Fragmento, página 48
Safado, exclamaria Brizola, queria ser lançado candidato, candidatava-se declarando não ser candidato, apunhalava a democracia gritando o nome dela, como um amante canalha livrando-se de um corpo envelhecido.
Era o estilo das raposas do PSD.
Safado, pensara Rui Ramos, na Câmara de Deputados, depois de ter dito que a posição do ministro da Guerra era uma declaração de guerra civil e de ter pedido ao presidente da República em exercício, o oportunista Mazzilli, que demitisse e prendesse Denys.
O importante, porém, é que o manifesto de Lott chegaria ao seu destino, os ouvidos dos gaúchos, segundo contaria o próprio Leonel Brizola, enquanto o destemido, nacionalista e legalista Lott chegava ao seu, a prisão na Fortaleza de Laje: “As emissoras que faziam a transmissão eram silenciadas pelas autoridades do III Exército, mediante o confisco dos cristais dos seus transmissores.
Permaneceu no ar somente a Rádio Guaíba, porque os seus proprietários declararam que não podiam transmitir o manifesto”.
Às três horas da manhã do dia 27, com voz enlutada, quase metálica, um ganido, um gemido, uma voz fina, aguda, chorosa, tornada ainda mais pungentes pelos anos e pelas gravações, através das ondas das rádios Farroupilha e Gaúcha, Brizola avisa que resistirá, se for preciso, à bala, entregando a própria vida, para garantir a posse de Jango e o respeito à lei.
Uma edição extra do jornal Última Hora resume tudo: “Golpe Contra Jango”.
Truco? Brizola respondera: “Retruco”.
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