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A oratória representou uma das principais armas do herói cubano, José Martí, para canalizar sua ação revolucionária, cuja vigência adquire hoje novas conotações entre compatriotas e estrangeiros em um mundo cada vez mais diverso.
Com seus discursos, o ilustre
patriota chegou às consciências dos cubanos e os persuadiu da
necessidade de juntarem-se sob um projeto que garantiria uma futura
república verdadeiramente justa, democrática e soberana.
Após 120 anos do pronunciamento em Tampa, Estados Unidos, em 26 e 27 de
novembro de 1891, respectivamente, as peças oratórias conhecidas como
“Com todos e para o bem de todos”, e “Os pinhos novos” são inesquecíveis
entre a fecunda obra de Martí.
Conhecedor da importância da tal ferramenta comunicativa, Martí a
utilizou para desenvolver parte de sua propaganda revolucionária que
buscava colocar em pé de guerra novamente Cuba contra o governo espanhol
e fazer a revolução.
A capacidade persuasiva do professor foi admirável e deu à mensagem
patriótica uma grande emoção ao apelar sempre para o melhor de cada
indivíduo, sem exclusão de classe ou raça.
Tabaqueiros, veteranos, jovens patriotas, mães, viúvas, adolescentes,
ricos proprietários, intelectuais, comerciantes... Todos, ou quase todos
se converteram em receptores ativos de uma doutrina fundadora.
Guerra Cuba X Espanha
O maior organizador da guerra necessária de cubanos contra espanhóis
entre 1895 e 1898 levou ao último receptor uma mensagem bem elaborada e
definida.
Dessa maneira conseguiu comover, despertar sentimentos, provocar o amor à
pátria e o desejo libertário em seus ouvintes, convencer e somar
partidários da causa da independência cubana.
A vasta cultura de Martí, o conhecimento pleno da história, o estudo das
ciências e a compreensão filosófica dos fatos cotidianos impulsionaram
com força suas palavras ao ponto de arrastar consciências e somá-las ao
processo emancipatório.
Com todos e para o bem de todos
Em “Com todos e para o bem de todos”, a joia mais preciosa de sua
oratória na opinião de distintos estudiosos, começou inflamando a alma
de quem o escutava no Liceu Cubano de Tampa.
"Para Cuba que sofre a primera palavra. Do altar devemos tomar Cuba,
para oferecer-lhe nossa vida, e não do pedestal, para nos levantarmos
sobre ela", apontou e ainda fez uma referência imediata ao patriotismo.
Rapidamente, o auditório, composto por operários em sua maioria, recebeu
a força do verbo martiano que empregou, durante a dissertação, códigos
comuns com o objetivo de manter uma estreita comunicação por meio da
assimilação das ideias expostas.
Uma linguagem que assentou as ideias fundamentais da futura nação e
evidenciou o valor outorgado à ética e à realização pessoal e coletiva
dos seres humanos: "Eu quero que a primeira lei da nossa República seja o
culto dos cubanos à dignidade plena do homem".
Ele se opôs aos que, por temor ao Norte e desconfiança de si, se
inclinavam para a anexação, e os “lindouros” (aristocratas), "olimpos"
(oportunistas) y "alzacolas" (intrigantes).
De acordo com o estudioso José Luis de la Tejera, a metáfora, a
semelhança, os paralelismos e imagens cobrem todo o discurso e o realça
até o efeito persuasivo esperado.
Frases como "a guerra inevitável", "as palmas são namoradas que
esperam", e "é preciso, em questões dos povos, levar um freio em uma mão
e a caldeira na outra" transcenderam como símbolos.
O professor teve qualidades singulares para fazer bons discursos, pois
imprimia diferentes tons à sua voz, de acordo com o que requeria a
situação, empregava os períodos com harmonia, criava múltiplas e
originais imagens e improvisava com força.
Ao anterior, uniu a justiça de sua causa e a sinceridade com que
propagava o ideal independentista, ao mesmo tempo em que apelava para o
sentido da dignidade humana e às virtudes dos cubanos.
Os pinhos novos
Para lembrar os oito estudantes de medicina fuzilados em Havana em 1871,
Martí pronunciou “Os pinhos novos”, um discurso conciso no qual chamou
as novas gerações para se somarem à causa libertária.
Elegantemente, convidou os jovens, inexperientes, mas ansiosos de
liberdade para sua Pátria, a se fundirem e somar forças com os veteranos
combatentes, experientes na guerra.
Forjou uma forte união com um notável otimismo entre os assistentes do
mencionado liceu 20 anos depois do triste episódio e também entre os
quais tomaram, e retomaram posteriormente o caminho da revolução.
Martí concebeu um discurso ordenado e coerente para que a palavra
penetrasse facilmente nos ouvintes, e expôs com grande nitidez os
valores, aproveitou sua cultura e preparo e apelou constantemente ao
diálogo, e ao caráter comunicativo completo.
Sua prática oratória teve uma função utilitária, uma finalidade prevista
nesse trabalho de unidade e chamado à luta que se desdobrou e ainda
quando a mensagem esteve envolta em numerosos recursos estilísticos,
evidenciou um predomínio da razão e o juízo certeiro.
Como certeiramente afirmou o pesquisador Luis Conte, o herói nacional
amalgama os requisitos indispensáveis da eloquência suprema: moral,
patriotismo e cultura, trindade que não se encontra com frequência nos
oradores.
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