Sob o meu olhar

Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.

29/06/2013

A esquerda não pode piscar


 Saul Leblon - Blog das Frases

O Brasil ingressa num ciclo de turbulência do qual a democracia participativa poderá emergir como parteira de uma sociedade mais equilibrada e justa.

Mas a esquerda não pode piscar.

A disputa fratricida, hoje, é o coveiro das esperanças nacionais.

Nos anos 50, um pedaço das forças progressistas só foi perceber o seu lado no jogo quando o povo já incendiava os carros do jornal 'O Globo', em resposta ao tiro com o qual Getúlio encerrou a sua resistência e convocou a das massas.

Ontem, como agora, o enclausuramento ideológico, o acanhamento organizativo e a dispersão programática pavimentam o caminho da ameaça regressiva.

É a hora da verdade de toda uma geração.

Cabe-lhe sustentar um novo desenho progressista para o desenvolvimento do país.

Um notável volume de investimentos é requerido para adequar a logística social e a infraestrutura às dimensões de uma nação que incorporou milhões de pobres ao mercado de consumo nos últimos anos.

Agora lhes deve a cidadania.

O novo giro da engrenagem terá que ocorrer num momento paradoxal.

A recuperação norte-americana encoraja as apostas no fim da crise, mas complica a mecânica do crescimento na periferia do mundo, encarecendo o custo do capital.

Asfixiada antes pela valorização do Real, a indústria brasileira agora é o canal de transmissão da alta do dólar nos índices de preços, por conta das importações.

Dotado de uma base fabril atrofiada pelo irrealismo cambial, o país importa quase 25% das manufaturas que consome.

A sangria transfere empregos ao exterior e corrói o principal irradiador de inovação em um sistema produtivo, ademais de fragilizar as contas externas.

O déficit comercial da indústria este ano alcançará o equivalente a 20% das reservas cambiais.

É só um vagalhão da tempestade perfeita que cobra respostas em várias frentes: prover a infraestrutura, combater a inflação, resgatar a industrialização, dar progressividade ao sistema tributário, ajustar o câmbio, modular o consumo.

Tudo junto e com a mesma prioridade.

A urgência das ruas sacudiu essa equação que há menos de um mês tornava a economia cada vez mais permeável a uma transição de ciclo preconizada pelo conservadorismo.

Com um título sugestivo, ‘Um Plano para Dilma’, coube ao editorial da Folha de 02/06, como já comentou Carta Maior, enunciá-la em detalhes.

O ‘plano’ consistia em impor ao país o projeto derrotado em 2002, 2006 e 2010.

A saber: arrocho fiscal e monetário; entrega do pré-sal às petroleiras internacionais; redução dos gastos sociais e dos ganhos reais de salários; renúncia ao Mercosul e adesão aos tratados de livre comércio.

Essa plataforma envelheceu miseravelmente nas últimas horas.

Mas não foi arquivada.

O interesse conservador que antes pretendia usar o governo para escalpelar as ruas, subtraindo-lhe conquistas e recursos na ordenação de um novo ciclo, agora quer usar as ruas para desidratar o governo.

A bipolaridade reflete a ansiedade típica de quem sabe que joga a carta do tudo ou nada.

Não por acaso, o jornalismo a serviço do dinheiro já constata receoso: ‘o que a rua pede colide com o que o mercado pretende'.(Valor Econômico)

Curto e grosso: o espaço para um ajuste convencional se estreita na colisão entre a agenda do Estado mínimo e a da Democracia Social.

Quem dará coerência ao desenvolvimento brasileiro a partir de agora? -- perguntava Carta Maior há menos de um mês.

Antes turva, a resposta desta vez emerge mais limpa.

A nova coerência macroeconômica terá que ser buscada na correlação de forças redesenhada pelas grandes multidões que invadiram as ruas nas últimas semanas.

Emparedado pela lógica conservadora o governo Dilma passou a ter escolhas (leia a advertência de Paulo Kliass e a análise das opções orçamentárias feita por Amir Khair; nesta pág)

E o PT ganhou a chance de se reinventar, explicitando uma agenda clara para o passo seguinte da história.

Sua e a do país.

O bônus não autoriza o conjunto das forças progressistas a adotar a agenda da fragmentação suicida.

O focalismo cego às interações estruturais é confortável como um conto de fadas, em que a varinha de condão substitui a dialética.

O descompromisso com partidos e organização dá leveza e audiência na mídia conservadora.

Mas levam ao impasse autodestrutivo e à inconsequência histórica. Em entrevista ao correspondente de Carta Maior em Londres, Marcelo Justo, o pesquisador Paolo Gerbaldo, do Kings College, lembra que os indignados do Cairo rechaçaram os partidos na praça Tahrir. E abriram caminho a um governo desastroso da Irmandade Muçulmana no Egito (leia nesta pág).

Não se faz política sem poder; não se conquista poder sem disputar o Estado.

A responsabilidade de interferir num processo histórico pressupõe a adoção de balizas e estruturas que impeçam o retrocesso e assegurem coerência às mudanças.

Sem alianças aglutinadoras, nada feito.Sem construir linhas de passagem entre o real e o ideal, semeia-se angústia e decepção.

O jogo é pesado.

Limites estritos à ação convergente do Estado (mínimo) foram erguidos em todo o mundo nos últimos 30 anos.

A liberdade dos capitais manteve nações, projetos, partidos e governos sob chantagem impiedosa.

Domínios insulares foram instalados no interior do aparato público.

O conjunto elevou a tensão política que explode periodicamente, como agora --como em 2002, em 2006 e em 2010-- quando os mercados blindados se preparam para enfrentar a democracia insatisfeita nas urnas.

Teoricamente, essa é a hora em que o bancário e o banqueiro tem o mesmo peso no escrutínio do futuro.

Na prática, é a locomotiva dos grandes levantes populares que delimita a fronteira da democracia social em cada época. A urna, em geral, dá o acabamento do processo.

A alavanca brasileira, no caso, foram os levantes operários do ABC paulista dos anos 70/80 e a luta cívica contra a ditadura militar.

Nasceria daí o PT.

E o subsequente ciclo de governos do partido, caracterizado pela negociação permanente do divisor entre os dois domínios, o do dinheiro e o dos interesses gerais da sociedade.

Negociou-se ‘sem romper contratos’ durante os últimos 12 anos.

Com acertos, equívocos e hesitações fartamente listados.

Ainda assim, o saldo configura ‘um custo Brasil’ intolerável aos interesses acantonados no polo oposto do braço de ferro.

Um dado recente do Ipea explica essa rejeição: a renda dos 10% mais pobres cresceu 550% mais rápido do que a dos 10% mais ricos, no Brasil dos últimos 12 anos.

Avançar à bordo da composição de forças que delimitou a ação progressista até aqui tornou-se cada dia mais penoso.

Não apenas por conta do esgotamento real de um ciclo econômico.

Mas também porque se descuidou de prover a sociedade de instrumentos para comandar o passo seguinte do processo.

A ausência de regulação que assegurasse um sistema audiovisual pluralista entregou a opinião pública à Globo.

A negligência com a organização democrática dos segmentos beneficiados pelas políticas públicas estreitou o seu foco nas gôndolas dos supermercados.

Faltava a locomotiva da história apitar outra vez para esticar os limites do possível na discussão do novo ciclo de crescimento que o país requer.

Foi o que as ruas fizeram.

A presidenta Dilma viu o bonde passar e não hesitou. Reagiu na direção certa.

Ao propor uma reforma plebiscitária para redesenhar os perímetros da democracia, deixou implícito --queira ou não-- que a soberania popular é também o único impulso capaz de harmonizar as balizas do novo ciclo de desenvolvimento.

Não é pouco o que se tem sobre a mesa.

Vive-se um meio fio histórico.

