Os Analectos, obra-chave do pensamento oriental ganha tradução inédita em português. Pela primeira vez os aforismos atribuídos a Confúcio são traduzidos diretamente do chinês arcaico para o português.
Por Henrique Kugler - Vermelho
“E o mestre disse: ‘não sabe o que é a vida, como saber o que é a morte?’". Leitores ocidentais nem sempre serão tocados pela simplicidade crua, talvez insólita, dos aforismos do Oriente distante. Por certo há um estranhamento, choque entre duas culturas. É razoável dizer que, para nós, brasileiros, a filosofia chinesa é um horizonte intelectual deveras longínquo.
Mas uma inédita tradução de Os Analectos, obra emblemática do pensamento chinês atribuída a Confúcio (551-479 a.C.), aproxima os leitores lusófonos dos modos de ser e pensar inerentes à tradição que floresceu do outro lado do mundo.
É a primeira edição, em português, traduzida diretamente do chinês arcaico. Os méritos do trabalho são do diplomata brasileiro Giorgio Sinedino, da Embaixada do Brasil em Beijing.
Foram sete anos de estudo e vivência na sociedade chinesa. Consultas minuciosas à vasta literatura especializada, orientação de acadêmicos reputados no tema, além do auxílio de ‘mestres’ – no sentido tradicional do termo –, permitiram a Sinedino elaborar uma obra de fôlego.
Aos curiosos pela sabedoria chinesa, o livro é ótima introdução aos preceitos seminais do Oriente. E, aos que se aventuram em interpretações mais refinadas, a obra resgata aforismos originais de Confúcio grafados em complexos e belíssimos ideogramas – fazendo da publicação da Editora Unesp, com suas 608 páginas, um material tanto de estudo quanto de contemplação.
Sobre esteiras de bambu e toalhas de seda
A obra contém 20 capítulos, divididos originalmente em dez rolos – à época, os livros chineses eram escritos em toalhas de seda ou esteiras de bambu. “O texto não possui uma unidade rígida, pois normalmente não é essa a forma como as obras antigas na China eram pensadas”, explica o tradutor. Os chineses o leem aleatoriamente – são aforismos. Ao mesmo tempo em que revelam uma simplicidade absolutamente sintética, podem sugerir interpretações quase impenetráveis.
“O mestre disse: ‘A virtude não é solitária, sempre há de ter vizinhos’”. “O mestre disse: ‘Cada um dos erros que as pessoas cometem pertence a um gênero. Ao observar os erros [das pessoas] é possível saber o que é a Humanidade’”. “O mestre disse: ‘Se me emprestassem mais alguns anos e eu pudesse estudar as Mutações até meus últimos dias, eu poderia [deixar de cometer] grandes erros’”. Esses são alguns exemplos aleatórios que o leitor encontrará ao folhear o livro.
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