Sob o meu olhar

Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.

02/12/2012

A batalha entre o México autoritário e o México democrático

Eduardo Febbro - Carta Maior

O México muda de presente político e, talvez, de futuro social. O presidente Felipe Calderón deixa o poder neste dia 1º de dezembro com uma montanha de mortos – mais de 50 mil – como herança de um mandato marcado pela infrutífera luta contra o crime organizado e cujo fim marca também o fim do que é chamado no México de “alternância”. 

Hoje volta ao poder o partido que forjou o México contemporâneo, o PRI, cujo candidato, Enrique Peña Nieto, ganhou as eleições de julho passado. Após mais de 70 anos no poder, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) perdeu as eleições presidenciais em 200 para o Partido Ação Nacional (centro-direita). 

A ilusão que essa mudança suscitou se mede hoje pelo desencanto que os dois mandatos do PAN deixaram como resultado: o de Vicente Fox entre 2000 e 2006, e o de Felipe Calderón, entre 2006 e 2012.

Em julho de 2012, entre a centro-direita do PAN, a direita do PRI e a esquerda do PRD, os eleitores optaram pelo PRI. Mas o velho partido autoritário regressa a um país mudado, a um México que, para além das decepções, acumulou uma cultura democrática que não possuía. 

A “transição” foi uma frustração, mas a sociedade civil não se rendeu. Surgiu um México que grita e reclama por seus direitos, que milita e busca seus mortos e pede justiça, ao lado de um México que se cala.

Sergio Aguayo fala desses dois méxicos com a paixão de um cientista enamorado: lúcido e certeiro, esperançoso, mas não inocente, comprometido com as pulsões do México até nos silêncios. Esse analista brilhante, autor de livros chave sobre a realidade mexicana – La Charola, El Panteón de los Mitos, Vuelta en U, La Transición en México – faz um balanço crítico dos sonos perdidos no caminho da transição democrática iniciada em 1996. Também olha para o futuro, consciente do peso horrendo da guerra, mas confiante na força desse México que tirou a mordaça do medo.

- Chegamos ao momento de uma nova transição paradoxal: o regresso do PRI ao poder após 12 anos de oposição. Em resumo, volta ao primeiro plano o partido autoritário, machado por inúmeros casos de corrupção. A vitória do PRI parece refletir também a enorme decepção que a transição deixou.
É uma história bastante complexa. Em primeiro lugar, minha geração se equivocou ao supor que eleições limpas eram sinônimo de democracia. Começamos a ter eleições razoavelmente limpas, mas não tivemos democracia porque se produziu um problema associado: cada vez que havia uma mobilização social no México, o regime autoritário respondia com uma reforma eleitoral que fortalecia os partidos. Em 1996, os partidos se converteram em magnatas da noite para o dia com o aumento do financiamento público em doze vezes. Isso significou que os partidos políticos se esqueceram de representar a sociedade e passaram a se preocupar com as pequenas elites. Isso levou a que a alternância do poder político se tornasse uma redistribuição muito desigual do poder econômico, informativo e coercitivo.

Por conseguinte, o que vemos no século XXI é uma democracia profundamente desigual em todos os sentidos. Há um acúmulo de poder na cúpula e uma repartição desigual nos setores médios e baixos. Isso terminou significando várias coisas: primeiro, que a corrupção cresce. Os governadores se tornaram extraordinariamente poderosos; dois, os multimilionários crescem mais – não é por acaso que temos o homem mais rico do mundo. Esse setor obteve um tratamento privilegiado por parte do Estado; três, os canais de televisão adquiriram um poder imenso. Em última instância, ainda que tenhamos tido avanços, porque o México de 2012 não é o de 1968, a sociedade não conta com suficientes instrumentos para poder equilibrar essas distorções. Em síntese, a redistribuição do poder foi integral e levou à violência.

- Há então uma relação direta entre a forma pela qual o poder político usou a alternância em seu benefício e a violência que o México conhece hoje.
Esse processo iniciou depois da Segunda Guerra Mundial quando o crime organizado começa a crescer muito lentamente. No passado, o crime organizado estava controlado por um Estado centralizador. Com a alternância, o poder se fragmentou e uma das consequências não buscadas pela alternância foi que o crime organizado cresceu porque passou a negociar com os governadores ou os presidentes municipais.

