02/03/2013

A contrarrevolução de uma blogueira

Por Julio Cesar Castro - Correio da Cidadania

É próprio do capachismo, dos que servem à contrarrevolução, geralmente desprovidos de elevação política e de energia ideológica, promover o aniquilamento moral de uma nação. Não mensuram sequer a história e a cultura, galgadas na luta transformadora de sua pátria. Só se consomem os neurônios de perversidade e de miséria, quando o mundo hodierno se vê às voltas com a superconcentração do obeso capital predatório. Quando, sobremaneira, à amplitude por satélites, acende a universal consciência social, também aversão ao imperialismo estadunidense. E, nem com todo o modus operandi de cooptar e subornar mercenários, os governos norte-americanos têm contido a reação dos povos oprimidos.

Na devida proporção, sem embaraço da dúvida, de todas as revoltas do século passado, a revolução cubana é a que, memorável láurea dos seus mártires, mais afrontou o poder dos Estados Unidos. Sobretudo, por resistir, à veia da paixão, com os olhos da dignidade e excelência em educação e saúde públicas, ao odioso bloqueio imposto à Ilha. Quem mais ousou direcionar mísseis tão próximos aos olhos de Kennedy? Que lideranças revolucionárias sobreviveram à lista negra da CIA? Ora, nessas seis décadas de socialismo naquele pequeno território de 110.922 km², onde o fantasma de invasão pela maior nação armipotente inquietou o governo dos Castro, a imprensa internacional estampou em suas manchetes todo tipo de atrocidade contra nações soberanas; mormente, as “democracias” de conflitos sociais na América Latina e a estultícia primitiva no Oriente Médio (sempre sustentada pelo Pentágono). A imposição e manutenção do Estado de Israel, governado por insanos paus-mandados da Casa Branca, para infernizar os povos do entorno; mas que os judeus civilizados desaprovam a violência contra palestinos.

Não nos esqueçamos, jamais, da bruteza atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, da imundície contra o Vietnã, da cafrice que rachou a Coreia, dos traumáticos golpes de Estado nos anos de 1960/70, planejados pelos EUA e executados por entreguistas fardados no Brasil, no Chile, no México e na Argentina, para o “equilíbrio” das economias opressoras. Não, não nos deixemos claudicar, nem por um átimo das pestanas, que a cumplicidade de governantes e a falta de resignação coletiva dos que produzem a riqueza nacional caracterizam hoje a vulnerabilidade econômica destes países latino-americanos. Até porque não têm estruturas de reação estratégica, diante de possíveis investidas dos expropriadores belicamente arrogantes. O perigo está a fumo dos fatos internacionais. Assim, quando os cogumelos de fogo caem sobre as cabeças de civis, muitos politicantes que se definem “da esquerda” imitam a raposa do desenho animado: “Oh, céus! Oh, vida!... Saída pela direita”.

Talvez, um dos pecados da revolução cubana seja não ter investido e levado a prumo um plano audacioso de seleção, formação política e de preparação técnica às lideranças anticapitalistas dos principais países deste continente, como almejou o visionário Che Guevara (embora o erro tático na aceitação da medalha ao mérito por Jânio Quadros e tentativa de mobilização na Bolívia). Se tivesse, a inteligência política cubana, medido melhor as consequências dos golpes de Estado e, sagazmente, proporcionado condições de organização de resistência pontual nas regiões sul e sudeste do Brasil, consideradas as peculiaridades locais, talvez o êxito dos revolucionários chegasse aos ares de libertação ampla. Ao invés de investir nos zé-dirceus da vida, a luta contra nosso oficial inimigo em comum talvez anulasse os efeitos do bloqueio a Cuba.

Se Fidel Castro, tenaz comandante, respeitada sua atual decrepitude e íntegra lucidez, ainda representa o símbolo de liderança e tradição em seu país, melhor fosse ao regime imprimir o conceito de que a revolução está acima de idolatria e de valores individuais. O ardor da eloquência só se sustenta nos ideais de transformação contínua. A revolução é mais do que todo um processo de evolução no espaço e no tempo: traz no seio dos fortes o DNA da civilização e o espírito de Liberdade. Mais consistente à revolução, em face de intempéries das adversidades, é resistir com o exército de cidadãos leais e politizados, atentos às armadilhas capitalistas, que implicam em retrocesso. A iminente falta de Fidel não poderia fraquejar a revolução nem subjugar o povo cubano aos arrotos de Washington. Cuba não está isolada nesta luta: há outros países que a apoiam. Amemos a revolução de Cuba! E que a transição para outro governo assegure hasta siempre a soberania e a grandeza da nação. Sabe-se que significativas e rápidas mudanças estão em curso pelo governo socialista, objetivando o pleno desenvolvimento da Ilha.

Com o advento da comunicação online, internautas de toda matiz, de dígitos a dólar, investem contra governos diversos. Todavia, há que se distinguir tirania a mando de elites da de liderança pelo povo. Pois então! Yoani Sánchez não poderia ter sido mais infeliz ao escolher o Brasil para “denunciar a falta de democracia” em Cuba. Acaso sabe ela de que, secularmente, a sina na terra à vista das naus é de ditadura da escravidão e da opressão? Tivesse essa tempestuosa crítica nascido na árida vida do nordeste das oligarquias (cuja mortalidade infantil chegou a 45% e o índice de analfabetismo chegou a 33% da população em 2000), alcançaria estudos de qualidade? Se formada em jornalismo pelo Prouni, teria autonomia de expressão, e expressão panfletária, nas principais mídias patrocinadas por multinacionais e políticos de rapina? Ainda, se nesses dias em que percorreu cidades brasileiras se sentisse mal e enfrentasse a via-crúcis do SUS, então refletiria a medicina cubana? Por que não diz que Cuba socorreu as vítimas da catástrofe do Haiti, enviando, solidariamente, 2.700 médicos? Que Cuba é vanguarda nos estudos de cura da AIDS?

O que ela conhece da alternância de poder privatizante entre tucanos e petistas, de casas-grandes e de urbessenzalas, de desmando e impunidade à brasileira? Do comércio de sentenças por “marginais de toga”? De “punições” a maus magistrados com aposentadoria compulsória sem perda de vultosos vencimentos? Passou-lhe pelo juízo se Havana tolerasse o escárnio de Sarney, Collor, Calheiros, Genoíno e demais fajardos do bem público? Yoani tem noção do que é agora aquela UNE de rebeldes sequestradores do cônsul americano? A ingrata visitante sentiu abraços de amigos da onça do sindicalismo em São Paulo? A que termos ela descreve essa democracia brasileira, de voto obrigatório, ao rumo de eleitores e eleitos de pouca instrução política? E que nosso parlamento federal possui, dentre Suas Excelências, um célebre profissional palhaço – debochado Tiririca, tímido Francisco Everardo (o mais votado, que inspirou outro truão nas recentes eleições italianas)?

Alertaram tal blogueira que o número dos que não sabem ler aqui supera toda a população cubana (alfabetizada!)? E que o Brasil amontoa aproximadamente 700 mil pessoas encarceradas, em más condições de ressocialização? E que transtornos psiquiátricos atingem 25% dos brasileiros, incluindo adolescentes? E que o número de jovens dizimados pelo tráfico neste país “abençoado por Deus” é de assanhar carnífices mafiosos? E que o nosso modelo de distribuição de renda traduz-se à mera Bolsa-Família? E que nossa Previdência Social premia com salário mínimo 80% de seus beneficiários? E que a felicidade da nossa massa anestesiada mantém-se a bebida, a drogas psicotrópicas, a carnaval e a futebol, senão a promessas de bem-aventurança no Céu? E que a boa-vida de gala neste paraíso verde-amarelo nunca paga imposto sobre fortunas?

É certo de que o debate caloroso e equilibrado contribui à florescência de grandes ideias. Que a vida humana é inerente à dinâmica do Universo. Que a humanidade já pagou caro o preço da “desobediência” no Éden e por furtar a luz de Zeus, bla-bla-blá, mal-e-mal... E que breve o Vaticano dos escândalos cairá em ruínas como o Império Romano. Muito certo que a revolução digital deva se estender a todos os recantos do Planeta. Que se almeje tecnologia de ponta também em Cuba, para superação do argumento de “bloqueio”; e que o Deus da Misericórdia não permita a síndrome do consumismo perverter a juventude do país. Certíssimo que socialismo pressupõe liberdade e igualdade de vida à luz do horizonte.

Mas, se essa xereta de problemas, supostamente a serviço da CIA, subestima ativistas e simpatizantes do regime cubano, melhor que se contenha na advertência do seu superego. Ou, se ela domina bem a arte cênica, deveria é propor erguer uma estátua de Fulgêncio Batista em lugar reservado a “ilustres” no Congresso Nacional brasileiro, com direito a discursos inflamados de Paulo Maluf e Jair Bolsonaro, arautos dos milicos, sob os aplausos da bancada reacionária.

Veja aqui, Yoani Sánchez! Nem todos os formadores de opinião brasileiros têm olhos e ouvidos de basbaque para dar-lhe holofotes da fama. Quando, enfim, mesmo à meia-máscara da cara-de-pau, se aperceber dos malefícios do capitalismo (que, a exemplo de tantos/as mercenários/as, após serem usados, são imperdoavelmente eliminados), certamente, trataria com zelo da sua imediata torna-viagem a Cuba, nem que seja num bote de salva-vidas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário