Sob o meu olhar

Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.

30/10/2012

SP, a menina do futuro e a queda do muro da injustiça

Por Eduardo Maretti, Rede Brasil Atual

As pesquisas de intenção de voto da véspera indicavam a vitória de Fernando Haddad, do PT, o partido do “mensalão”, combatido durante todo o processo eleitoral pela mídia tradicional, pelas famílias que controlam os maiores jornais e pela oligarquia que não se conforma em perder o poder para um oponente que se propõe a unir a cidade e trabalhar contra a gigantesca contradição de ser a mais rica do país e, no entanto, ostentar índices de concentração de renda e de pobreza absurdos.


A violência física perpetrada incessantemente contra as favelas e moradores de rua se tornou regra. Mas talvez um dos maiores emblemas da intolerância, insensibilidade e violência do governo municipal que ora se extingue foi o fechamento do bar do Binho, no Campo Limpo, no sudoeste da cidade. Havia oito anos esse poeta da periferia reunia amigos, escritores e moradores no seu estabelecimento, nesse bairro periférico da imensa, árida e cosmopolita capital de São Paulo, para falar de poesia, para prosear e beber a santa cervejinha. E o prefeito Gilberto Kassab (PSD), apegado a questões burocráticas, a conceitos próprios sobre como deve ser organizada a cidade, fechou o bar do Binho.

No domingo (28), “dia da libertação da cidade”, nas palavras do então candidato Fernando Haddad num evento realizado na Casa de Portugal com artistas, intelectuais e professores na semana passada, era praticamente impossível ver adesivos do candidato, que representava a continuidade da situação cinzenta e triste vivida pela São Paulo da Semana de Arte Moderna, da vanguarda e da inovação. Nos carros, nas ruas, nas portas das casas, de estabelecimentos comerciais, o que se via eram bandeiras e adesivos vermelhos. As pessoas que ostentavam essas bandeiras estavam alegres, pareciam de fato acreditar que suas vozes finalmente seriam ouvidas.

Até no hotel onde jornalistas e a cúpula do Partido dos Trabalhadores acompanhavam a apuração da eleição – ambiente naturalmente investido do “espírito da imparcialidade” e circunspecção próprias ao jornalismo –, os semblantes eram reveladores. Embora a maioria ostentasse esse ar de neutralidade séria e circunspecta, havia quem demonstrasse mau humor, de um lado, e uma felicidade incontida, de outro. Entre os primeiros, reclamações da desorganização e impropérios: “Vai voltar tudo, o que você podia esperar? Isso é o PT”, esbravejou um fotógrafo. Outro, técnico de uma emissora de TV, foi além, desferindo um palavrão para manifestar seu ódio.

Quando Haddad proferiu seu discurso da vitória, num ambiente que misturava festa, pois havia muitos militantes, e a necessidade de ser jornalista, de dar notícia, viam-se repórteres se acotovelando e procurando fazer o melhor possível. Principalmente entre mulheres, um indisfarçado sorriso de alegria se insinuava em alguns momentos do discurso do prefeito eleito. Sorrisos que eram logo abafados (pois o jornalista tem de ser imparcial, nos dizem os manuais) para voltarem depois. Os sorrisos insistiam em se mostrar.

Na avenida Paulista, na festa da vitória, o discurso de Haddad começou ao mesmo tempo em que a chuva. Pessoas de todas as cores, idades e preferências sexuais dançavam e cantavam sob a chuva inclemente. Um homem pobre, de origem nordestina, visivelmente embriagado, dizia: “Viva Lula, viva Haddad!” Um vendedor ambulante, sorrindo, passou cantando um jingle da campanha petista: “Na minha casa todo mundo é 13...” Estavam felizes, sentiam-se libertados.

Comoveu mesmo uma menina de cerca de seis anos que, com sua mãe, nem ligava para a água que caía do céu. Empunhava uma bandeira vermelha com o número 13 que agitava sem parar, e dançava ao ritmo de um samba. E chovia. Essa cena para mim foi a mais simbólica de todas. Ela simbolizava a liberdade, o futuro e a poesia: a mãe não estava preocupada em reprimir a liberdade espontânea da criança por medo de uma gripe – afinal, o que seria uma gripe perto daquela felicidade? –; a menininha representava também o futuro em nome do qual 3.387.720 eleitores votaram pela mudança, contra o passado, contra a exclusão, contra o medo e a injustiça; e, afinal, o que era aquilo senão o símbolo da rica, imensa e poderosa cidade de São Paulo lavando sua alma, na figura daquela criança?

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