Em novembro de 2011, seis meses antes que os Estados Unidos dessem à Colômbia um certificado de ‘boa saúde’ e permitisse que o Tratado de Livre Comércio fosse eleito entre ambas nações, paramilitares invadiram a casa de Juan Carlos Galvis, em Barrancabermeja. Dois invasores vestidos de negro colocaram uma pistola na cabeça da filha de Galvis e disseram a sua mãe que a matariam. Outra criança foi atada e amordaçada.
Por David Bacon*, da CIP Américas
Em seguida, os invasores perguntaram onde estaba Galvis e seu filho. Quando a familia não pode dizer o que queriam saber, pintaram com spray slogans na cara e no cabelo da esposa de Galvis, Mary Jackeline Rojas Castañeda, uma ativista nol Movimento Popular da Mulher. Esta não era a primeira vez que paramilitares buscavam a Galvis e a seu companheiro de trabalho, William Mendoza. Ambos têm sido ameaçados e atacados durante vários anos, porque são líderes de Sinaltrainal, o Sindicato dos trabalhadores da companhia que engarrafa para a Coca Cola.
Em 2003, o carro de Galvis recebeu vários impactos de bala depois de ter sido ameaçado pelo grupo paramilitar "Morte aos Sindicalistas”. A esposa de Mendoza evitou uma tentativa de sequestro de sua jovem filha em um parque público um ano antes. Depois disso, Mendoza mudou-se para longe da cidade, como Galvis fez depois da invasão de sua casa. Porém, eles não deixaram Barrancabermeja por si mesmos.
Ambos dizem que a implementação do Tratado de Livre Comércio deu ao governo colombiano o sinal verde para retomar os ataques aos sindicalistas, apesar das promessas de que um Plano de Ação Trabalhista os protegeria. Sindicalistas ainda estão sendo assassinados na Colômbia apesar dos compromissos assumidos no Plano de Ação Trabalhista, acordado com o governo dos Estados Unidos. Oito membros do Congresso dos Estados Unidos anunciaram, em setembro, que, apesar do progresso alcançado durante os 17 meses desde o lançamento e assinatura do Plano, "precisa ainda muito trabalho para garantir que seus objetivos convertam-se em realidade”.
O acordo sobre direitos trabalhistas, assinado entre o presidente Santos e o presidente Obama, em abril de 2011, comprometeu-se a oferecer proteção aos sindicalistas e a adotar medidas para tratar a violência antissindical. Trata-se de uma condição essencial para a ratificação do acordo de livre comércio entre ambos países pelo Congresso estadunidense. Segundo estatísticas proporcionadas pela Escola Nacional Sindical, a principal organização encarregada de observar o setor trabalhista na Colômbia, 34 sindicalistas foram assassinados e 485 líderes receberam ameaças de morte desde que o Plano de Ação Trabalhista começou a ser executado.
"Apesar de que o Plano de Ação Trabalhista incluiu medidas significativas, seu alcance era demasiado limitado”, a AFL-CIO, a maior Federação de Sindicatos nos Estados Unidos, reportou em julho de 2012. "Tampouco resolveu as graves violações da liberdade sindical e nem a contínua violência e ameaças contra defensores dos sindicalistas e dos direitos humanos”.
No dia 14 de dezembro, um mês depois da invasão da residência de Galvis, tanto ele quanto Mendoza foram acusados de "terrorismo”, como consequência da explosão de uma bomba em uma planta engarrafadora local há quatorze anos. As testemunhas chamadas pela promotoria são paramilitares, em prisão pelo assassinato de ativistas trabalhistas e do movimento social. "Uma vez que o acordo de livre comércio foi assinado, o governo colombiano já não tinha medo de que uma votação no Congresso dos EUA poderia ir contra eles”, diz Mendoza. "O governo colombiano tentou utilizar falsas acusações contra nós anteriormente. Agora, se nos metem na prisão novamente, jamais sairemos de lá vivos”.
