, a economia portuguesa era local, e o seu comércio era feito em espécie. Mas depois de 1249, houve um aumento constante da circulação nacional de mercadorias, a partir da reforma monetária e do tabelamento de preços, promovido por D. Afonso III, na década de 1250.
Em 1293, D. Diniz criou a primeira Bolsa de Mercadorias do país, com um sistema de seguros para os navios e cargas portuguesas, e durante toda a segunda metade do século XIII, foram criadas mais de 40 feiras comerciais, responsáveis pela ativação de um incipiente mercado nacional. Até o século XVI, o estado português foi o maior proprietário de terras do país, e atuou como uma espécie de “banco de financiamento” das atividades econômicas públicas e privadas. Foi só em 1500, que o governo português conseguiu criar o seu sistema de títulos da divida pública consolidada, e só foi depois de 1540 que esta espécie primitiva de “capitalismo de estado” foi cedendo lugar ao desenvolvimento de um capitalismo privado de grandes companhias mercantis. Entretanto, este processo foi interrompido em 1580, pela incorporação de Portugal pelo império espanhol de Felipe II, e depois, pela submissão diplomática, financeira e comercial definitiva de Portugal, à Holanda e à Inglaterra, a partir de 1640.
Esta história pioneira de Portugal deixou algumas lições sobre a formação do sistema inter-estatal e do próprio capitalismo:
i. O primeiro estado nacional europeu já nasceu dentro de um sistema de poderes competitivos;
ii. Suas fronteiras territoriais, sua unidade política, e sua identidade nacional foram construídas por duas guerras que duraram mais de 200 anos;
iii. Estas guerras “nacionais” se prolongaram imediatamente, num movimento de expansão “para fora”, na direção da África, Ásia e América, que durou ainda mais um século e meio;
iv. Estas guerras e conquistas não tiveram inicialmente um objetivo prioritariamente mercantil, mas assim mesmo, no longo prazo, tiveram um papel decisivo na criação e expansão de uma economia de mercado e de um capitalismo nacional incipiente;
v. Neste período, esta economia nacional de forte cunho estatal, não alcançou a se “privatizar”, nem chegou a criar um sistema nacional de bancos e crédito capaz de mobilizar o capital financeiro português, o segredo do sucesso posterior da Holanda e da Inglaterra;
vi. Por fim, se pode dizer que Portugal teve um papel decisivo no “big-bang” do “sistema interestatal capitalista”, que está vivendo uma nova explosão expansiva neste início do século XXI.
Por José Luis Fiori - Correio do Brasil

“O Dia que Durou 21 anos” resgata a participação dos Estados Unidos na Ditadura Militar no Brasil


Discurso do presidente João Goulart no comício da Central do Brasil de 13 de março de 1964
No Festival do Rio 2012, nove títulos disputarão o troféu da Première Brasil de melhor documentário nacional, em formato longa-metragem. Entre os competidores estãoDossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle, O Dia Que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares, Rio Anos 70, de Maurício Branco e Patrícia Faloppa, entre outros.
O Dia que Durou 21 anos traz revelações históricas de telegramas confidenciais da Casa Branca, da CIA e do Exército dos EUA. Com extenso material de arquivo e Áudios originais da Casa Branca, o filme mostra claramente como a conspiração contra João Goulart teve início em 1962.
O filme documentário trata da contradição entre os valores de justiça, igualdade e liberdade política, tal como defendidos pelo Estados Unidos. Com foco no golpe militar do Brasil que em 1964 derrubou o presidenteJoão Goulart democraticamente eleito pelo voto popular.
O personagem principal do filme é Lincoln Gordon, embaixador dos Estados Unidos no Brasil, esteve no centro das operações norte-americanas que apoiaram o golpe de Estado de 1964, desde a coordenação das conexões entre Vernon Walters e os conspiradores militares, até o lobbypor uma força-tarefa naval dos Estados Unidos que interviria no caso da explosão de uma guerra civil entre forças pró e anti-Goulart.
Apesar disso, naquele momento, e nos anos seguintes, Gordon insistiu em que o golpe de Estado tinha sido “100% brasileiro”. Através de documentos do Departamento de Estado norte-americano, discursos de Gordon, testemunhos orais, e de uma entrevista em 2005 com o embaixador, este artigo analisa as diversas justificativas que Gordon ofereceu ao longo dos últimos quarenta anos para explicar por que apoiou a derrubada de Goulart e concedeu suporte incondicional ao novo regime militar.
Brasil, anticomunismo e a guerra fria
Para compreender a relação de Gordon com o Brasil durante o período em que foi embaixador, é preciso enquadrá-la no contexto da Guerra Fria. Conforme entrevista concedida por Thomas E. Skidmore: “Lincoln Gordon era realmente um produto da Guerra Fria, e sua missão era, como ele mesmo afirmou, garantir que o Brasil não se tornasse comunista”.
Assim como muitos de seus pares, Gordon via o mundo em branco e preto: se um país não estava alinhado com os Estados Unidos, era aliado da União Soviética. Consequentemente, as preocupações demonstradas por Gordon em relação ao clima político brasileiro, enquanto esteve à frente da embaixada, refletem esses valores. Por exemplo, Gordon refere-se ao golpe que usurpou o mandato legal de Goulart como “Revolução”, utilizando a mesma terminologia dos militares. Os conspiradores são chamados de democráticos, apesar de seus propósitos extralegais.
Infelizmente, Gordon não reavaliou sua visão míope do golpe ao longo da sua carreira. Desde 11 de setembro de 2001, Gordon teve sua posição reforçada pela retórica antiterrorista prevalecente no governo Bush e  pela perigosa tendência de transferir para a política a lógica simplista do amigo-inimigo. Nem sempre quem não está com você, está com os “inimigos”, ou vice-versa.
Numa correspondência enviada ao secretário de Estado Dean Rusk, no dia 12 de agosto de 1963, Gordon explicita seu medo de um iminente golpe do presidente Goulart que, de acordo com a sua percepção, seria sucedido pela tomada do poder pelos comunistas. Gordon: Parece-me cada vez mais claro que o objetivo de Goulart é perpetuar-se no poder através de uma repetição do golpe de Vargas em 1937, instaurando um regime semelhante ao peronismo, com seu extremo nacionalismo antiamericano.
Para reforçar sua tese, Gordon enviou a Wasdhigton um relato enviesado da situação política brasileira. Ele alegou que Goulart tinha se engajado em “uma guerra aberta ou secreta contra (o Congresso, as Forças Armadas, a imprensa, governadores poderosos, e conselheiros moderados, e os Estados Unidos)”.
Gordon criou a imagem comunista de Goulart usando como argumento as Reformas de Base em especial questão da reforma agrária, comparando Brasil com Cuba o que provocava arrepios em Washington e era anunciado com verdade nos jornais e rádios do Brasil.
No dia 1 de Abril de 1964 João Goulart é derrubado por um movimento militar que não encontrou resistência e por um conresso nacional que em menos de 24 horas legitimou sua saída do poder mesmo ele estando ainda no Brasil. NO dia 10 de Abril o general Castello Branco assumiu cassando mandatos políticos, realizando prisões a todos aqueles considerados comunistas e subversivos. Castello cancelaria no mesmo ano as eleições presidenciais de 1964 mantendo a hegemonia militar no poder. Após Castello, assumiu o general Costa e Silva que com o AI-5 deixou bem claro qual eram as regras da Ditadura , num regime de opressão que continuou com os generais Médici, Geisel e Figueiredo na presidência do Brasil.
No final de 1969,o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, no qual o jornalista Flávio Tavares foi um dos presos políticos libertados, denunciou a ditadura brasileira para a mídia internacional que teve acesso as torturas. Esta denuncia levou membros da oposição brasileira e forças da Igreja progressista, acadêmicos e ativistas norte-americanos, e também com alguns brasileiros residentes nos Estados Unidos, para denunciar a tortura no Brasil.Em uma das primeiras campanhas publicou uma série de artigos em diversos jornais progressistas e liberais, documentando a expansão do uso da violência física contra os oponentes do regime.
Correio do Brasil

