Sob o meu olhar

Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.

22/01/2012

Genealogia (Michel Foucault)


"A genealogia é cinza; ela é meticulosa e pacientemente documentária. Ela trabalha com pergaminhos embaralhados, riscados, várias vezes reescritos". 

Assim é iniciado aquele que talvez se constitui como o exercício teórico mais interessante e oportuno escrito por Michel Foucault no que diz respeito à prática historiográfica; texto perturbador e impertinente, despretensioso na amplitude de suas pretensões. 

Trata-se daquelas linhas que são lidas como que por uma imperiosa necessidade de leitura, sobre as quais os olhos não cessam nem conseguem cessar de depositar seus olhares, através das quais o pensamento se volta para si mesmo, suspende-se a si próprio e recomeça, a partir dele mesmo, um novo pensamento.

A genealogia espreita os acontecimentos tidos como sem história no anseio de reencontrar o momento em que ainda não aconteceram. 
Isto não quer dizer, em absoluto, uma pesquisa de origem, este "desdobramento meta-histórico das significações ideais e das indefinidas teleologias".

A genealogia é a paciente procura dos começos históricos, lá onde não há uma identidade originária, apenas o disparate dos acasos, daquilo que é já começado. 

Ela aponta em direção ao lugar onde a história ainda guarda em si seu caráter mesquinho, baixo, pouco nobre e demasiadamente modesto. 
O estudo das origens leva, quase que necessariamente, ao abrigo seguro dos deuses, das verdades imutáveis; a genealogia indica as verdades ainda não verdadeiras, o lugar onde os deuses se rendem a impetuosidade da história.

O genealogista não recua, pela continuidade do tempo, ao momento do não-esquecimento, nem pretende fazer reviver no presente algum passado qualquer, dar novo alento as suas vozes, fazê-las, mais do que ecos ainda audíveis de ruídos já emudecidos pelo tempo, o som original dos cantos gloriosos de ontem. 

Ele trata da proveniência, do lugar onde os acontecimentos são acasos e não causalidades; ele faz descobrir "que na raiz daquilo que nós conhecemos e daquilo que nós somos – não existem a verdade e o ser, mas a exterioridade do acidente".

A genealogia quer apreender, não o lento deslocar da coroa por sobre as cabeças dos príncipes, mas, uma a uma, em sua própria dispersão, as feridas abertas nos corpos dos pequenos homens (o que não exclui os monarcas), as chagas expostas ao tempo: "ela deve mostrar o corpo inteiramente marcado de história e a história arruinando o corpo".

A história não é devir, porém emergência: espaço sem dono do aparecimento súbito e do confronto entre os corpos e deles com o tempo. 

Ela é sem responsabilidade, anônima e acidental. 

"Enquanto que a proveniência designa a qualidade de um instinto, seu grau ou seu desfalecimento, e a marca que ele deixa no corpo, a emergência designa um lugar de afrontamento". 

Emergência dos homens, emergência das verdades, emergência das histórias; a perenidade do mundo na inconstância absoluta do tempo: "nada no homem – nem mesmo seu corpo – é bastante fixo para compreender outros homens e se reconhecer neles", assim, "a história será ‘efetiva’ na medida em que ela reintroduzir o descontínuo em seu próprio ser".


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