Eduardo Sá - Carta Maior
Brasília – Em marcha até o Congresso Nacional, em Brasília, cerca de
três mil mulheres do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) encerraram
na quinta-feira (21) seu encontro nacional com um ato político
reivindicando mais combate à violência contra a mulher e direitos para
as trabalhadoras do campo. Houve um protesto pela abrangência do salário
maternidade para seis meses às mulheres agricultoras em frente ao
ministério da Previdência e Assistência Social. Também foram fincadas no
gramado do Congresso dezenas de placas com nomes de camponesas
assassinadas nos últimos anos.
De acordo com Rosangela
Piovesani, da direção do MMC, o encontro teve um importante ganho na
organização autônoma das mulheres e o reconhecimento por parte da
sociedade e das autoridades. Segundo ela, as camponesas saíram de muito
longe com muitas dificuldades para fazer um debate super importante
sobre alimentação saudável e combate à violência doméstica.
"É
muito importante porque só com formação e organização que de fato a
gente vai avançar no enfrentamento às desigualdades sociais e, em
especial, a violência doméstica. O encontro foi de um ganho muito
grande, as mulheres estão emocionadas, firmes, saem daqui com muita
certeza de que temos de trabalhar cada vez mais nossa organização e
nossa luta, a resistência pelo o que é nosso de direito", afirmou.
A
representante do movimento disse ainda que existe a assinatura de um
acordo da presidente Dilma com o MMC de apoio às agroindústrias dos
grupos informais de mulheres, o que representa uma conquista fruto de
uma luta que valeu a pena nos últimos três anos. Isso, ainda segundo
Piovesani, é fundamental para lutar também por avanços nas estruturas
das cozinhas, nos processamentos da industrialização e no acesso ao
mercado.
O encontro foi considerado um marco para o movimento,
pois foi o segundo grande acontecimento desde seu primeiro congresso
realizado em 2004, afirmou a camponesa maranhense Maria Neves, que pela
primeira vez participou de uma atividade dessa amplitude. Nesse sentido,
o evento consolida mais o movimento e amplia a formação das
agricultoras, complementou.
"Estamos de parabéns. Temos um novo
ânimo, todas estão empolgadas e querendo se comprometer para levar esse
movimento adiante. A gente nunca para de lutar, quando a gente consegue
uma conquista está sempre buscando outras. Estamos até lutando por
algumas que já foram conquistadas, e estão querendo derrubar e
desrespeitar, como a aposentadoria: é um direito do trabalhador, no
entanto temos que provar mil coisas para o INSS. A licença maternidade
também, a gente não quer que seja só para a trabalhadora urbana. Nós
trabalhadoras rurais também temos o direito de uma licença de seis meses
para cuidar do nosso bebê", destacou.
O encontro também contou
com a colaboração de homens para sua realização, como é o caso de Samuel
Scarponi, do Levante Popular da Juventude, que acompanhou as crianças
enquanto as mulheres realizavam os debates. Ele trabalha com educação
infantil, e ficou encarregado de promover atividades para as crianças.
"A
ideia é garantir que enquanto as mulheres participam do encontro, tiram
as deliberações políticas, elas possam estar seguras que os meninos vão
receber acompanhamento. Fizemos um processo de educação acompanhando a
própria campanha da violência contra a mulher, o efeito que ela tem, e
construímos esse pensamento nelas desde novinhas. As discussões que as
camponesas fazem em relação ao feminismo é um avanço para a sociedade.
Acho que os homens e o resto da sociedade têm que saber diferenciar o
feminismo do femismo, não é a mulher contra o homem: elas querem o
espaço delas e igualdade. É uma das demandas mais prioritárias para a
gente termos avanços, e se emancipar enquanto povo", destacou o
militante.
Com apenas 11 anos, Emilly Jahn disse que o encontro
foi muito interessante para entender as coisas do Brasil e de outros
países. "A gente discutiu muito e aprendemos muitas coisas, a principal
delas foi sobre a violência contra a mulher. Tivemos várias atividades
que falavam sobre isso, e tudo o que acontece com as mulheres no país.
No lugar onde a gente ficou fizeram teatro com fantoches ensinando
várias coisas", disse a menina.
Durante o encontro foi elaborado
coletivamente pelas camponesas um documento com as principais
reivindicações do movimento, no qual elas também se comprometem a
construir relações de igualdade dos seres humanos com a natureza, com a
produção agroecológica de alimentos diversificados, além de fortalecer
as organizações populares, feministas e de trabalhadoras.
Outra
carta foi entregue a presidenta Dilma Rousseff, com a seguinte
introdução: "Este encontro traz os desafios que envolvem a luta pelo fim
da violência contra a mulher, entendida como resultado do sistema
capitalista, da cultura patriarcal, machista e racista que perpassa
todas as dimensões da sociedade. O modelo de agricultura centrado no
agronegócio, no uso de agrotóxicos e transgênicos torna as famílias dos
camponeses (as) empobrecidas, dependentes e subordinadas, impactando
diretamente as mulheres camponesas que vivem em situação de pobreza no
campo e na floresta".
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