Sob o meu olhar

Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.

08/02/2012

Truffaut: Os 80 anos do autor e seu cinema


Portal Vermelho


Nascido em 6 de fevereiro de 1932, o diretor francês deixou um legado de 26 filmes em 25 anos de carreira.Tendo captado o olhar perdido de um menino confuso que caminha pela praia após ter visto o mar pela primeira vez, François Truffaut conseguiu expressar não só sua própria angústia quando adolescente, mas também um sentimento universal de dúvida solitária sobre o destino que todos devem enfrentar em algum momento. 

Por João Gabriel Villar Cruz, em Brasil de Fato

 truffaut
Cena final de "Les quatre cents coups" (Os Incompreendidos)/Fotos: Divulgação
Foi essa imagem triste e bela a escolhida para fechar a primeira obra prima de um cinéfilo que viajou para o outro lado das telas. Além disso, tal imagem habitou a mente de quem saía do cinema em 1959, ano em que o jovem crítico e cineasta ganhou o premio do festival de Cannes, pelo seu autorretrato “Les quatre cents coups” (Traduzindo ao pé da letra ‘’Os quatrocentos golpes”, uma expressão francesa equivalente a “Pintando o sete”), transformado no Brasil em “Os incompreendidos”, outro título que, apesar de ter perdido muito da essência, traduz a atmosfera do filme e seu autor. 

Truffaut iniciou efetivamente sua carreira como crítico apadrinhado por seu amigo e mentor André Bazin, aclamado crítico que serviria como um pai para o ex-delinquente. Foi Bazin que o ingressou na lendária revista cinematográfica “Cahiers du Cinéma”, onde trabalharia ao lado de seu então grande amigo Jean-Luc Godard. Truffaut causou polêmica já em sua primeira reportagem, onde criticou o intocável padrão de qualidade do cinema francês, propondo mudanças tanto nos temas quanto em suas abordagens. 

Porém, não tinha apenas desafetos como crítico. Amante do cinema desde criança, assumiu seu amor por mestres como Alfred Hitchcock (a quem entrevistou em Paris para a Cahiers), Jean Renoir e Roberto Rosselini. E foram a paixão e oposições ao modelo da época que o levaram, junto com Godard, a fundar um novo modo de fazer cinema, a “Nouvelle Vague” (“Nova onda”, em português). O novo movimento foi um sopro de renovação para o cinema francês e mundial. Influenciando, por exemplo, o movimento do Cinema Novo no Brasil. 

Após a inauguração do movimento -- que, segundo o diretor, em “Os incompreendidos" as delinqüências juvenis representavam a rebeldia e o rejuvenescimento necessário para o cinema --, Godard e Truffaut tiveram desavenças quanto aos rumos que deveriam tomar a Nouvelle Vague e romperam laços para nunca mais reatar. Mesmo após tentativas de aproximação por parte de Godard nos anos 80. 

Um ano depois à explosão de "Os Incompreendidos", Truffaut presenteou as plateias com uma emocionante e divertida sátira ao gênero de “Film Noir” norte-americano em “Tirez sur Le pianiste” (“Atire no pianista”). Em seguida, 1962, apresentou um marco na revolução sexual dos anos 60 com o belo e polêmico triângulo amoroso em “Jules et Jim”, que no Brasil recebeu o nome apelativo de "Uma Mulher para Dois". 

Em “La nuit americaine” (A noite americana), de 1973, o diretor fez uma apaixonada homenagem ao processo cinematográfico. Com a película, Truffaut concorreu ao Oscar de diretor e trouxe à França a estatueta de melhor filme estrangeiro.

Conseguiu, em apenas 25 anos de carreira, dirigir 26 filmes, antes da sua morte prematura com um tumor no cérebro em 1984, tendo sido seu último grande filme “Le dernier métro” (“O último metrô), contando com os astros Catherine Deneuve e Gerard de Depardieu. O filme tratava do processo de criação de um espetáculo, servindo como a segunda parte de uma trilogia que se iniciou com “A noite americana” e nunca foi terminada. 

Cinema de Autores


Sua mais importante teoria como crítico foi a “Politique des auteurs” (A política autoral), que colocava o diretor de um filme como o principal responsável por sua obra, tal como um pintor, poeta, escritor, sendo assim os atores e equipe seu pincel e tela. Essa foi a principal inovação trazida pela “Nouvelle Vague”, e a sua marca. 

