Por Redação, com agências internacionais - de Nova York, EUA
Assembleia Geral das Nações Unidas elevou o status da Palestina para
“Estado observador não membro”. Para especialista, palestinos moderados
do Fatah optaram pela única via que lhes restava. A Assembleia Geral das
Nações Unidas votou nesta quinta-feira, em Nova York, a resolução para
elevar o status da Palestina a Estado observador não membro, implicando
um reconhecimento da Palestina como Estado. A vitória dos palestinos é
um avanço, para a maioria dos analistas.
– Uma vitória política para os palestinos e uma derrota para
Jerusalém – disse o cientista político Yossi Mekelberg, do Instituto de
Pesquisas Chatham House, de Londres, poucas horas antes da votação.
A grande maioria dos Estados-membros, incluindo potências europeias
como a França, apoiam a resolução encaminhada pelos palestinos em
setembro do ano passado, e a resolução precisou apenas de uma maioria
simples para ser aprovada. A Palestina passa, agora, ao status de Estado
observador não membro das Nações Unidas, da mesma forma que o Vaticano.
Pouco antes da aprovação, a pressão internacional sobre os palestinos
crescia. Ainda na manhã desta quarta-feira, diplomatas dos Estados
Unidos e do Reino Unido se reuniram com o presidente da Autoridade
Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, para tentar convencê-lo a retirar a
resolução na última hora. Eles argumentavam que o passo unilateral fere
acordos assinados pelos palestinos. Abbas, no entanto, descartou o
pedido.
No curto prazo, a votação não deverá mudar a situação política entre
israelenses e palestinos, avaliou Mekelberg. Mas é bem possível,
acresceu o cientista, que o status de observador seja logo seguido pela
condição de membro pleno. Pois se os Estados Unidos não tivessem
bloqueado esse pedido no Conselho de Segurança, os palestinos já seriam
há muito tempo membros da ONU.
– A maior parte da comunidade internacional não conseguia entender
por que os palestinos, que afinal de contas governam uma Cisjordânia
independente, não podem obter, ao menos, o status de observador – opinou
Mekelberg.
Assentamentos israelense
Tal status é justamente o que espera o moderado Fatah, que governa a Cisjordânia.
– Com nosso pedido, tentamos salvar a solução de dois Estados – disse
Xavier Abu Eid, um porta-voz da equipe de negociação palestina, à
agência alemã de notícias Deutsche Welle. Segundo ele, o reconhecimento
pela ONU é um sinal claro de que “nosso país é um Estado sob ocupação”, numa referência à política de assentamentos de Israel.
Israel continua a construir assentamentos na Cisjordânia. Esse é o
maior obstáculo para novas negociações de paz, disse Mekelberg. Ele
afirmou não acreditar que o reconhecimento ponha um fim ao impasse:
– O argumento dos israelenses é: enquanto os palestinos tomarem
passos diplomáticos de forma unilateral, os israelenses irão criar
fatos, continuando a construir assentamentos.
O porta-voz do Ministério do Exterior de Israel, Paul Hirschson, criticou o procedimento dos palestinos.
– Com a iniciativa, os palestinos violam os acordos de paz de Oslo,
que prescrevem que todas as questões pendentes devem ser resolvidas
através de negociações – afirmou.
Segundo ele, um passo unilateral nas Nações Unidas leva Israel a não
confiar mais que os palestinos irão cumprir outros acordos. O
reconhecimento teria “efeitos muito negativos” sobre as relações entre
as duas partes, acresceu o porta-voz.
– Os palestinos não constroem laços, eles os destroem – criticou a autoridade israelense.
Para Mekelberg, o Fatah não tinha outra alternativa a não ser
escolher o caminho de Nova York. Pois, militarmente, os palestinos são
mais fracos do que Israel, e a cada ação militar israelense, os radicais
do Hamas saem fortalecidos à custa do Fatah, que aposta numa solução
diplomática. Assim, resta somente a via diplomática.
– Mas pela via política nada acontece, enquanto os assentamentos
continuam a crescer. Por isso, o Fatah não tem opção a não ser escolher a
Assembleia Geral e manter a esperança de que a comunidade internacional
obrigue ambos os lados a sentar-se à mesa de negociações – opinou
Mekelberg.
Se o impasse diplomático entre Israel e Palestina não chegar ao fim, é
possível que “os palestinos empreendam vários atos de desespero, para
que a questão palestina continue presente na agenda e mídia
internacionais”, disse Mekelberg. Assim, após o reconhecimento, o Fatah
poderia processar Israel perante o Tribunal Penal Internacional. Mas o
Fatah teria prometido não fazê-lo enquanto a União Europeia (UE) e
países como o Reino Unido e a França apoiarem a inclusão da Palestina na
ONU.
– Mas a tentação talvez seja grande demais – avaliou Mekelberg.
Principalmente porque os EUA e a UE estão ocupados demais com a crise
econômica e os efeitos da Primavera Árabe, deixando de lado a questão
palestina.
Os palestinos podem entrar com ações no Tribunal Penal Internacional,
disse Hirschson, do Ministério do Exterior israelense. Mas, dessa
forma, eles só estariam perdendo tempo – “e, em algum momento, poderiam
eles mesmos estar sentados no banco dos réus.”
A elevação do status da Palestina divide os países europeus. Além da
França, Espanha, Portugal, Áustria, Suíça, Irlanda, Dinamarca e Noruega
já manifestaram apoio à iniciativa. O Brasil também apoiou a iniciativa
palestina. A Alemanha disse que não aprovará a resolução. O Reino Unido
indicou que vai se abster, a não ser que os palestinos deem garantias
públicas sobre determinados pontos, como a retomada à mesa de
negociações.
Sinos dobram
As administrações palestinas na Cisjordânia confirmaram que os sinos
das igrejas badalarão por volta da meia-noite desta quinta-feira para
anunciar o reconhecimento da Palestina como estado observador da ONU,
informou a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). O som dos
sinos, em comemoração, serão o último dos atos populares previstos pelo
governo do presidente da Autoridade Nacional Paletina, Mahmoud Abbas,
após a aprovação de seu pedido à Assembleia Geral, em um dia que se
tornou uma verdadeira festa por todo o território autônomo sob sua
responsabilidade.
As celebrações começaram às 11h locais (7h de Brasília) com uma
concentração popular ao som de música na Praça Yasser Arafat, em Ramala,
com participação dos grupos palestinos Al Hanoneh e Fononiat. Ao
meio-dia, dirigentes políticos do partido Fatah, presidido por Abbas, do
movimento islamita Hamas e dos grupos Jihad Islâmica e Frente Popular
de Libertação da Palestina (FPLP) falaram aos participantes.
Após anos de rivalidade, os grupos islamitas Hamas e Jihad apoiaram o
pedido de Abbas à ONU na segunda-feira e defenderam que a aposta
internacional seja baseada em perspectiva e estratégia nacionais, em
benefício do conjunto dos palestinos, e não de interesses partidários.
Nesse sentido, os palestinos receberam a votação, que acontecerá na
Assembleia Geral por volta de meia-noite, como uma jornada de festa
nacional e bandas musicais e membros dos escoteiros marcharão pelas ruas
das principais cidades na Cisjordânia ao longo de todo o dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário