Eric Nepomuceno - Carta Maior
O Bolsa Família, de longe o mais amplo programa de transferência de
renda da história brasileira, completa dez anos. Instalado formalmente
em outubro de 2003, a dez meses da chegada de Lula da Silva à
presidência, beneficiou até agora um pouco mais de 50 milhões de pessoas
e ajudou a mudar a cara do país. São dois os requisitos básicos para
aceder ao benefício: ter uma renda familiar inferior a 35 dólares por
integrante da família e que as crianças frequentem uma escola pelo menos
até completar o ensino fundamental.
Se no primeiro ano o
programa chegou a três milhões e 600 mil domicílios brasileiros,
faltando pouco para completar uma década alcança 13 milhões e novecentos
mil em todo o território do país. Considerando-se a média de quatro
integrantes por família, se chega a 52 milhões de pessoas, uma população
superior a da Argentina. Quase meio México.
O orçamento
destinado ao Bolsa Família em 2013 é de doze mil e 500 milhões de
dólares, com um valor médio de 35 dólares por membro da família
beneficiada. É pouco, certamente. Mas, para os que se beneficiam, é
muitíssimo. É a salvação.
Atualmente 45% dos inscritos
originalmente em 2003 continuam se beneficiando do Bolsa Família. São
522 mil famílias que jamais deixaram de receber a ajuda do governo. Não
existem dados oficiais sobre os demais 55% que inauguraram o programa,
mas considera-se que a maior parte deles alcançou outras fontes de renda
que, somadas, superam o mínimo determinado para que recebessem o
subsídio.
Há registros que mostram que, em dez anos, um milhão e
700 mil famílias – 12% do total que receberam benefícios nesse tempo –
desistiram voluntariamente do benefício, por haver obtido ingressos
superiores aos 35 dólares por cada um de seus integrantes, o piso mínimo
permitido para que se solicite o Bolsa Família.
Vale reiterar: o
valor destinado a cada família pode parecer pouco. Na verdade, é pouco.
Mas para os que viveriam eternamente condenados a um estado de pobreza
aguda e absoluta se não fosse pelo programa, é a salvação.
As
conclusões de todos os estudos dedicados a analisar os efeitos do Bolsa
Família são unânimes em assegurar que contribuiu de maneira decisiva
para reduzir as imensas brechas e desigualdades sociais que sempre foram
uma das chagas mais visíveis do país.
Quando foi implantado, o
programa foi alvo de críticas furibundas da oposição e dos grandes
conglomerados de meios de comunicação, que o reduziam a um mero
assistencialismo sem maiores efeitos. Hoje admitem, a contragosto, o
papel essencial do Bolsa Família, o mais visível de todos os programas
sociais dos governos de Lula da Silva e agora de Dilma Rousseff, para
aliviar as agruras de famílias vulneráveis assegurando que, pelo menos
seus filhos, tenham acesso mínimo a serviços de educação e saúde.
Contrariando
a tese que dizia que a transferência de renda através de programas do
Estado iria perpetuar a miséria (a crítica mais ouvida há dez anos era a
seguinte: se recebem dinheiro do governo, para que trabalhar?), o
resultado obtido até agora indica o contrário.
Para receber o
benefício, as crianças têm que frequentar a escola, onde recebem atenção
da saúde pública. Deficiente, insuficiente, é verdade. Mas melhor que
nada. Passados dez anos, muitos dos filhos das famílias amparadas pelo
programa agora vivem por sua própria conta, escolarizados e com chances
concretas no mercado de trabalho.
As estadísticas indicam que 70%
dos beneficiados com mais de dezesseis anos de idade conseguiram
trabalho, contribuindo para aumentar a renda familiar.
As
famílias mais numerosas e que vivem em condições de miséria, recebem
benefícios superiores à média, que é de uns 300 dólares mensais. A
proposta é complementar à renda familiar até alcançar níveis mínimos. Os
que têm filhos em idade escolar têm que comprovar que as crianças vão à
escola. Algumas famílias chegam a receber 650 dólares por mês,
dependendo do número de filhos menores. Costuma acontecer, em áreas de
miséria extrema, que um casal tenha oito, nove, dez filhos. Em tais
casos, a sobrevivência de todos depende diretamente do que recebem do
Bolsa Família.
Passados esses dez anos não há lugar para nenhuma
dúvida: o perfil da pobreza mudou radicalmente no país. Muitas casas de
pobres foram ampliadas, receberam telhados novos, passaram a ter pisos
de cimento ou cerâmica. São casas muito humildes, mas que contam com
refrigerador, lava roupa, televisores e, em muitos casos, com um
computador com conexão à Internet popular (a preços muito baixos,
subsidiados).
E saltam à vista, então, algumas das incongruências
típicas, talvez inevitáveis, desta etapa de transição entre miséria e
pobreza, ou entre diferentes perfis de pobreza. Há casas de barro, sem
esgoto e em condições sanitárias muito precárias, ostentando antenas
parabólicas de televisão. Outras contam com luz elétrica muito precária,
mas têm telefone celular. Funciona mal, é verdade. Mas à vezes
funciona.
Há casas com piso de terra, sem água potável nem
torneiras, com o banheiro fora como há meio século, mas com televisão.
Em alguns estados brasileiros, o analfabetismo é de tal maneira crônico,
que impede até a instalação de indústrias que gerariam emprego e
esperança de futuro.
Sim, é verdade, a miséria e a humilhação
persistem, mas agora persistem de maneira menos contundente, menos
permanente. Já não é como uma sentença eterna, um destino de vida.
Por
muito tempo cientistas políticos, sociólogos, antropólogos e um montão
mais de ólogos continuarão discutindo as bondades e as falhas de um
programa destinado a redistribuir renda, através do Estado, aos
desamparados de sempre. Continuar-se-ão debatendo os prós e os contras
do assistencialismo de Estado. E, enquanto isso, 52 milhões de
brasileiros terão ludibriado um futuro cruel e passando da humilhação e
da miséria à pobreza digna.
Sob o meu olhar
Aqui neste blog, vocês poderão ver, ler e comentar a respeito do que escreverei. Por meio deste meu olhar sincero, tentarei colocar artigos e dar minha opinião sobre questões atuais como politica, problemas sociais, educação, meio ambiente, temas que tem agitado o mundo como um todo. Também escreverei poesias e colocarei poemas de grande poetas que me afloram a sensibilidade, colocarei citações e frases pequenas para momentos de reflexão.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.
É desta forma que vou expor a vocês o meu olhar voltado para o mundo.
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