18/11/2012

1º quilombo reconhecido no Brasil sofre perseguição policial


A comunidade do primeiro quilombo urbano reconhecido e titulado no Brasil está se sentindo ameaçada pela polícia. Os moradores do Quilombo dos Silva, no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre, dizem estar acuados dentro de seu próprio território.



Eles têm medo até de sair ou chegar em casa, e denunciam que policiais militares começaram a agir com abuso de autoridade, revistando rotineiramente os jovens e adultos, constrangendo as crianças que brincam na praça em frente ao quilombo, o que culminou com a detenção e espancamento de um quilombola dentro de sua própria residência.


Enquanto o Coletivo Catarse produzia a reportagem acima, ouvia-se o relato do que aconteceu na noite do dia 25 de agosto. Apavorado com os homens armados dentro do quilombo, uma criança teria pedido ao pai que chamasse a polícia para defendê-los. O pai teria respondido: "esses homens na sua casa são a polícia".

Entenda o caso

Era uma quarta-feira, 25 de agosto. Lorivaldino da Silva passeava com o neto em frente à entrada do quilombo quando foi abordado por policiais militares. Paulo Ricardo Dutra Pacheco, seu cunhado, interveio pedindo respeito aos quilombolas. A partir daí foi perseguido e agredido pelos soldados. 

O Capitão Zaniol, do 11° Batalhão da Polícia Militar, explica que Paulo desacatou e desobedeceu à autoridade, além de resistir à prisão, o que justificou perseguí-lo até dentro de sua casa, de onde saiu algemado e foi retirado à força na frente da mulher e dos filhos. Ele também foi espancado pelos policiais, conforme comprovam exames de corpo de delito realizados pelo Instituto Médico Legal.

Negros e pobres, vivendo num bairro predominantemente de brancos e ricos, os quilombolas se dizem cansados de sofrer com as batidas policiais e denunciam a Brigada Militar por racismo institucional. 

O Capitão Zaniol nega as acusações de preconceito e afirma que não há intensificação do patrulhamento na área. Mas, segundo os moradores, a agressão sofrida por Paulo é só mais um entre muitos outros casos de discriminação e perseguição da polícia aos integrantes do Quilombo dos Silva, uma comunidade que é um marco histórico na luta do movimento negro nacional e referência na defesa dos direitos quilombolas.

Justiça

O caso foi denunciado ao Ministério Público Estadual, à Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul e ao Comitê de Combate à Tortura. Duas ocorrências policiais foram registradas sob os números 6552 e 6554 de 2010, na 8ª Delegacia de Polícia, pedindo providências contra possíveis arbitrariedades e violência por parte dos policiais. Um Termo Circunstanciado de número 2674402 foi feito no 11° BPM. Mas os quilombolas temem represálias, pois relatam estarem sendo ameaçados pelos soldados da Brigada.

Enquanto produzíamos a reportagem, ouvimos o relato de uma conversa que aconteceu na noite do dia 25 de agosto. Apavorado com os homens armados dentro do quilombo, uma criança pede ao pai que chame a polícia para defendê-los. O pai responde que esses homens em sua casa são a polícia.

Fonte: Blog Coletivo Catarse



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