A consciência de renda e a geografia urbana
Vivemos um momento histórico e sem precedentes. Grandes países do
mundo todo, de todos os continentes, estão com democracias consolidadas e
em processo de consolidação. Europa, América do Norte, Oceania, América Latina, África e Ásia.
Mas essas democracias sofrem de um grande problema: a consolidação de uma “classe de poder” com o poder e os recursos econômicos da sociedade. Nessa nova classe rica
há de tudo: capitalistas (da indústria, das finanças e do comércio, que
são seus grandes financiadores), mas também há sindicalistas,
políticos, jornalistas, trabalhadores, desembargadores, comunistas,
socialistas etc. É a opulência da modernidade que substitui a consciência de classe, como definido pela sociologia.
A evidência dessa consolidação de uma classe rica das democracias
(uma classe de poder) que traz em si essa diversidade que dificulta
profundamente os caminhos utópicos em busca das transformações sociais,
da diminuição da desigualdade, da consolidação de sociedades estáveis e
de bem estar social para toda a população.
Apesar da boa condição econômica da Europa e dos Estados Unidos,
são exatamente nesses países que se verifica pouca ou nenhuma mudança
com a alternância de poder dentro das democracias. A política do
direitista se difere pouco da política do esquerdista. Os comunistas
ficaram ricos, os socialistas estão endinheirados, os sindicalistas
estão abonados.
Há uma certa acomodação generalizada que solidifica uma dificuldade
muito maior para se compreender a sociedade do que o conceito do
trabalho e classes sociais. Uma cena sintomática da nova realidade foi
ver o deputado comunista Aldo Rebelo em visita ao aniversário de 80
anos de Paulo Maluf. Esse é o novo símbolo da democracia contemporânea, a
civilidade das ideologias. O trabalho se torna cada vez mais
inconsistente para os marxistas.
Qual a diferença estrutural entre os socialistas e os liberais da
Europa? O que diferencia Obama e de Bush? Qual a diferença entre o
partido trabalhista inglês e o conservador? Praticamente são as mesmas
políticas. Durante as eleições de Lula se ensaiou uma discussão entre
ricos e pobres. Apesar das diferenças entre os governos de FHC e Lula
não serem muito radicais, um país como o Brasil -
com tamanha desigualdade – permitiu uma mudança de foco no governo Lula
que deu dinamismo à sociedade. Isso fez com que durante as eleições
houvesse intensa discussão sobre o pobre o o rico, que se arrefeceu após
a eleição.
Essa é na verdade a consciência mais revolucionária que pode existir
nas democracias representativas contemporâneas. Veja, nem aqui e nem em
lugar nenhum do mundo o rico paga imposto e, se paga, paga a mesma
proporção que o cidadão de classe média e pobre. Há uma interdependência
mais radical e proeminente entre o grupo rico (do poder) e os pobres
(sociedade) atualmente do que a interdependência entre capital e
trabalho. Faz-se necessário à sociologia o desenvolvimento de teoria
marxista da renda fundada em conceitos extraídos das relaçõs sociais
presentes nas democracias representativas contemporâneas. A consciência
de renda parece trazer à tona as estruturas escondidas na legalidade
dessas democracias.
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