O ministro Paulo Bernardo, ao que
parece, é o ministro Hélio Costa renascido, mas
sem a vasta e grisalha cabeleira
global. Apóia todas as demandas dos
oligopólios, desde o impedimento
de “regulação de conteúdo”, à esparrela
de controlar capital estrangeiro
em sites jornalísticos na internet. Nem uma
palavra sobre a única questão que
realmente interessa nessa discussão, que
é a proibição, pura e simples, da
propriedade cruzada.
Esse sistema, pilar do poder dos
conglomerados de comunicação do
país, permite às organizações de mídia
controlar jornais, rádios, TVs e portais
de internet, tudo ao mesmo tempo. Sistema que
coíbe a concorrência, impõe
pensamento único, cala as divergências e torna
invisíveis os movimentos sociais e
populares. É uma ditadura,
curiosamente, consolidada sob o refúgio de uma falsa
liberdade de imprensa e de
expressão – dois conceitos diferentes, mas
deliberadamente misturados para
interditar essa discussão.
O próprio conceito de “regulação
de conteúdo” é colocado de forma enviesada,
de maneira a se confundir com censura,
inclusive de veículos impressos e de
internet, quando, na verdade, diz
respeito apenas às concessões de radiodifusão.
Sequer se trata de censura
prévia, mas de normatização de um espaço público
dominado, atualmente, pela baixaria e pela
manipulação informativa. Sem falar
na questão da classificação de
horário por faixa etária, da qual o governo Lula,
depois de fazer um longo estudo,
abriu mão por pressão das grandes emissoras de TV.
Sobre a questão do capital
estrangeiro na internet, tudo beira a piada e
a um desconhecimento grotesco da dinâmica da
rede. A internet é universal e
transnacional por natureza. Eu
posso montar uma empresa em Miami e só publicar
matérias sobre o Brasil, a partir de uma
equipe free lancer contratada em
Brasília, Rio de Janeiro e São
Paulo. Os oligopólios da mídia estão se pelando de
medo é das telefônicas, que têm
potencial e dinheiro para criar uma nova política
de conteúdo na rede, longe das
amarras dos velhos esquemas. É sobre isso que o
governo e o Congresso Nacional
devem legislar, e não ficar fazendo a vontade dos
barões da mídia. Senão, caminharemos, como de
costume, para a submissão e o
abismo das oportunidades perdidas.
Carta Capital
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