Lúcia Poço, operária comunista: sua luta não foi em vão


Em 1982, trinta anos atrás, no mês de setembro, faleceu, com apenas 27 anos de idade, a combativa, lúcida, ousada e corajosa militante comunista da capital de São Paulo. Nascida de uma família operária em 18 de maio de 1955, Maria Lúcia Poço começou a trabalhar aos 12 de idade e aos 17 já militava no movimento operário. 


Por Joel Batista - Portal Vermelho

Arquivo pessoal
Lúcia Poço
Lúcia Poço, uma vida em defesa dos direitos dos trabalhadores.

Na época iniciou sua militância na Juventude Operária Católica (JOC), entre os anos 1972/75. Em 1975, aos 20 anos, filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (naquele tempo, Lúcia morava na zona leste da capital, no bairro Burgo Paulista) e se incorporou ao PCdoB junto a mais outros tantos operários que adentraram nas fileiras comunistas.

Participou ativamente da luta pela queda do regime militar atuando nas mais diversas frentes. Lutou ao lado do movimento contra a carestia, da campanha pela anistia, do movimento de mulheres. Teve grande atuação classista por meio da oposição sindical da categoria metalúrgica de São Paulo. Foi uma das organizadoras do 1º Congresso da Mulher Metalúrgica, realizado de 31 de agosto a 2 de setembro de 1979, fato marcante na época, que contou com a presença na mesa da recém-anistiada política e ex-guerrilheira do Araguaia, Elza Monerat.

Lúcia foi uma das oradoras, em outubro deste mesmo ano, na assembléia que reuniu seis mil tabalhadores(as) na Rua do Carmo, quando foi deflagrado o início do movimento grevista que duraria onze dias. Era operária da Telefunken e fazia parte do comando de greve. Junto com seus companheiros, enfrentou uma intensa repressão policial, ocasião em que ela e centenas de grevistas foram presos nas portas de fábricas. Nesta batalha foi assassinado o operário Santo Dias da Silva, na porta da empresa Silvanya, zona sul da capital. 

Amigos de Lúcia contam que um fato é inesquecível entre outros tantos: onze pessoas distribuíam panfleto de apoio ao movimento grevista na porta de determinada empresa quando o comando policial repressor e autoritário as abordou e queria levar duas pessoas para a delegacia: Lúcia e os companheiros tomaram, por solidariedade e união, a seguinte decisão: “já que é assim, vamos todos nós!”. O comandante policial não gostou mas pediu outra viatura e lá se foram para a delegacia...

Os anos 80

No biênio 1980/1981, Lúcia Poço foi presidente do Centro de Cultura Operária (CCO), entidade que funcionava no bairro Bela Vista e que era frequentada por operários, lideranças do movimento popular e intelectuais. 

Na avaliação de dirigentes partidários da época, Lúcia era considerada a principal dirigente mulher e operária nesta fase, entre o final dos anos 70 e início dos anos 80. Fazia parte do secretariado do comitê municipal do PCdoB, ainda no período da ilegalidade, que só se tornaria legal a partir de 1985, quando foi derrotado o regime militar instaurado em 1964.

Conheci Lúcia Poço no início de 1981, quando as direções nacional, estadual e municipal do partido se empenhavam em fazer uma abordagem política concreta junto aos metalúrgicos da capital, em torno do documento “Por um Movimento Operário Combativo, Unido e Consciente”. Fruto deste debate viria a ser constituída a corrente sindical classista nos metalúrgicos denominada União Metalúrgica. 

