Por Redação, com Brasil de Fato
Índios xavante de uma aldeia no Norte do país vêm sofrendo uma série
de ataques por parte de fazendeiros que querem ampliar suas terras. O
último deles significa uma tentativa de envenenamento em massa dos
xavantes que vivem na região.
– Foi um ataque visível para nós, eu vi um pequeno avião jogando
veneno aproximadamente às 8 horas da manhã do dia 26, bem próximo a
aldeia, eu mesmo estou com problemas de vista e dores de cabeça após o
despejo – afirma o padre católico Aquilino Xavante.
Ele relata que não é o primeiro caso de despejo de veneno e que já
ocorreram mortes nos Xavante em função de pulverização em locais
próximos a aldeia. A fazenda ao lado da terra é constituída de plantação
de soja e fica a menos de 10 km da Terra Indígena Marãwaitsédé. Cosme
Xavante, um dos líderes de Marãwaitsédé, afirma que o avião passou
rapidamente por cima da aldeia.
– Nós temos uma lavoura na divisa com a fazenda. Eles passaram
jogando veneno na semana passada também, sempre teve pulverização, mas
nunca tão perto, nossa saúde está prejudicada – denuncia.
O líder indígena afirma que a Funai compareceu à aldeia e que o órgão
alegou encaminhar o caso para investigação pelo Ibama. Em entrevista ao
Cimi, o órgão indigenista afirmou que não há nenhuma
comprovação por intoxicação ou despejo de agrotóxicos, mas que estão
apurando a denúncia.
A operação de desintrusão da TI está em andamento e, segundo informe
da Funai, “quem não sair terá os bens confiscados pela Justiça e deverá
responder pelo crime de desobediência”. Os invasores tentam intimidar os
indígenas após o mandado de desintrusão dos ocupantes ilegais pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 18 de outubro, pelo então
presidente do STF, o ministro Carlos Ayres Britto.
De lá para cá, intimidações e ataques pelos fazendeiros têm sido constantes.
No dia 3 de novembro de 2012, um indígena foi perseguido na cidade de
Água Boa por dois carros com pessoas que reconheceu serem do núcleo da
invasão do território indígena Marãiwatsédé e capotou o veículo,
sofrendo algumas escoriações.
Outro caso de intimidação que teve repercussão foi contra o bispo
emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, que se afastou
no início de dezembro de 2012 de São Félix. O bispo foi acusado de ter
sido responsável pela decisão do STF. Ameaças haviam se tornado cada vez
mais insistentes e perigosas:
– O bispo não verá o fim de semana.
Invasão
A aldeia de Marãwaitsédé está localizada nos municípios de Alta Boa
Vista e São Félix do Araguaia, Estado do Mato Grosso, e começou a ser
invadida durante a década de 1950, sendo adquirida na década seguinte
irregularmente pela agropecuária Suiá-Missu. Os indígenas acabaram
sofrendo migração forçada para a Missão Salesiana de São Marcos, 400 km
longe de Marãiwatsédé, onde houve epidemia de sarampo.
Cerca de 150
indígenas morreram e, em 1980, a terra foi vendida para a empresa
petrolífera italiana Agip.
Durante a Conferência de Meio Ambiente realizada no início de 1990 no
Rio de Janeiro, a Eco 92, a Agip anunciou, sob pressão, que devolveria
Marãiwatséde aos Xavante. Dos 165 mil hectares homologados e registrados
pela União, apenas 20 mil estão ocupados pelos indígenas. A terra foi
homologada pelo Executivo em 1998 e mesmo com o reconhecimento, os
indígenas sofrem grandes pressões de latifundiários e do poder político
local para que Marãiwatsédé permaneça nas mãos dos fazendeiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário