Sob o meu olhar

Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.

19/12/2012

Receita padrão de adultério (Carlos Heitor Cony)

Não suportou mais e foi procurar o amigo escritor. Era amizade antiga, mas distante. De há muito o considerava um péssimo caráter, capaz de cometer qualquer miséria desde que tivesse lucro com uma mulher ou com um assunto que lhe desse inspiração. Aproveitava-lhe a sabedoria, mas evitava contagiar-se com a devassidão de sua vida abominável.

Ele desejava mudar o nome do prédio onde morava (Babilônia), aconselhara-se com o amigo, haveria uma reunião de condomínio e o escritor incentivou-o, que fosse formidando ao fazer a proposta.

- Formidando? Quê que é isso?

- Uma expressão clássica, Raul Pompéia usava muito em "O Ateneu", o professor Aristarco era formidando. Significa formidável, feroz, tonitruante.

- É isso aí! Serei formidando!

A reunião foi numa sexta-feira, à noite, nada teve de formidanda. No sábado, ele voltou ao amigo.

- Como é? Você foi formidando?

- Formidando uma ova! Foi um desastre!

- Mas por que diabo você quer mudar o nome do prédio?

Abriu-se. Pela primeira vez na vida, abria-se. Tinha medo de ser traído. Sabia que as mulheres depois de certa idade sofriam crises, as tentações eram muitas. Ele achava que o nome "Babilônia" era um péssimo agouro. Mas reconhecia que não adiantava mudar o nome do prédio.

- É. Não resolve mesmo, admitiu o amigo.

- Você seria capaz de dar em cima da minha mulher?

A pergunta, à queima-roupa, desorientou o escritor, que apesar de cínico não estava preparado para ela.

- Não. Ela é muito magra.

- Era. Agora engordou um pouco.

Para ser fiel ao papel de cínico, o amigo novamente admitiu:

- Bem, se está no ponto, por que não?

- Você gosta de mulher gorda?

- Nada disso. Mas mulher magra foi uma impostura dos costureiros, dos modistas. São, em geral, pederastas. Odeiam a mulher. Querem os homens todos para eles e o melhor modo de eliminar a concorrência é obrigar a mulher a ficar ossuda, sem carnes. As idiotas fazem regime, ficam com as pernas que parecem palitos, a bunda vira uma tábua. Não é à toa que os homossexuais terminam levando vantagens. Agora, veja, as fêmeas bíblicas, a mulher das Escrituras, as mulheres de Renoir, de Rubens, as madonas, a "Fornarina" de Rafael...

- Bem, eu não entendo muito disso, mas acho que você tem razão.

- Uma porrada de razão! Os homens gostam e se casam com mulheres magras para a exibição, o jogo social. Na hora de rebolar na cama, preferem as gordinhas, as falsas magras...Todas as amantes dos meus amigos são assim...

- Eu não tenho amantes, Otávia me basta.

O amigo ia dizer qualquer coisa, freou-se a tempo.

- Você acha que sua mulher seria capaz de um adultério?

- Sei lá.

- Bom, em princípio todas as mulheres são capazes disso. Elas têm a matéria-prima do adultério: o sexo e o marido. Falta apenas o beneficiamento, que é o terceiro elemento, o amante, que não é difícil de encontrar. Mas fique sabendo, nenhuma mulher nasce adúltera, como os poetas que nascem poetas. Ela se faz, como os oradores. Ou melhor, o marido é que a faz adúltera.

- Você já cometeu adultério?

O amigo fingiu que não ouvira bem, mesmo assim tirou o corpo fora:

- Eu sou solteiro!

- Não é isso que quero dizer. Pergunto se você já cometeu adultério com alguma mulher casada?

- Que eu saiba, não. Não gosto de adultérios. Eles precisam de hotéis sórdidos, exigem códigos ridículos, praticam ritos abomináveis, dificilmente se comete adultério em paz de espírito.

- Isso é necessário? Essa paz de espírito?

- Tanta mulher no mundo, porque escolher uma que pode dar problema?

- O problema pode compensar.

Calaram-se por um tempo. O escritor ofereceu um uísque.

- Bem, por hoje chega. Aprendi bastante. Outro dia apareço.
- Você tem lido meus livros? -a pergunta foi também à queima-roupa.

- Não. Otávia acha-os indecentes e eu termino escondendo-os. Na última mudança, sumiram.

- Ainda bem. Qualquer que seja a solução do seu caso, mantenha-me informado. Você pode me dar bom assunto.

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