Lúcia teve um papel destacado na discussão com a militância em torno deste documento e do debate de idéias que o acompanhou, interna e externamente. Nas eleições para o sindicato dos metalúrgicos de São Paulo em 1981, a União Metalúrgica constituiu e organizou a Chapa 3, tendo como candidato a presidente o então deputado federal Aurélio Peres, que era ferramenteiro da fábrica de bicicletas Calói, região de Santo Amaro. Também fiz parte desta chapa, que não foi vencedora, mas jogou grande papel no debate político e de idéias com a categoria, que ajudou o sindicato a avançar e melhorar a relação sindical com os metalúrgicos paulistanos.

Em 1982, infelizmente, Lúcia veio a falecer, muito jovem, de um câncer estomacal. Nesta fase difícil, apesar de ter passado por operação cirúrgica, mas por espírito aguerrido, participou de assembléia de campanha salarial do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, no cine Roxi, no Brás. Mesmo estando em dificuldades físicas, participava ao lado de sua classe. Vencida pelo câncer, a combativa militante faleceu em 18 de setembro de 1982.

Combatividade

Apesar de enfrentar as agruras da doença, Lúcia jamais deixou de cumprir suas tarefas no partido durante a enfermidade e enfrentou de forma digna sua doença até o final. Era comovente vê-la na Praça da Sé, em meados de 1982, em comícios de protestos contra o regime militar e anticapitalistas, usando lenço na cabeça, por causa da quimioterapia, mas sempre altiva e animada.

Seu corpo foi velado no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Na hora de seu sepultamento os presentes bradavam “companheira Lúcia você está presente !”. Para o cemitério afluíram seus muitos parentes, mas também uma grande quantidade de pessoas que a família de Lúcia não conhecia: eram sindicalistas, gente dos movimentos populares, líderes estudantis, religiosos, dirigentes partidários e parlamentares que, em sua grande maioria, eram militantes do PCdoB, partido que ainda não tinha atuação legalizada. Fizeram nesta homenagem derradeira muitos elogios, ressaltando a trajetória curta, porém de muita responsabilidade nas lutas que travou como militante e dirigente comunista em defesa dos ideais maiores da classe e do povo. 

Foi neste momento especial, ímpar, de grande emoção e solidariedade que seu irmão Gregório Poço (que em 1997 se tornaria presidente do sindicato dos condutores de veículos de SP e hoje presidente do CMTC Clube) decidiu, junto com seu pai Roque Poço, a se filiar ao partido, convencidos que a partir daí carregariam a bandeira socialista e comunista de luta que a irmã e filha tinha carregado com muita honra. 

Camaradas, amigos, democratas, intelectuais progressistas, trabalhadores em geral: precisamos resgatar nossos valorosos combatentes, como é o caso de Maria Lúcia Poço, como exemplo de espírito de luta, companheirismo, coragem e defesa das ideias avançadas. Para que no presente e também no futuro se conheça a trajetória da militante consciente que foi Lúcia Poço.

Maria Lúcia Poço: nossa homenagem, nossa saudade. Sua luta não foi em vão! Você está presente! 

Dizer "sim", dizer "não" (Lya Luft)


A história mais difícil de escrever é a nossa própria, complexa, obscura, inocente ou perversa – bem mais do que são as narrativas ficcionais.

Brinquei muito tempo com a ideia de dizer “sim” ou “não” a nós mesmos, aos outros, à vida, aos deuses, como parte essencial dessa escrita de nosso destino – com os naturais intervalos de fatalidades que não se podem evitar, mas têm de ser enfrentadas.

Acredito em pegar o touro pelos chifres, mas vezes demais fiquei simplesmente deitada e ele me pisoteou com gosto. Afinal, a gente é apenas humano.

Nessa difícil história nossa, dizer “sim” ao negativo, ao sombrio, em lugar de dizer “sim” ao bom, ao positivo, é o desafio maior.

Pois a questão é saber a hora de pronunciar uma ou outra palavra, de assumir uma ou outra postura. O risco de errar pode significar inferno ou paraíso.

Também descobri (ou inventei?) isso de existir um ponto cego da perspectiva humana, em que não se enxerga o outro mas apenas um lado dele: seu olho vazado, sua boca cerrada, seu coração amargo. Sua alma árida, ah…

O ponto cego das nossas escolhas vitais é aquele onde a gente pode sempre dizer “sim” ou “não”, e nossa ambivalência não nos permite enxergar direito o que seria melhor na hora: depressa, agora. O ponto mais cego é onde a gente não sabe quem disse “não” primeiro.

E todos, ou os dois, deviam naquele momento ter dito “sim”.

Viver é cada dia se repensar: feliz, infeliz, vitorioso, derrotado, audacioso ou com tanta pena de si mesmo. Não é preciso inventar algo novo.

Inventar o real, o que já existe, é conquistá-lo: é o dom dos que não acreditam só no comprovado, nem se conformam com o rasteiro.

Nosso drama é que às vezes a gente joga fora o certo e recolhe o errado.

Da acomodação brotam fantasmas que tomam a si as decisões: quando ficamos cegos não percebemos isso, e deixamos que a oportunidade escape porque tivemos medo de dizer o difícil “sim”.

O “não” é também um ponto cego por onde a gente escorre para o escuro da resignação.

O ponto mais cego de todos é onde a gente nunca mais poderá dizer “sim” para si mesmo. E aí tudo se apaga. 

Mas com o “sim” as luzes se acendem e tudo faz sentido. 

Dizer “sim” a si mesmo pode ser mais difícil do que dizer “não” a uma pessoa amada: é sair da acomodação, pegar qualquer espada – que pode ser uma palavra, um gesto, ou uma transformação radical, que custe lágrimas e talvez sangue – e sair à luta.

Dizer “sim” para o que o destino nos oferece significa acreditar que a gente merece algo parecido com crescer, iluminar-se, expandir-se, renovar-se, encontrar-se, e ser feliz.