O que vemos então, entre 2006 e 2012, é a explosão do poder do crime organizado, o qual tem uma enorme capacidade de fogo graças à corrupção nos Estados Unidos. A atitude dos Estados Unidos permite um contrabando de armas incrível, terrível e intenso. Os carteis do crime organizado têm exércitos muito bem armados que enfrentam com êxito o Estado mexicano. Em consequência, estamos numa etapa na qual existe um México em guerra e um México em paz, onde o poder está concentrado nas mãos de elites governantes que estão divorciadas da sociedade. Os partidos não representam a sociedade e esta se defende com mais ou menos êxito dependendo da cidade ou do Estado. O Distrito Federal tem o grau de concentração de capital social mais alto do país e, por conseguinte, se defende melhor que Michoacán ou Tamaulipas, onde a sociedade civil é muito débil.

- Sua análise faz o retrato de um poder político estratificado. Com que forças conta o país para romper esse bloqueio levando em conta os níveis de violência que existem?
Creio que vem aí uma década de reajustes na redistribuição do poder. A guerra vai durar pelo menos mais uma década. Serão anos nos quais haverá reacomodações e nos quais a sociedade avançará na defesa de seus interesses segundo as regras da participação na vida pública. Essas regras não são uniformes em todo o país. O México não é um país homogêneo. Há enormes diversidades em cada região, o que é válido na Cidade do México pode ser irrelevante em Mérida ou Tamaulipas. Mas o país está se movendo e essa fluidez no movimento faz com que a situação mexicana seja tão confusa e, ao mesmo tempo, tão fascinante.

- Há, contudo, um dado estonteante: a cifra de mortos. Como e por onde terminar com isso?
Me parece que temos que aceitar que somos um país em guerra. Tudo seria mais fácil se aqueles que governam o México e a comunidade internacional aceitassem esse fato. Mas, infelizmente, seguem uma política evasiva, uma atitude de avestruz. O governo e a comunidade internacional fazem todo o possível para minimizar, para ignorar a tragédia humanitária que o México vive. Uma parte da comunidade internacional comprou as teses do governo mexicano, que diz: tudo isso é transitório, são os narcos que estão se matando entre eles, etc., etc.. Algo muito curioso é a pouca informação que se tem sobre o custo social da guerra. A informação que temos é extraordinariamente inquietante, não só pelos mortos: estima-se que há 40 mil sequestrados nos últimos anos e mais de 14 mil desaparecidos. O Chile teve 3 mil, a Argentina entre 10 mil e 30 mil. Nós já temos 15 mil desaparecidos nesta guerra e o mundo faz o possível para ignorá-lo.

É um absurdo. O que vem aí é uma etapa enorme, de desafios gigantescos. Quanto ao que ocorreu, eu creio que era necessário enfrentar o crime organizado, mas o que critico no presidente Felipe Calderón é a mediocridade de sua estratégia. Em 2007, Calderón disse: “abri o paciente supondo que tinha um câncer, mas descobri que já havia uma metástese”. 

Em resumo, aqui se declarou uma guerra sem se ter uma ideia clara da magnitude do perigo. Calderón não antecipou e se aferrou a uma estratégia fracassada, se negou a escutar e minimizou o custo social que a guerra estava causando entre vítimas e desaparecidos. Felipe Calderón é um comandante medíocre.

- Um comandante medíocre seguido por uma incógnita: Enrique Peña Nieto, o novo presidente, é um autêntico mistério.

Sim, Peña Nieto é um enigma. Não sei o que ele pensa.

Independentemente do fato de ter ganha a eleição de uma maneira bastante suja, desejaria que o novo presidente tivesse uma estratégia mais inteligente. Enrique Peña Nieto representa um PRI muito atrasado, o do Estado do México. É produto do PRI mais autoritário, mais opaco e, talvez, o mais corrupto do país. Mas o México mudou nestes últimos anos. A história não é uma massa de modelar que os governantes modelam ao seu bel prazer. Para além dos planos do PRI, esse grupo é uma peça dentro de uma engrenagem de poder mais complexa. Um dos erros que se comete é pensar que o fato de o PRI regressar ao poder significa a volta do presidencialismo.

- O PRI, porém, demonstrou que não se transformou. A sociedade sim. Como acreditar que um partido com tantas histórias feias possa, de uma hora para outra, sanear-se a si mesmo e sanear o país?
Quem iria acreditar que um partido como o PAN, que durante mais de 70 anos acumulou toneladas de decência e ética, iria entregar um país mais corrupto do que recebeu? O que veremos no México é uma grande batalha entre o México autoritário e o México democrático. O México democrático é aquele que, no sentido moderno, quer transparência, respeita a diversidade sexual e os direitos humanos. Para mim, trata-se de entender a realidade sem satanizar ninguém para defendermos aquilo que já alcançamos.

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