Sob o meu olhar

Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.

11/12/2011

Humor sem baixarias é preciso!


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CRNICA1
Novo livro de crônicas de Luis Fernando Verissimo, recém lançado, é uma pintura de tão belo, engraçado, sensível e de qualidade inquestionável.
Por Marcos Aurélio Ruy*
O tempo não tem pontos fixos, o tempo é uma sombra que dá a volta na Terra. Ou a Terra é que dá voltas na sombra. Nossa única certeza é que será sempre a mesma sombra – o que não é uma certeza, é um terror.” Assim começa a crônica título do livro do escritor gaúcho “Em Algum Lugar do Paraíso” (1) e já mostra a intenção do autor em brincar com questões do nosso cotidiano com humor refinado, em respeito à inteligência das pessoas, sem preconceitos.
Na crônica “Enterros” o escritor narra uma história que nos leva a reflexões sobre a vida e a situação econômica. “O enterro, com perdão da indiscrição, será o seu mesmo? Sim. Quero deixar tudo pronto para quando chegar a hora”, para no final concluir que “Perdão cavalheiro. Mas quanto, exatamente, o senhor pode pagar? Depende. Qual o seu enterro mais barato?” e mais adiante respondendo a pechincha do freguês: “O que é isso? O que o senhor está vendo. Uma pá. Uma pá? Ou faça o seu próprio enterro, ou aceite um conselho. Qual? Morra em outro lugar”.
A veia humorística de Luis Fernando Verissimo é prova cabal de que para se pode fazer rir sem apelação e sem disseminação de preconceitos. O escritor mostra sutilmente as mazelas do dia-a-dia, sem ofender a quem quer que seja muito menos as pessoas sem voz na mídia. Ele brinca com questões de casais, amigos, do passado, presente e futuro, de vontades, frustrações. Tudo o que afeta nossas vidas e as soluções que procuramos.
Completamente diferente dos tais “humoristas” de stand-up, muito comuns hoje em dia, que fazem grande sucesso na tevê. Essencialmente de alguns programas que só buscam humilhar os outros e rir da desgraça alheia. Sempre enfatizando os preconceitos arraigados na sociedade contra homossexuais, contra as mulheres, contra os negros, contra os índios, contra os pobres, sempre preocupados em agradar os setores mais atrasados, extremamente conservadores da elite econômica.
O filho do grande escritor Erico Verissimo, também gaúcho, completou 75 anos em setembro e tem produzido textos voltados para a sátira de costumes, sem agredir nossa inteligência. O seu primeiro livro foi publicado em 1973 com o título “O Popular: Crônicas ou Coisa Parecida”. Seus livros mais conhecidos, no entanto, são: “Ed Mort e Outras Histórias” (1975), O Analista de Bagé” (1981) e “A Velhinha de Taubaté” (1983), entre diversas outras publicações.
“Em Algum Lugar do Paraíso” prova que a graça da vida está em rirmos de nós mesmos e de questões cotidianas, sem precisar apelar para a grosseria. Quando ele fala sobre liberdade isso fica muito claro. “Dizer que a minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro é muito bonito. Mas e se a liberdade foi mal distribuída e o meu vizinho tem um latifúndio de liberdade enquanto a minha é um quintal de liberdade, liberdade mesmo que tadinha? Não é feio sugerir um reestudo da divisão”, escreve Verissimo e também diz: “há os que passam o dia inteiro livres e chegam em casa se queixando disso. São os motoristas de táxi.” Verissimo nos leva à gargalhadas, mas também a pensar, coisa que só humoristas de verdade conseguem fazer.
1- Em Algum Lugar do Paraíso, Luis Fernando Verissimo, Rio de Janeiro: Editor Objetiva, 2011, 200 páginas.
Abaixo uma crônica apropriada para a época que estamos vivendo:
CRER
O garoto me pediu um cavalo. Eu perguntei: “Um cavalinho de brinquedo?” Ele disse: “Não, um cavalo de verdade.” Eu disse que ia ver, mas que seria difícil carregar um cavalo no meu saco.
Ele ficou me olhando. Depois disse:
- Você não é o Papai Noel de verdade, é?
- Claro que sou. Por que você pergunta?
- Porque no outro xópi tem um Papai Noel igual a você.
- E você pediu um cavalo pra ele?
- Pedi. E ele disse que ia me dar.
- Bom, talvez o saco dele seja maior do que o meu.
- Mas o Papai Noel de verdade é ele ou é você?
                                                  * * *
O que dizer par ao garoto? É que nós temos o poder da ubiquidade, entende? Ubiquidade. A capacidade de estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Onipresença. Pergunte a sua mãe. Só existe um Papai Noel, mas ele está por toda parte. Está em todos os shoppings do mundo. Cada Papai Noel é a manifestação de uma mesma e única entidade superior. Só muda o nome e o tamanho do saco. Eu sei, é um conceito difícil de entender. Ainda mais na sua idade. Há anos, séculos, discute-se a natureza desta entidade multipartida. Existiu um Papai Noel histórico, que viveu e morreu, mas seu espírito perdurou, e perdura até hoje, porque a sua essência transcendia a materialidade. Sua sobre-existência supratemporal e a-histórica, como a definiria Kierkegaard, depende de uma predisposição da humanidade par ver na sua figura a idealização de um paradigma infantil e bom provedor, e a eternização da infância num “pai” amável que nunca morre, e volta, ciclicamente, todos os anos, ano após ano, na mesma data. NO resto do ano ele reassume a sua imaterialidade mas mantém-se introjetado nos que acreditam nele, controlando suas ações e pensamentos, que serão premiados ou punidos quando da sua rematerialização anual, numa espécie de Juízo Final parcelado. Eu, o Papai Noel do outro shopping e todos os milhares, milhões de papais noéis que surgem nesta época do ano somos apenas caras diferentes do mesmo ente reincidente que traz presente ou castigo, representando uma cosmogonia moral que rege o comportamento humano. Há quem diga que esta entidade que recompensa e pune não passa de um mito infantilizante que aprisiona a razão numa superstição obscurantista. Que Papai Noel não existe. Que eu sou uma fraude. Que Papai Noel do outro shopping é uma fraude. Que todos os outros papais noéis do mundo são impostores, que por trás das suas barbas falsas há apenas pobres coitados tentando faturar alguns trocados sazonais com a crença alheia, e enganando criancinhas. Não é verdade. Pode puxar minha barba. Eu existo, eu...      
                                                        * * *
Nisso o garoto fez xixi no meu colo. Foi levado pela mãe, com pedidos de desculpa. Melhor assim, pensei. Minha explicação só iria assustá-lo. E eu só estaria tentando convencer a mim mesmo. Sou gordo, tenho uma barba naturalmente branca, sou quase um predestinado para ser Papai Noel de shopping. Mas todos os anos preciso combater minhas dúvidas. Como em qualquer caso envolvendo crença e fé, o pior são as dúvidas. Com xixi eu nem me importo.                                 
                                                       * * *
Mas veja como crer é importante. Em seguida sentou no meu colo um homem dos seus 40 anos. Não queria me pedir nada, só queria colo. Tinha estourado o limite do seu cartão de crédito nas compras de Natal e precisava que alguém o consolasse.
*Colaborador do Outro Lado da Notícia

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