De um lado, há a chance de uma ruptura efetiva do desenvolvimento brasileiro com a camisa de força do neoliberalismo.

De outro, a espiral descendente dos impasses pode jogar o país no abismo de uma recaída ortodoxa devastadora.

O tempo urge.

Terão as lideranças progressistas discernimento e prontidão política para negociar uma agenda comum feita de bandeiras, fóruns e ações que ordenem essa travessia?

A ver.

Um comentário:

  1. Carmem, O texto acima contém algumas análises corretas outras totalmente ideologizadas, tendeciosas mesmo. Um exemplo são os erros que o governo cometeu nos últimos 10 anos. Cambio flutuante não funciona em nenhum lugar do mundo. Câmbio não é e não pode ser regido pelo mercado, ele deve ser reflexo momentâneo da economia de um país. O estrago vem sendo previsto há tempos; mesmo eu tenho feito a previsão lógica de que essa bolha iria estourar.

    Assim como o governo vem fazendo escolhas erradas, suportando e até apoiando corrupção em troca de apoio político nas casas do Congresso e estados da nação. A resposta de Dilma foi errada, o povo quer que ela resolva, não que receba uma carta em branco para legislar e alterar a Constituição. Se pode fazer MP para agradar seus amigos ricos, porque não pode para regular e ajustar a política no país? O governo também erra em sua política social. Ela (a política social) tem sido assistencialista, e assim tem sido perpetuada, sem nenhuma movimentaçao rumo a mudanças profundas no país. Educação e Saúde estão abandonados; a simples presença de uma criança na escola não significa nada, sendo apenas uma medida demagoga. Arrocha salários e ve os quadros de médicos, professores e outros profissionais a serviço do governo se deteriorarem enquanto o BNDS toma bilhões do Tesouro Nacional para financiar empresas e endinheirados que vêm seus impérios falirem por ineficiência, ou por má fé mesmo.

    São os jovens de classe média que estão nas ruas? São sim! A classe média está cansada de pagar por todas essas contas. Históricamente no país quem paga impostos é a classe média. Empresas, ricos e pobres nada ou pouco contribuem, através de isenções e benesses de todos os tipos. Por último ainda vêm as melhores vagas de trabalho serem ocupadas por estrangeiros e suas carreiras profissionais prejudicadas pela fraqueza do governo que abre as portas do país a estrangeiros desempregados na UE e EUA, e mesmo em postos mais baixos somos prejudicados por asiáticos que se submetem a salários mais baixos.

    O texto só acerta em quatro pontos: o primeiro de que a crise na balança comercial, inflação, etc. atual, é resultado de políticas econômicas equivocadas e populistas.

    O segundo que a grande imprensa ligada ao grande capital vem insuflando a população contra o governo desde sua primeira eleição, no início da década passada. Mas em nenhuma hipótese isso significa um embate entre minimalismo de Estado X Estado Provedor. Ninguém esqueceu a era nefasta de FHC e cia., mas ninguém está contente com a inoperância do PT em alavancar o país a uma condição social realmente justa e equalitária. As ruas não foram tomadas para que a incompetente pedisse uma carta branca para fazer o que quisesse, mas para que ela desse uma resposta clara aos ânseios da população. Não se viu uma única voz solicitando reforma política. Ela mais uma vez demonstrou inabilidade política e incompetência administrativa.

    O terceiro é que o PT ganhou a chance de se reinventar, acontece que a resposta errada oferecida em rede nacional está jogando isso pela janela.

    O quarto ponto é que não se faz estado sem partidos e organização. Longe estamos do Anarquismo, então nossa presidente tem pouco mais de um ano para começar a responder condignamente aos anseios das ruas, ou então adeus PT. Outras forças irão se articular também. PSDB já está na corrida, mas pode apostar que novos personagens vão aparecer nessa história, e com grandes chances de êxito, porque os dois primeiros e já conhecidos concorrente já foram um rechaçado, ou outro recebeu um ultimato.

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