Isto é: vencer a culpa, sair da sombra e expor-se a todos os riscos implicados, para finalmente assumir a vida.

Fazer suas escolhas, assinar embaixo, pagar os preços…e não se lamentar demais.

Porque programamos o próprio destino a cada vez que, num tímido murmúrio ou num grande grito, a gente diz para si mesmo: “Sim!”


28/09/2012

Cuando la Literatura está vedada para la mujer (María Merino)


Muchos ámbitos de la vida, en un tiempo pasado, estuvieron vedados para la mujer por considerarse que aquella no tenía las capacidades ni la fortaleza o la inteligencia para poder formar parte de los mismos. Estas creencias, unidas a las fuertes convicciones morales que consideraban que cualquier fémina sólo debía dedicarse a cuidar a su esposo y a sus hijos, fueron las que determinaron que, por ejemplo, la Literatura no se considerase una profesión para el género femenino.
Esa prohibición directa e indirecta, al mismo tiempo, fue la que trajo consigo que a lo largo de los siglos muchas fueran las mujeres que, a pesar de sus innatas capacidades narrativas, tuvieran que esconder sus escritos para no recibir las burlas o el desprecio de su entorno. Eso fue lo que le ocurrió, por ejemplo, a la ahora afamada Jane Austen (1775 – 1817) de quien se sabe que al principio de su carrera se ocultaba cuando escribía pues no quería que se rieran de ella.
Y eso que contaba con un talento innato que posteriormente conseguiría que le fuera reconocido gracias a libros como Orgullo y Prejuicio. En el año 1813 fue cuando publicó este trabajo en el que se cuenta como la vida de cinco hermanas sufre un revés cuando a la región llega el apuesto señor Darcy. Y es que el amor, las moralidades impuestas por la sociedad, los malentendidos y el escándalo se convertirán en protagonistas de su día a día.
Literatura vs Sociedad
Contemporánea a Jane Austen, y por tanto sufridora al igual que ella de ese rechazo a que la mujer fuera escritora, es Fanny Burney (1752 – 1840) quien sufrió castigos por realizar narraciones. En concreto, se sabe de ella que al ser descubierta se llevó a cabo la quema de todos aquellos textos que había realizado y fue obligada a realizar labores de costura como penitencia.
No obstante, a pesar de todo ello, al final consiguió realizar algunos títulos como es el caso de Evelina. En el año 1778 fue cuando vio la luz dicha novela que toma como escenario el Londres del siglo XVIII, una época peligrosa para cualquier mujer pues estaba sometida a los valores morales impuestos por la época e incluso al snobismo.
Sin embargo, en la historia que aquí se nos narra las féminas aparecen como auténticas heroínas que consiguen superar con lucha y constancia aquellos elementos que las oprimían e incluso también posibles agresiones de tipo sexual.
En la sombra, al igual que las anteriores autoras, fue también como se vio obligada a escribir Katherine Anne Porter (1890 – 1980). De ahí que tardará casi dos décadas en hacer uno de sus libros pues era continuamente interrumpida y tenía que esconder lo escrito hasta el momento.
Sin embargo, a pesar de ello aquella logró un gran prestigio y una serie de reconocimientos, como el Premio Pullitzer en 1966, que dejaban patente su calidad literaria.
Entre sus obras más significativas se encuentra su antología de Cuentos completos (1965) donde realiza un repaso por historias que muestran cómo era la vida en ese momento al sur de Estados Unidos. Una imponente autora a la que alabó incluso el gran Truman Capote quien la consideraba una de las mejores narradoras del siglo XX.

É possível sonhar!


Raimundo Araújo
Por Paulo Silveira - Correio da Cidadania

“Aí, Paulão, vou nessa”.

Domingo ficamos todos mais pobres, uns mais outros menos, mas com certeza todos nós perdemos.

Perdemos um amigo, um cúmplice, alguém que torcia e se contorcia pelo sucesso alheio.

Perdemos um ser solidário que, em sua passagem por aqui, nos mostrou que era possível sonhar, mesmo aquele sonho que nos parece impossível. Que sonhar alimenta a alma, o espírito, a vida, independentemente de sua realização, de sua conexão com a realidade.

Alguém que necessariamente não era feliz, mas que sabia fazer o outro ficar menos triste com sua palavra amiga, com seu colo aconchegante, com seu olhar brilhante de quem vê a luz no fim do túnel, mesmo quando para todos sobressaía a escuridão.

Não se foi ninguém famoso, nenhuma celebridade, mas alguém que conseguiu reunir em sua despedida desde o agricultor mais simples ao intelectual de destaque, que de velho a crianças as lágrimas se misturavam com os sorrisos fartos ao se lembrarem de suas histórias, de passagens que cada um de nós teve o privilégio de dividir com ele.

Não, não éramos muitos, até porque foi tudo tão de repente, sem nenhum aviso prévio, aliás, como tudo o que fez em sua vida, que poucos de nós tivemos tempo de sermos avisados e lá comparecer.

A expressão estampada na face de cada um de nós era de incredulidade. Que brincadeira mais sem graça foi essa. Com que direito ele se foi sem se despedir de cada um de nós?

Quem agora vai distribuir esperança com a simplicidade e a naturalidade com que ele fazia?

Pois é, Raimundinho se foi.

Se vida houver depois dessa e um dia eu o encontrar de novo, vou lhe roubar um abraço como fazia de vez em quando e vou exigir meu sorriso de volta.

Até breve, amigo, e obrigado por ter feito parte de minha vida.

Escolhas de uma vida


A certa altura do filme Crimes e Pecados, o personagem interpretado por Woody Allen diz: "Nós somos a soma das nossas decisões".

Essa frase acomodou-se na minha massa cinzenta e de lá nunca mais saiu. Compartilho do ceticismo de Allen: a gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso.

Desde pequenos aprendemos que, ao fazer uma opção,estamos descartando outra, e de opção em opção vamos tecendo essa teia que se convencionou chamar "minha vida". 