Três homens acusam a Galvis e a Mendoza. Um, Rodrigo Pérez Alzate, é o comandante de um grupo paramilitar denominado "Bloque Bolívar Central”, preso porque confessou 45 assassinatos. Pérez diz que Galvis é simpatizante de guerrilheiros armados, uma acusação que, historicamente, é utilizada contra sindicalistas para torná-los alvos de violência. A segunda, Wilfred Martínez Giraldo, esteve a cargo dos paramilitares em Barrancabermeja. A terceira, Saúl Rincón, trabalhou como guardião na fábrica engarrafadora e está em prisão por assassinar o tesoureiro do Sindicato de Trabalhadores do Petróleo (USO), em Barrancabermeja.
Mendoza explica: "Eles dizem que a bomba que explodiu, provavelmente, foi colocada pelo EPL (um dos grupos guerrilheiros da Colômbia), foi utilizada pelo Sindicato para pressionar a empresa a fazer concessões. Porém, nesse ano, nós tivemos realmente que fazer concessões à companhia para evitar fechar a fábrica. Nós não tínhamos nenhuma conexão com o atentado e não tínhamos nada a ganhar com este. A acusação foi fabricada anos mais tarde e ainda não tem sentido”.
Por décadas, grupos paramilitares têm sido ligados aos militares colombianos e ao governo. Na teoria, eles foram desmobilizados em 2004 e 2005 Porém, em seu lugar, formaram-se novos grupos, como os Rastrojos. Em Barrancabermeja, os residentes dizem que atuam como os antigos paramilitares, e controlam setores inteiros da cidade. No dia 17 de agosto passado, os Rastrojos distribuíram um folheto, anunciando: "Não estamos brincando. Essa é nossa última advertência às organizações da guerrilha que se escondem detrás da retórica dos defensores de direitos humanos”. Mencionaram a Sinaltrainal e ameaçaram: "Nós delcaramos nosso objetivo de ser uma sentença de morte. Nós temos a William Mendoza, o líder da guerrilha, bem identificado”.
Nas últimas duas décadas, outros dirigentes assassinados de Sinaltrainal incluem a Isidro Segundo Gil, José Avelino Chicano e Óscar Darío Soto Polo. Quando os tribunais colombianos não castigam aos assassinos desses e de outros dirigentes sindicais, Sinaltrainal acudiu à Corte Federal dos Estados Unidos, na Flórida, em 2000 com os Sindicatos United Steel Workers e The International Labor Rights Fund, acusando e responsabilizando a Coca-Cola sob a lei Alien Tort Claims Act. Finalmente, a Corte da Flórida declarou que a Coca-Cola não tinha controle sobre suas engarrafadoras colombianas. Porém, o caso ajudou a pressionar aos negociadores do Tratado de Livre Comércio através das concessões que eles prometeram que acabaria com os assassinos – o Plano de Ação Trabalhista.
Muitos outros sindicatos sobre o terreno confirmaram que o Plano não parou aos assassinos. Johnson Torres, membro do sindicato de cortadores de cana de açúcar, Sinalcorteros, disse a uma audiência em Washington, em junho passado, que Daniel Aguirre, Secretário Geral do sindicato, foi assassinado no dia 27 de abril. "Depois de nossa greve de dois meses, foi capaz de melhorar as condições de trabalho, o governo colombiano acusou a vários de nossos membros e a nossos aliados de conspiração e sedição”, declarou.
Cinco membros de Fensuagro, o maior sindicato da Colômbia para os trabalhadores agrícolas, foram assassinados em Cauca. Os ataques a Fensuagro foram tão violentos que Leo Gerard, Presidente da United Steelworkers, escreveu uma carta em nome de sue sindicato e do sindicato Unite, da Inglaterra ao governo colombiano pedindo que esse se posicione e resolva a questão. Fensuagro é alvo da violência, diz Gerard, "por seu ativismo no campo trabalhista e na busca da paz. Em alguns casos, aprece que o próprio exército colombiano pode estar envolvido nessa violência”.
Para Edgar Páez, representante internacional de Sinaltrainal, "os paramilitares são um projeto de Estado para proteger às empresas transnacionais na Colômbia. Quem levantar a voz com uma visão diferente é candidato a ser assassinado”. O objetivo é "um ambiente muito mais favorável para a exploração de nossos recursos naturais e nossa força de trabalho”.
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