A morte do presidente Hugo Chávez, na Venezuela, será chorada por muitos
e comemorada por poucos. Neste momento em que grande parte da mídia
internacional dedica seu tempo a falar mal do líder morto e torce para
que ele permaneça a sete palmos debaixo do chão, seria bem melhor tentar
entender Chávez enquanto figura política.
O fenômeno político que na Venezuela era conhecido pelo nome de Hugo Chávez transcende aquele país, na medida em que nos traz à lembrança uma série de questões de primeira ordem para a compreensão da relação que o povo estabelece com a política. Por exemplo, os fenômenos em que a liderança política encarna um processo de ascensão popular que caracteriza o que pode ser chamado de democracia plebiscitária.
Chávez suscita ainda questões como a do papel da liderança carismática, na qual a supremacia de uma orientação política é calcada no heroísmo e no sacrifício - como fez Vargas, no Brasil. Chávez mostrou, de forma categórica, o quanto o nacionalismo permanece como a grande ideologia política de nosso tempo - como fez Allende, no Chile. Sua alcunha de "comandante" e sua patente de tenente-coronel eram a prova incontestável da forte presença dos militares na política latino-americana e de sua propensão bonapartista, ou seja, de se firmar acima de tudo e de todos como solução política dramática e enérgica, em momentos de crise profunda e de desgaste da política tradicional - assim como fez Perón, na Argentina.
Indo ainda mais longe, cai como uma luva, pelo desfecho trágico da trajetória de Chávez e pela comoção que se avoluma na Venezuela, a comparação com Júlio César - o romano e o shakespeariano. O cesarismo é, para Chávez, uma analogia perfeita para entender o que este presidente foi para a Venezuela e o que pode esse país tornar-se após essa morte.
O cesarismo de Chávez se afirmou em três dimensões. Assim como César, Chávez foi responsável pela dissolução da política aristocrática e pela popularização do poder, no sentido de que a sorte dos governantes passava a depender não de instituições sólidas e regras rígidas do jogo político; não de coalizões claramente organizadas em partidos; não mais de disputas com resultados previsíveis. Com Chávez, a política passava a extrair seus resultados do poder de mobilização popular de seu líder.
O azar da oposição venezuelana foi jamais ter produzido alguém minimamente capaz de disputar com Chávez de igual para igual. Essa medíocre oposição jamais conseguiu produzir um líder popular com a gama de atributos ostentada por Chávez.
O segundo aspecto é a visão heróica e grandiosa do poder. O bolivarianismo de Chávez e sua retórica latino-americanista eram bem mais que retórica. Eram a intenção verdadeira de encarnar um projeto de afirmação regional daquele país e a busca por um protagonismo continental que a Venezuela vez por outra acalentou, desde Simon Bolívar. A rivalidade chavista aguçava as diplomacias continentais, favoráveis ou contrárias ao seu projeto de Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba).
Chávez foi muitas vezes um espantalho, aparentemente inofensivo em seu poder de fogo, mas bastante eficiente em sua tarefa de atiçar os adversários com seu sul-americanismo antiamericano. Diante do espantalho, os que a ele faziam oposição caíram no erro de se comportar exatamente como corvos.
O terceiro aspecto é o do destino trágico. A morte de César foi aguardada e comemorada pelos que supunham que seu desaparecimento levaria junto, pra o túmulo, a pessoa e o que ela representava. Mas, assim como na tragédia romana, o destino da Venezuela passa a estar umbilicalmente ligado aos desdobramentos do chavismo. Agora que Chávez não existe mais, o que permanece é o chavismo, como Gilberto Maringoni antecipou recentemente em artigo na Carta Maior.
O velório de Chávez é, no mínimo, o primeiro comício da campanha presidencial venezuelana. A depender do desenrolar dos fatos, pode ser o primeiro ato da institucionalização de um novo regime, erigido à sombra de sua liderança sacralizada. Até então, o oposicionismo venezuelano enfrentava um líder carismático de carne e osso. A partir de agora, enfrentará uma lenda.
O fenômeno político que na Venezuela era conhecido pelo nome de Hugo Chávez transcende aquele país, na medida em que nos traz à lembrança uma série de questões de primeira ordem para a compreensão da relação que o povo estabelece com a política. Por exemplo, os fenômenos em que a liderança política encarna um processo de ascensão popular que caracteriza o que pode ser chamado de democracia plebiscitária.
Chávez suscita ainda questões como a do papel da liderança carismática, na qual a supremacia de uma orientação política é calcada no heroísmo e no sacrifício - como fez Vargas, no Brasil. Chávez mostrou, de forma categórica, o quanto o nacionalismo permanece como a grande ideologia política de nosso tempo - como fez Allende, no Chile. Sua alcunha de "comandante" e sua patente de tenente-coronel eram a prova incontestável da forte presença dos militares na política latino-americana e de sua propensão bonapartista, ou seja, de se firmar acima de tudo e de todos como solução política dramática e enérgica, em momentos de crise profunda e de desgaste da política tradicional - assim como fez Perón, na Argentina.
Indo ainda mais longe, cai como uma luva, pelo desfecho trágico da trajetória de Chávez e pela comoção que se avoluma na Venezuela, a comparação com Júlio César - o romano e o shakespeariano. O cesarismo é, para Chávez, uma analogia perfeita para entender o que este presidente foi para a Venezuela e o que pode esse país tornar-se após essa morte.
O cesarismo de Chávez se afirmou em três dimensões. Assim como César, Chávez foi responsável pela dissolução da política aristocrática e pela popularização do poder, no sentido de que a sorte dos governantes passava a depender não de instituições sólidas e regras rígidas do jogo político; não de coalizões claramente organizadas em partidos; não mais de disputas com resultados previsíveis. Com Chávez, a política passava a extrair seus resultados do poder de mobilização popular de seu líder.
O azar da oposição venezuelana foi jamais ter produzido alguém minimamente capaz de disputar com Chávez de igual para igual. Essa medíocre oposição jamais conseguiu produzir um líder popular com a gama de atributos ostentada por Chávez.
O segundo aspecto é a visão heróica e grandiosa do poder. O bolivarianismo de Chávez e sua retórica latino-americanista eram bem mais que retórica. Eram a intenção verdadeira de encarnar um projeto de afirmação regional daquele país e a busca por um protagonismo continental que a Venezuela vez por outra acalentou, desde Simon Bolívar. A rivalidade chavista aguçava as diplomacias continentais, favoráveis ou contrárias ao seu projeto de Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba).
Chávez foi muitas vezes um espantalho, aparentemente inofensivo em seu poder de fogo, mas bastante eficiente em sua tarefa de atiçar os adversários com seu sul-americanismo antiamericano. Diante do espantalho, os que a ele faziam oposição caíram no erro de se comportar exatamente como corvos.
O terceiro aspecto é o do destino trágico. A morte de César foi aguardada e comemorada pelos que supunham que seu desaparecimento levaria junto, pra o túmulo, a pessoa e o que ela representava. Mas, assim como na tragédia romana, o destino da Venezuela passa a estar umbilicalmente ligado aos desdobramentos do chavismo. Agora que Chávez não existe mais, o que permanece é o chavismo, como Gilberto Maringoni antecipou recentemente em artigo na Carta Maior.
O velório de Chávez é, no mínimo, o primeiro comício da campanha presidencial venezuelana. A depender do desenrolar dos fatos, pode ser o primeiro ato da institucionalização de um novo regime, erigido à sombra de sua liderança sacralizada. Até então, o oposicionismo venezuelano enfrentava um líder carismático de carne e osso. A partir de agora, enfrentará uma lenda.
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