Não é tarefa fácil. No momento em que se escolhe ser médico, se está abrindo mão de ser piloto de avião. Ao optar pela vida de atriz, será quase impossível conciliar com a arquitetura. No amor, a mesma coisa: namora-se um, outro, e mais outro, num excitante vaivém de romances. Até que chega um momento em que é preciso decidir entre passar o resto da vida sem compromisso formal com alguém, apenas vivenciando amores e deixando-os ir embora quando se findam, ou casar, e através do casamento fundar uma microempresa, com direito a casa própria, orçamento doméstico e responsabilidades.

As duas opções têm seus prós e contras: viver sem laços e viver com laços...

Escolha: beber até cair ou virar vegetariano e budista? Todas as alternativas são válidas, mas há um preço a pagar por elas.

Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses, ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana, ter filhos quando se está bem-disposto e não tê-los quando se está cansado. Por isso é tão importante o auto conhecimento. Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho: Ninguém é o mesmo para sempre.

Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar, e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido. A estrada é longa e o tempo é curto.Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as conseqüências destas ações.

Lembrem-se: suas escolhas têm 50% de chance de darem certo, mas também 50% de chance de darem errado. A escolha é sua...!

26/09/2012

Ditadura matou 1.196 camponeses, mas Estado só reconhece 29



Financiada pelo latifúndio, a ditadura “terceirizou” mortes e desaparecimentos forçados de camponeses. O resultado disso é uma enorme dificuldade de se comprovar a responsabilidade do Estado pelos crimes. Estudo inédito da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência revela que 97,6% dos 1.196 camponeses vítimas do regime foram alijados do direito à memória, à verdade e à reparação. Os dados serão apresentados à Comissão Nacional da Verdade para embasar investigações que possam alterar este quadro de exclusão.

Brasília - Financiada pelo latifúndio, a ditadura “terceirizou” prisões, torturas, mortes e desaparecimentos forçados de camponeses que se insurgiram contra o regime e contra as péssimas condições de trabalho no campo brasileiro. O resultado disso é uma enorme dificuldade de se comprovar a responsabilidade do Estado pelos crimes: 97,6% dos camponeses mortos e desparecidos na ditadura militar foram alijados da justiça de transição. “É uma exclusão brutal”, afirma o coordenador do Projeto Memória e Verdade da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência, Gilney Viana, autor de estudo inédito sobre o tema.

O estudo revela que pelo menos 1.196 camponeses e apoiadores foram mortos ou desaparecidos do período pré-ditadura ao final da transição democrática (1961-1988). Entretanto, os familiares de apenas 51 dessas vítimas requereram reparações à Comissão de Anistia. E, destes, somente os de 29 tiveram seus direitos reconhecidos. Justamente os dos 29 que, além de camponeses, exerceram uma militância político-partidária forte, o que foi determinante para que fossem reconhecidos como anistiados. “Os camponeses também têm direito à memória, à verdade e à reparação”, defende Viana. 

Segundo ele, dentre as 1.196 mortos e desaparecidos no campo, o estudo conseguiu reunir informações sobre 602 novos casos excluídos da justiça de transição, suficientes para caracterizá-los como “graves atentados aos direitos humanos”. Esta caracterização é condição primordial para que sejam investigados pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Segundo Gilney, o objetivo é alterar o quadro atual e permitir que essas vítimas usufruam dos mesmos direitos dos militantes urbanos, estabelecidos pela Lei 9.140, de 4/12/1995, que reconheceu como mortos 136 desaparecidos e criou a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), com mandato para reconhecer outros casos e promover reparações aos familiares que assim o requererem.

As novas vítimas que poderão entrar para a lista oficial de mortos e desaparecidos políticos do país são 75 sindicalistas, 14 advogados, sete religiosos, 463 lideranças de lutas coletivas e 43 trabalhadores que tombaram em conflitos individuais. “Os dados revelam a ponta de um iceberg de um conjunto bem amplo de perseguidos políticos pela ditadura militar até agora pouco estudado”, acrescenta Viana. 

Terceirização dos crimes
Destes 602 casos, em apenas 25% é possível comprovar a efetivação de inquérito policial e, somente em 5%, desfecho judicial. Ainda assim, o estudo conseguiu comprovar a ação direta de agentes de estado em 131 casos, o que facilita o reconhecimento deles como vítimas da ditadura. O problema é que em 471, ou 85% dos casos, as evidências apontam para o fato de que os crimes foram cometidos por agentes privados, ainda que sob a anuência dos representantes da ditadura. 

“O Estado se omitiu, encobertou e terceirizou a repressão política e social no campo, executada por jagunços, pistoleiros, capangas e capatazes, a serviço de alguns fazendeiros, madeireiros, empresas rurais, grileiros e senhores de engenhos, castanhais e seringais. Esta hipótese explicativa principal é compatível com o papel importante que a classe dos latifundiários, fazendeiros, senhores de engenho, castanhais e seringais tiveram no golpe, na sustentação da ditadura e na coligação de forças políticas que fizeram a transição”, diz o estudo.

Apesar da dificuldade, Viana avalia que a CNV tem poderes para incluí-los no escopo de investigados. Segundo ele, o Art. 1º da Resolução nº 2, de 20/8, define que caberá ao órgão “examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas (...) por agentes públicos, pessoas a seu serviço, com apoio ou no interesse do Estado”. “Isso incluiu os crimes realizados pelos agentes do latifúndio em concurso com os da ditadura”, observa. 

Comissão Camponesa
Embora o estudo da SDH tenha sido concluído, as mortes e desaparecimentos dos demais camponeses já identificados pelo órgão continuarão sendo apuradas, agora pela Comissão Camponesa pela Anistia, Memória, Verdade e Justiça, criada durante o Encontro Unitário, que reuniu, em agosto deste ano, em Brasília, 37 entidades de camponeses, trabalhadores e militantes dos direitos humanos. 

No documento final do encontro, as entidades assumiram o compromisso de “lutar pelo reconhecimento da responsabilidade do Estado sobre a morte e desaparecimento forçado de camponeses, bem como os direitos de reparação aos seus familiares, com a criação de uma comissão camponesa pela anistia, memória, verdade e justiça para incidir nos trabalhos da Comissão Especial sobre mortos e desaparecidos políticos, visando a inclusão de todos afetados pela repressão”.

A Comissão, que conta com o apoio da SDH, já se reuniu duas vezes para definir os eixos de luta, buscando, inclusive, conhecer a experiência na reparação de camponeses pelas comissões da verdade de outros países. “Nos encontramos, por exemplo, com o ativista Eduardo Gonzalez, que foi membro da Comissão da Verdade do Peru, onde muitos camponeses foram reconhecidos como vítimas da ditadura”, conta Viana. 

A Comissão Camponesa já se reuniu também com membros da CNV, em especial a psicanalista Maria Rita Kehl, responsável pelo grupo de investigação dos crimes cometidos pela ditadura contra os camponeses.

Islã e liberdade de expressão


Por Frei Betto - Correio da Cidadania

“Inocência dos muçulmanos” é o título do filme usamericano dirigido por um tal Sam Bacile, que difama o profeta Maomé e ofende todos aqueles que professam a fé muçulmana.

Quem é Sam Bacile? Não se sabe. O diretor do filme, talvez temendo represálias, se escondeu sob o anonimato. Há suspeitas de que ele e o produtor Nakoula Basseley Nakoula, cristão copta que vive na Califórnia, sejam a mesma pessoa.

As cenas do filme vão da grosseria à pornografia. Num dos trechos diz uma velha: “Tenho 120 anos. Nunca conheci um assassino criminoso como Maomé. Mata homens, captura mulheres e crianças. Rouba caravanas. Vendi meninos como escravos depois que ele e seus homens abusaram deles”.

Conhece um cristão que gostaria de ouvir algo parecido a respeito de Jesus Cristo? Ou um judeu, a respeito de Moisés ou Davi?

Tão logo o filme foi divulgado pela internet, uma onda de protestos se levantou nos países muçulmanos. O embaixador dos EUA na Líbia foi assassinado. Representações ocidentais foram depredadas e incendiadas no Egito, na Tunísia, na Indonésia, no Irã, no Iêmen e em Bangladesh.

O filme de Sam Bacile é, sim, uma grave ofensa a todos que creem em Maomé como portador de revelações divinas. Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA, classificou o filme como “repugnante e condenável”, mas acrescentou que os EUA devem respeitar a liberdade de expressão...

Suponhamos que se jogasse na internet um filme mostrando Monica Lewinsky fazendo sexo oral com Bill Clinton. Como reagiria Hillary? Liberdade de expressão?

E se o filme mostrasse Obama sendo sodomizado por Bin Laden ou a Estátua da Liberdade transando com Abraham Lincoln, qual seria a reação do governo e do povo dos EUA? Respeitar a liberdade de expressão?

Por que a família real britânica não segue a mesma lógica de Hillary Clinton e suspende o processo judicial contra a Closer, revista francesa que publicou fotos da princesa Kate Middleton fazendo topless numa praia particular? Não há que respeitar a liberdade de expressão?

Toda liberdade tem limites: o respeito à dignidade e aos direitos alheios. Ninguém é livre para furar filas, sonegar impostos, ofender a progenitora de quem quer que seja. Certas atitudes negativas podem até ser legais, como produzir filmes pornográficos, mas são indecentes e injustas. Como reagiriam os cariocas se, ao acordar, vissem o Cristo do Corcovado com o rosto encoberto pela máscara do diabo? Liberdade de expressão?

Desde a queda das torres gêmeas, em 2001, os EUA incutem em sua população profundo preconceito aos muçulmanos. Esse caldo de cultura favorece produções cinematográficas como a de Sam Bacile.

Em vez de enviar fuzileiros para guardar as representações diplomáticas estadunidenses no exterior, a Casa Branca deveria pedir solenemente desculpas aos muçulmanos e retirar o filme de circulação.

A liberdade deve, necessariamente, ser contextualizada. Pode-se ir à praia de fio dental ou de sunga. Não ao trabalho ou à igreja. Hoje, posso criticar os deuses do Olimpo grego e a promiscuidade sadomasoquista em que viviam. Mas com certeza seria gravíssimo se eu o fizesse em Atenas quatro séculos antes de Cristo.

A Constituição Brasileira é primorosa quando trata da liberdade de expressão. Reza em seu artigo 5º, Inciso IV: “É livre a manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato”.

Por que Sam Bacile se esconde sob anonimato? Porque sabe ter cometido uma grave ofensa e não deseja arcar com as consequências. 

A busca da verdade é uma ação de transformação do presente


Por Edson Teles - Blog da Boitempo.
O consenso, elemento essencial da transição brasileira, negou caráter público à memória dos atos violentos do Estado – publicidade que se viu reduzida à memória privada, à memória de indivíduos ou de grupos identitários, não incluídos entre os protagonistas do pacto. Sobretudo, o consenso oficial limitou o repertório social sobre a memória, necessário para a realização do processo de compreensão do passado. O trato institucional da memória, de modo geral, tem sido capaz de evocá-la como tema ou, no máximo, processá-la como informação, mas não de praticá-la em seus aspectos transformadores e criadores. Se, por um lado, a ausência, a perda, a nostalgia, a melancolia, o desaparecimento evocam a dimensão mais brutal da violência, por outro, possuem a conotação de morbidez simbólica do momento de mobilização social e histórica, criando um silêncio sobre a relação entre o passado originário e o presente, uma lacuna na memória sobre os anos de catástrofe social e política.
Cabe-nos perguntar: qual o papel desempenhado pelo passado no tempo presente e, em especial, o papel da memória dos anos autoritários na ação política atual? É possível esquecer os horrores e nos voltarmos para um futuro sem violência? Ou o inesquecível da tortura continua a habitar as cenas públicas e privadas da democracia?
A transição começou a ser pensada e formulada pelos militares, desde o começo do governo Geisel (1974-1978), procurando construir uma abertura lenta, gradual e segura, na qual o estatuto político da nova democracia pudesse ser acordado de antemão e, principalmente, se mantivesse o controle militar do processo. Ainda em 1977, o governo impõe o Pacote de Abril, fechando o Congresso Nacional por 15 dias (entre 1º e 15 de abril) e outorgando uma série de medidas limitando as possibilidades de ruptura na abertura: eleição indireta para governadores incorporada à Constituição; seis anos de mandato presidencial; senadores biônicos, eleitos indiretamente; entre outras. O governo mantém as medidas de abertura gradual nas ações de outubro de 1978, quando extingue a capacidade do presidente de fechar o Congresso Nacional e de cassar direitos políticos, devolve o habeas corpus, suspende a censura prévia e abole a pena de morte. Logo em seguida, no mês de dezembro, é tornado extinto o AI-5. A abertura militar fundamentava-se na lógica do consenso e a anistia ainda não era considerada como parte das ações possíveis no processo lento e gradual. Quando nos anos de 1977-78 foram montados os primeiros pacotes de reformas da abertura, falava-se no máximo em revisões de algumas penas, como a dos banidos.
A violência originária de determinado contexto político, que no caso da democracia seriam os traumas vividos na ditadura, mantém-se seja nos atos ignóbeis de tortura ainda praticados nas delegacias, seja na suspensão dos atos de justiça contida no simbolismo da anistia, lei aceita pelas instituições como recíproca – agindo em favor das vítimas e da resistência armada, bem como dos torturadores. Tais atos, por terem sido silenciados nos debates da transição política, delimitam um lugar inaugural de determinada política e criam valores herdados na cultura, tanto objetivamente, quanto subjetivamente – nas narrativas, nos testemunhos, nos sentimentos e paixões do sujeito, subtraídos da razão política.
Nos aspectos sociais e nacionais, as marcas de esferas políticas originárias, como a sala de tortura e a transição consensual, se constituem como partes fundantes da democracia nascida após o fim da ditadura. O caráter maldito da tortura e o aspecto de impunidade da democracia incluem na atual memória coletiva brasileira o medo da violência e da fabricação do corpo nu dos torturados e desaparecidos, pela ausência do acesso às leis. A aceitação simbólica da anistia aos torturadores como uma lei de anulação das possibilidades de justiça, se configurou, seguindo à sala de tortura, como a exceção política originária na qual a vida exposta ao terrorismo de Estado vem a ser incluída no ordenamento social e político.
Fatos da democracia, como a impunidade gerada na lei de anistia, a insuficiência das posteriores leis de reparação ou indenização em fazer justiça, a não abertura dos arquivos militares surgem como paradigmas silenciosos do espaço político e da memória, dos quais nos é profícuo aprender a reconhecer os limites e alcances.
Controlar a memória ou anular suas tensões é um ato da política. Memória é política e a memória dos anos de violência é, no presente, uma questão política. O maior paradoxo da democracia encontra-se na convivência da recordação, um movimento em direção ao passado, com o compromisso de criação de uma nova história no presente, um olhar para o futuro.
Quando, no presente, a busca pela verdade sobre o passado é evocada, procura-se uma transformação do presente. A busca pela verdade do passado é antes uma ação de rejeição à mentira e à omissão, um valor ético de elaboração da memória, mas também uma ação política. Com a Comissão da Verdade e a luta por justiça, condições foram criadas para pensarmos em uma convivência democrática na qual a publicidade dos traumas e ressentimentos, por meio das narrativas dos eventos passados, promova a política como dissenso e livre partilha das memórias.

25/09/2012

Oscar Niemeyer – O Arquiteto do Socialismo


 Por Francisco Batista Pantera  - Boletim CTB
Oscar niemeyerHá artista, e artistas
Mas, Oscar é universal
Reconhecido no mundo inteiro
Por sua obra fenomenal
Arquiteto das formas esplendidas
Um ser humano genial.
Um homem cheio de vida
São mais de cem anos de história
Emprestou a empresta seu talento
As lutas de nosso povo pra preservar sua memória
Homem de ideário socialista
Que acredita na sua vitória.
Um comunista virtuoso
Movido pelo ideal de uma sociedade generosa
Mais humana e mais justa
Fundamentada nas classes laboriosas
Livre da exploração do homem pelo homem
Solidária, progressista e harmoniosa.
Um homem que impressiona o mundo
Com sua espetacular arquitetura
É de uma grandeza solidária
Amigo de todos os povos e todas as culturas
Um homem de consciência social e política rara
Que com os ideais elitistas não se mistura.
Junto com seu amigo Lucio Costa
Planejaram a construção do Distrito Federal
Uma grande obra arquitetônica
Erguida no meio do Planalto Central
Orgulho dos brasileiros
Metrópole do poder central.
Durante sua vida
Pelos seus ideais foi duramente perseguido
Na época da Ditadura Militar
Foi exilado seu escritório semidestruido
Sempre esteve ligado ao partido Comunista
Conviveu com Luiz Carlos Prestes (Cavaleiro da Esperança) Seu amigo querido.
Uma de suas maiores paixões
É seu amor pela juventude
Pela sua irreverência
E rebeldia contra quem te ilude
Seus ideais são sempre jovens,
Essa é sua maior virtude.
A obra do arquiteto incansável
É sinônimo de brasilidade
Seu traço de ousadia
Ousadia na busca da simplicidade
Trabalhou e trabalha todos os dias
É um revolucionário sem vaidade.
Seus traços são inconfundíveis
Cheios de encantos e beleza
Intervindo no meio ambiente sem agredi-lo
Unindo o concreto e a natureza
Expressando o espírito dos homens
Num espetáculo de sutileza.
Pela humanidade
Niemeyer tem um sentimento profundo
Não é apenas um cidadão brasileiro
Mas, um cidadão do mundo
Sua obra está espalhada por todos Continentes
Cheia de esperança, de vida, não se confunde com moribundo.
Afirmava Leonardo da Vince
“Tudo morre no homem menos nas Artes”
O grande arquiteto
Desse mundo faz parte
Um grande mestre da humanidade
Na exuberância da criatividade arquitetônica é um baluarte.
Recebeu o prêmio Nobel de Arquitetura
Sua expressão artística contribui pra nossa identidade Nacional
Representa um pensamento de sabedoria e generosidade
Um exemplo de vida, de cidadão, de consciência e humanismo sem igual
Poeta, arquiteto guerreiro seus traços servem a humanidade
Niemeyer você é imprescindível, você é eterno pela sua arte magistral.

