É próprio do capachismo, dos que servem à contrarrevolução,
geralmente desprovidos de elevação política e de energia ideológica,
promover o aniquilamento moral de uma nação. Não mensuram sequer a
história e a cultura, galgadas na luta transformadora de sua pátria. Só
se consomem os neurônios de perversidade e de miséria, quando o mundo
hodierno se vê às voltas com a superconcentração do obeso capital
predatório. Quando, sobremaneira, à amplitude por satélites, acende a
universal consciência social, também aversão ao imperialismo
estadunidense. E, nem com todo o modus operandi de cooptar e subornar mercenários, os governos norte-americanos têm contido a reação dos povos oprimidos.
Na devida proporção, sem embaraço da dúvida, de todas as revoltas do
século passado, a revolução cubana é a que, memorável láurea dos seus
mártires, mais afrontou o poder dos Estados Unidos. Sobretudo, por
resistir, à veia da paixão, com os olhos da dignidade e excelência em
educação e saúde públicas, ao odioso bloqueio imposto à Ilha. Quem mais
ousou direcionar mísseis tão próximos aos olhos de Kennedy? Que
lideranças revolucionárias sobreviveram à lista negra da CIA? Ora,
nessas seis décadas de socialismo naquele pequeno território de 110.922
km², onde o fantasma de invasão pela maior nação armipotente inquietou o
governo dos Castro, a imprensa internacional estampou em suas manchetes
todo tipo de atrocidade contra nações soberanas; mormente, as
“democracias” de conflitos sociais na América Latina e a estultícia
primitiva no Oriente Médio (sempre sustentada pelo Pentágono). A
imposição e manutenção do Estado de Israel, governado por insanos
paus-mandados da Casa Branca, para infernizar os povos do entorno; mas
que os judeus civilizados desaprovam a violência contra palestinos.
Não nos esqueçamos, jamais, da bruteza atômica sobre Hiroshima e
Nagasaki, da imundície contra o Vietnã, da cafrice que rachou a Coreia,
dos traumáticos golpes de Estado nos anos de 1960/70, planejados pelos
EUA e executados por entreguistas fardados no Brasil, no Chile, no
México e na Argentina, para o “equilíbrio” das economias opressoras.
Não, não nos deixemos claudicar, nem por um átimo das pestanas, que a
cumplicidade de governantes e a falta de resignação coletiva dos que
produzem a riqueza nacional caracterizam hoje a vulnerabilidade
econômica destes países latino-americanos. Até porque não têm estruturas
de reação estratégica, diante de possíveis investidas dos
expropriadores belicamente arrogantes. O perigo está a fumo dos fatos
internacionais. Assim, quando os cogumelos de fogo caem sobre as cabeças
de civis, muitos politicantes que se definem “da esquerda” imitam a
raposa do desenho animado: “Oh, céus! Oh, vida!... Saída pela direita”.
Talvez, um dos pecados da revolução cubana seja não ter investido e
levado a prumo um plano audacioso de seleção, formação política e de
preparação técnica às lideranças anticapitalistas dos principais países
deste continente, como almejou o visionário Che Guevara (embora o erro
tático na aceitação da medalha ao mérito por Jânio Quadros e tentativa
de mobilização na Bolívia). Se tivesse, a inteligência política cubana,
medido melhor as consequências dos golpes de Estado e, sagazmente,
proporcionado condições de organização de resistência pontual nas
regiões sul e sudeste do Brasil, consideradas as peculiaridades locais,
talvez o êxito dos revolucionários chegasse aos ares de libertação
ampla. Ao invés de investir nos zé-dirceus da vida, a luta contra nosso
oficial inimigo em comum talvez anulasse os efeitos do bloqueio a Cuba.
Se Fidel Castro, tenaz comandante, respeitada sua atual decrepitude e
íntegra lucidez, ainda representa o símbolo de liderança e tradição em
seu país, melhor fosse ao regime imprimir o conceito de que a revolução
está acima de idolatria e de valores individuais. O ardor da eloquência
só se sustenta nos ideais de transformação contínua. A revolução é mais
do que todo um processo de evolução no espaço e no tempo: traz no seio
dos fortes o DNA da civilização e o espírito de Liberdade. Mais
consistente à revolução, em face de intempéries das adversidades, é
resistir com o exército de cidadãos leais e politizados, atentos às
armadilhas capitalistas, que implicam em retrocesso. A iminente falta de
Fidel não poderia fraquejar a revolução nem subjugar o povo cubano aos
arrotos de Washington. Cuba não está isolada nesta luta: há outros
países que a apoiam. Amemos a revolução de Cuba! E que a transição para
outro governo assegure hasta siempre a soberania e a grandeza
da nação. Sabe-se que significativas e rápidas mudanças estão em curso
pelo governo socialista, objetivando o pleno desenvolvimento da Ilha.
