Se eles mandam na Câmara ou no Sindicato —
dizia o fleumático pastor mastigando as palavras —, é porque nós os
deixamos mandar. Sabemos discutir muito bem, no café ou na curva dos
caminhos, quando nada nos apressa, o sol está claro e o rio murmura aos
nossos pés. E assim, entre nós, reconstruímos o mundo. Mesmo Deus tem a
sua parte de críticos e, por pouco, nós lhe faríamos concorrência.
Mas quando se trata, numa reunião, de dizer as verdades aos que
criticamos e de tomar diante deles a posição viril que tomamos entre
nós, então já não há homens. Há somente ovelhas e criados. E, na saída,
nós nos lamentamos!
É verdade que eles foram habituados a falar e a
mandar, e, quanto a nós, nossa função é calar e obedecer. No entanto,
temos o mesmo na cabeça, e na língua não é eloqüência que nos falta.
Sentimo-nos simplesmente dominados por uma cadeia de que não nos
conseguimos libertar.
O mais grave é que essa cadeia somos nós que a preparamos, e a forjamos para os nossos filhos.
Quando resistem a nós obstinadamente, por acharem que têm razão contra
as nossas razões e a nossa autoridade; quando defendem até a raiva e as
lágrimas — e em respeito, é verdade, pelas hierarquias formais — o que
são o bem e a verdade deles, batizamos essa coragem de presunção e essas
reivindicações de irrespeitosa inconveniência.
Talvez se você,
educador, os ajudasse a afirmar a sua personalidade como desejaria
ensinar-lhes ortografia e cálculo; se você os treinasse para
salvaguardar a própria dignidade, com a mesma ciência pedagógica que
emprega para os fazer obedecer; se você tivesse tanto cuidado em formar o
homem como em educar o estudante, então talvez tivéssemos amanhã
gerações capazes de saber defender-se dos faladores e dos políticos que
hoje nos dirigem.
Porém, os que mandam lhe dirão, para desanimá-lo,
que, ao esquecer as hierarquias justas e formais você está fazendo uma
reivindicação presunçosa, e que você perdeu, pela ciência deles, o
respeito devido aos ídolos e aos deuses.
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