Na visão dos críticos, seus filmes não possuíam grandes sequências, brilhantes diálogos, ou histórias de tirar o fôlego, mas cativavam pela singeleza. Como em "Jules et Jim" onde os três vértices de um triângulo amoroso andam de bicicleta pelo campo, ao som de uma melodia orquestrada (cena que inspirou a icônica sequência de “Butch Cassidy and the Sundance Kid”, na qual Paul Newman e Katherine Ross andam de bicicleta ao som de “Raindrops keep falling on my head”). 

Foi neste filme que Truffaut se apaixonou por Jeanne Moreau, então casada com o estilista Pierre Cardin, e conseguiu fazer com que todo o seu público também se apaixonasse (e como não se apaixonar?). O diretor eternizou Morreau na tela fazendo-a correr travestida de homem por uma ponte. Nas cenas de "Jules et Jim", o público sente as personagens por seus olhares, seus sorrisos, seus tons. Com cada movimento, mergulhamos mais na vida desses estranhos, em obras íntimas e sentimentais. 

O "sentimentalismo" foi um dos principais motivos da briga com Godard que não concordava com o caráter intimista da obra de Truffaut. Tal tradução da poesia para as telas, por mais que cada vez mais rara, pôde ser posteriormente atingida com maestria por outros mestres como Fellini (“8 ½”, “A doce vida”), David Lynch (“Veludo azul”, “O homem elefante”) e Michelangelo Antonioni (“Blow up”, “O deserto vermelho”). 

Não é à toa que Truffaut serviu como uma das principais inspirações para o renascimento de Hollywood, no qual um jovem grupo de diretores tentou recriar a arte do cinema europeu na América. Cineastas aclamados como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Brian de Palma e Steven Spielberg fizeram parte deste grupo. Spielberg grande fã e amigo, dirigiu o diretor francês que teve papel de protagonista em seu “Close encounters of the third kind” (“Contatos imediatos de terceiro grau”). 

Sua influência também chega ao cinema Pop moderno, exemplificado por Quentin Tarantino, que admitiu ter se baseado em “La mariée était en noir” (“A noiva estava de preto”) para criar “Kill Bill”, e ter tirado um pouco da atmosfera nonsense e narrativa não linear de “Atire no pianista” para conceber “Reservoir dogs” (“Cães de aluguel”). Pode-se até perceber traços de seu estilo ousado, simplório e poético no hoje clássico “The graduate” (“A primeira noite de um homem”), em muitos aspectos semelhante a “Jules e Jim”, e Dianne Keaton nos filmes de Woody Allen assemelha-se à doce e inconstante imagem passada por Jeanne Moreau nesse mesmo filme. 

É por tudo isso que Truffaut, antes de ser influência e arte, é essencial para quem ama o cinema, com filmes capazes de entreter, divertir, encantar, tirar a paz, devolvê-la e, mais do que tudo, deixar em nossas bocas um gosto amargo de “Já passou?!”. 

Truffaut foi Antoine que era Jean-Pierre 

Mais do que um autorretrato de sua adolescência, "Os incompreendidos" previu nas telas a rebeldia de uma década que marcou a sociedade francesa e ocidental. Seu primeiro longa-metragem ainda teria quatro continuações. O moleque Antoine Doinel, de "Os Incompreendidos" cresceu e passou pelos desencantos e felicidade da juventude até chegar à maturidade de um homem solitário que separou e casou, servindo como uma espécie de alter-ego de Truffaut. 

Truffaut foi Antoine. E Antoine sempre foi Jean-Pierre Léaud. Na década de 60 Léaud tornou-se o queridinho dos diretores franceses, mas ficou marcado como o alter-ego de Truffaut. Engajado e contestador, ator esteve presente nas revoltas de maio em 1968 em Paris e chegou a vir ao Brasil para discursar para estudantes no mesmo ano. 

Contando sempre com Léaud no papel principal, expressou sentimentos íntimos filmando o ator em “Antoine et Colette” (1962),”Beijos proibidos” (1968), “Domicílio conjugal” (1970) e “Amor em fuga" (1979).

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