Com o advento da comunicação online, internautas de toda matiz, de
dígitos a dólar, investem contra governos diversos. Todavia, há que se
distinguir tirania a mando de elites da de liderança pelo povo. Pois
então! Yoani Sánchez não poderia ter sido mais infeliz ao escolher o
Brasil para “denunciar a falta de democracia” em Cuba. Acaso sabe ela de
que, secularmente, a sina na terra à vista das naus é de
ditadura da escravidão e da opressão? Tivesse essa tempestuosa crítica
nascido na árida vida do nordeste das oligarquias (cuja mortalidade
infantil chegou a 45% e o índice de analfabetismo chegou a 33% da
população em 2000), alcançaria estudos de qualidade? Se formada em
jornalismo pelo Prouni, teria autonomia de expressão, e expressão
panfletária, nas principais mídias patrocinadas por multinacionais e
políticos de rapina? Ainda, se nesses dias em que percorreu cidades
brasileiras se sentisse mal e enfrentasse a via-crúcis do SUS, então
refletiria a medicina cubana? Por que não diz que Cuba socorreu as
vítimas da catástrofe do Haiti, enviando, solidariamente, 2.700 médicos?
Que Cuba é vanguarda nos estudos de cura da AIDS?
O que ela conhece da alternância de poder privatizante entre tucanos e
petistas, de casas-grandes e de urbessenzalas, de desmando e impunidade
à brasileira? Do comércio de sentenças por “marginais de toga”? De
“punições” a maus magistrados com aposentadoria compulsória sem perda de
vultosos vencimentos? Passou-lhe pelo juízo se Havana tolerasse o
escárnio de Sarney, Collor, Calheiros, Genoíno e demais fajardos do bem
público? Yoani tem noção do que é agora aquela UNE de rebeldes
sequestradores do cônsul americano? A ingrata visitante sentiu abraços
de amigos da onça do sindicalismo em São Paulo? A que termos ela
descreve essa democracia brasileira, de voto obrigatório, ao rumo de
eleitores e eleitos de pouca instrução política? E que nosso parlamento
federal possui, dentre Suas Excelências, um célebre profissional palhaço
– debochado Tiririca, tímido Francisco Everardo (o mais votado, que
inspirou outro truão nas recentes eleições italianas)?
Alertaram tal blogueira que o número dos que não sabem ler aqui
supera toda a população cubana (alfabetizada!)? E que o Brasil amontoa
aproximadamente 700 mil pessoas encarceradas, em más condições de
ressocialização? E que transtornos psiquiátricos atingem 25% dos
brasileiros, incluindo adolescentes? E que o número de jovens dizimados
pelo tráfico neste país “abençoado por Deus” é de assanhar carnífices
mafiosos? E que o nosso modelo de distribuição de renda traduz-se à mera
Bolsa-Família? E que nossa Previdência Social premia com salário mínimo
80% de seus beneficiários? E que a felicidade da nossa massa
anestesiada mantém-se a bebida, a drogas psicotrópicas, a carnaval e a
futebol, senão a promessas de bem-aventurança no Céu? E que a boa-vida
de gala neste paraíso verde-amarelo nunca paga imposto sobre fortunas?
É certo de que o debate caloroso e equilibrado contribui à
florescência de grandes ideias. Que a vida humana é inerente à dinâmica
do Universo. Que a humanidade já pagou caro o preço da “desobediência”
no Éden e por furtar a luz de Zeus, bla-bla-blá, mal-e-mal... E que
breve o Vaticano dos escândalos cairá em ruínas como o Império Romano.
Muito certo que a revolução digital deva se estender a todos os recantos
do Planeta. Que se almeje tecnologia de ponta também em Cuba, para
superação do argumento de “bloqueio”; e que o Deus da Misericórdia não
permita a síndrome do consumismo perverter a juventude do país.
Certíssimo que socialismo pressupõe liberdade e igualdade de vida à luz
do horizonte.
Mas, se essa xereta de problemas, supostamente a serviço da CIA,
subestima ativistas e simpatizantes do regime cubano, melhor que se
contenha na advertência do seu superego. Ou, se ela domina bem a arte
cênica, deveria é propor erguer uma estátua de Fulgêncio Batista em
lugar reservado a “ilustres” no Congresso Nacional brasileiro, com
direito a discursos inflamados de Paulo Maluf e Jair Bolsonaro, arautos
dos milicos, sob os aplausos da bancada reacionária.
Veja aqui, Yoani Sánchez! Nem todos os formadores de opinião
brasileiros têm olhos e ouvidos de basbaque para dar-lhe holofotes da
fama. Quando, enfim, mesmo à meia-máscara da cara-de-pau, se aperceber
dos malefícios do capitalismo (que, a exemplo de tantos/as
mercenários/as, após serem usados, são imperdoavelmente eliminados),
certamente, trataria com zelo da sua imediata torna-viagem a Cuba, nem
que seja num bote de salva-vidas.
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