Atestado da morte de Herzog deve admitir tortura, determina Justiça de SP



A decisão atendeu a pedido da Comissão Nacional da Verdade (CNV) enviado à Justiça de São Paulo no último dia 30 de agosto. No documento atual, consta que Herzog se suicidou, uma farsa que visava proteger seus algozes e que, oficialmente, agora está desmascarada. O juiz determinou que no documento conste que “a morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (Doi-Codi)”.

São Paulo - O juiz Márcio Martins Bonilha Filho, da 2ª Vara de Registros Públicos do Tribunal de Justiça de São Paulo, determinou nesta segunda-feira (24) a retificação do atestado de óbito do jornalista Vladimir Herzog, para fazer constar que sua “morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (Doi-Codi)”.

A decisão atendeu a pedido da Comissão Nacional da Verdade (CNV), enviado à Justiça de São Paulo no último dia 30 de agosto. No documento atual, consta que Herzog se suicidou, uma farsa que visava proteger seus algozes e que, oficialmente, agora está desmascarada.

Então diretor de jornalismo da TV Cultura, Herzog foi encontrado morto em 25 de outubro de 1975. No dia anterior, agentes do II Exército o haviam convocado para prestar depoimento sobre as ligações que ele mantinha com o Partido Comunista Brasileiro. Herzog acabou espacado e morreu, segundo testemunhas que estavam presas com ele. Entretanto, os agentes da ditadura fraudaram o atestado de óbito.

Na decisão judicial, Bonilha Filho destaca que a comissão tem legitimidade para fazer pedidos dessa natureza à Justiça. Segundo ele, “à luz do julgado na Ação Declaratória, que passou pelo crivo da Segunda Instância, com o reconhecimento da não comprovação do imputado suicídio, fato alegado com base em laudo pericial que se revelou incorreto, impõe-se a ordenação da retificação pretendida no assento de óbito de Vladimir Herzog”.

Irritado, Sepúlveda Pertence pede demissão do Conselho de Ética Pública



Correio do Brasil
Ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Sepúlveda Pertence renunciou, nesta segunda-feira, à presidência da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, alegando “mudança radical” na composição do grupo. A comissão possui sete integrantes, mas estava com apenas dois conselheiros após saídas decorrentes do término ou da não renovação de mandatos. Sepúlveda, que deixará o grupo, tinha mandato até dezembro de 2013.
– Não há um motivo determinante apenas houve uma mudança radical na composição da comissão – disse Sepúlveda a jornalistas, no Palácio do Planalto.
O anúncio foi feito após a posse de três conselheiros indicados pela presidenta Dilma Rousseff: Marcello Alencar de Araújo, Mauro de Azevedo Menezes e Antonio Modesto da Silveira. Eles terão um mandato de três anos, podendo ser reconduzidos por uma única vez.
– Não tenho nada contra os designados, lamento, devo ser sincero, lamento a não recondução dos dois membros que eu havia indicado para a comissão e que a honraram e a dignificaram – disse o ex-ministro.
Dilma não teria gostado das decisões tomadas pelo grupo, que abriu diversos processos contra ministros. Um caso particular que incomodou a presidente foi a decisão do grupo de pedir a demissão do então ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT-RJ). Na ocasião, ela solicitou os argumentos para o pedido. O mandato da relatora do processo contra Lupi, Marília Muricy, venceu no último dia 24 de agosto e Dilma decidiu não renovar seu mandato pelo período de três anos. Outro conselheiro foi Fábio Coutinho. Ele foi relator do procedimento de investigação contra o ex-ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e vinha trabalhando na relatoria do caso de supostas consultorias prestadas pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Fernando Pimentel.
Ambos foram indicados à recondução por Sepúlveda, mas seus nomes foram rejeitados por Dilma. No ano passado, a comissão recomendou a Dilma que exonerasse o então ministro do Trabalho Carlos Lupi, alvo de denúncias de irregularidades na pasta. Lupi pediu demissão dias depois. O caso de Pimentel segue na pauta da comissão.
A comissão é composta, ainda, por Américo Lourenço Masset Lacombe, cujo mandato vence em março de 2015. O grupo atua como instância consultiva da presidenta Dilma Rousseff e ministros de Estado sobre ética pública, e tem, entre outras atribuições, administrar a aplicação do Código de Conduta da Alta Administração Federal. No último dia 31, Pertencecancelou uma reunião do Conselho por falta de quórum. Desfalcada, a comissão contava com apenas dois dos sete membros.
– Não tem reunião. Por que não vai perguntar à autoridade que pode responder? Sem quórum não tem reunião – já visivelmente irritado com a questão.
Dos sete membros previstos para a comissão, somente o próprio Sepúlveda e Américo Lacombe – indicado em março deste ano – continuavam no colegiado.