Sob o meu olhar

Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.

11/04/2012

O poema da controvérsia


A polêmica vai continuar, porque, de fato, Günter Grass pôs um dedo na ferida, uma ferida de muitas camadas, que remonta ao holocausto, ao silêncio sobre o holocausto depois da guerra, aos levantes de 68 (que, na Alemanha, levantaram o questionamento às gerações mais antigas - "onde você estava e o que fez durante o nazismo?"), e também ao silêncio posterior diante das atitudes belicistas dos governos isralenses, em particular o último, de Benyamin Netanyahu. 


Por Flávio Aguiar*


O escritor alemão e prêmio Nobel de literatura (1999) Günter Grass causou enorme polêmica na Alemanha, na Europa e em Israel publicando, na semana passada, o poema abaixo em vários jornais europeus. O poema critica seu próprio país por vender mais um submarino à Israel, com capacidade para lançar mísseis armados até com ogivas nucleares. Critica o governo israelense "por ameaçar a já frágil paz mundial" com a possibilidade de um ataque ao Irã, por este supostamente estar preparando um arsenal nuclear. 

Para o escritor quem certamente tem armas nucleares se propõe a atacar quem apenas se supõe estar construindo uma, sem se ter ainda prova cabal disso. Além disso, Günter Grass (autor, dentre outros, do romance "Die Blechtrommel", "O tambor de lata" - que também virou filme) critica seu próprio silêncio sobre o tema esse tempo todo, atribuindo-o a um sentimento de culpa que permanece na cultura de seu país (culpa que ele considera justificada). Ao final, o poema diz que ambos os países deveriam colocar suas atividades nucleares sob supervisão da ONU.

O poema caiu como uma bomba em diferentes meios. Primeiro, na própria Alemanha, onde criticar qualquer coisa a respeito de Israel é (compreensivelmente) tabu.

A mídia liberal rejeitou o poema, e suas críticas. Houve até quem chamasse Günter Grass (hoje com 84 anos) de "velho senil" querendo chamar a atenção. Muitos representantes de associações judaicas também criticaram veementemente o poema. Günter foi acusado de antissemita, e outras críticas interpretaram que seu poema fortalecia Ahmadinejad, os aiatolás e o Irã, comparando-o, "equivocadamente", a Israel. Outros consideraram o poema um equívoco do ponto de vista literário.

Mas houve quem saísse em sua defesa também. Escritores, artistas e membros do establishment cultural alemão rejeitaram a acusação de antissemitismo, lembrando que Grass sempre se posicionou favoravalmente à existência de Israel (algo que fica também implícito no próprio poema). Ainda houve também quem dissesse que o poema era exagerado (sobretudo ao dizer que Israel poderia exterminar o povo iraniano), mas que levantava um assunto que se necessitava debater.

Os partidos políticos não se pronunciaram oficialmente. Porém, em geral, os políticos da Linke aprovaram a atitude de Grass. Os do SPD se dividiram, uns apoiando Grass, outros criticando. Isso é muito relevante, porque Grass sempre se posicionou a favor do SPD. Muitos do Partido Verde criticaram o poema, mas deixaram claro que não endossavam a acusação de antissemitismo.

Para engrossar o caldo, o governo isralense declarou o escritor "persona non grata" em Israel, o que, na prática, barra sua entrada no país (que ele visitou muitas vezes). Vozes do governo de Tel Aviv se ergueram denunciando que Grass, na Guerra, pertencera à famigerada SS. É verdade que o próprio Grass reconheceu esse fato. Mas a história completa é a de que ele, aos 17 anos, quis se alistar na Marinha alemã para lutar. Aparentemente rejeitado, foi parar num regimento blindado das SS-Waffen, na frente de batalha. Ferido, foi feito prisioneiro num campo de concentração norte-americano. Ao mesmo tempo, políticos e escritores isralenses criticaram seu próprio governo. Muitos disseram que o governo, em dificuldades, estava fazendo uma campanha populista em cima do poema de Grass, e que era um absurdo barrar sua entrada, o que "igualava Israel aos regimes totalitários, inclusive o Irã".

Na Alemanha, a atitude do governo de Tel Aviv também mereceu críticas por parte da mesma mídia que atacara o poema, taxando a proibição de "exagerada".

A polêmica vai continuar, porque, de fato, Günter Grass pôs um dedo na ferida, uma ferida de muitas camadas, que remonta ao holocausto, ao silêncio sobre o holocausto depois da guerra, aos levantes de 68 (que, na Alemanha, levantaram o questionamento às gerações mais antigas - "onde você estava e o que fez durante o nazismo?"), e também ao silêncio posterior diante das atitudes belicistas dos governos isralenses, em particular o último, de Benyamin Netanyahu.

O próprio Grass veio a público dizer que continuava sustentando o poema, mas que talvez devesse tê-lo escrito deixando mais claro que seu alvo era o governo do atual primeiro-ministro, e não Israel como um todo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário