Li recentemente ótimo e irônico texto de Marco Antonio Araujo no Blog do Miro, extraído do blog O Provocador,
sobe o título “Minha solidariedade a Rafinha Bastos”, onde o
articulista com fina ironia - como deveria ser a atitude dos bons
humoristas – ataca os companheiros de programa desse dito “humorista” em
suas digressões recentes que lhe causaram dissabor.
Atrevo-me a
discordar (já me desculpando pelo atrevimento) de Araujo apenas no
aspecto da solidariedade, pois, entendendo o seu raciocínio e concordo
com ele: de que para essa gente importa apenas o ganhar dinheiro a
qualquer custo, discordo de que esse tal senhor mereça solidariedade,
justamente porque, o próprio sabe bem a arena da qual faz parte e ele
mesmo agiria como sues colegas de “trabalho”.
O abuso, muito bem
relatado no artigo mencionado, desses senhores já vem de longe e, cada
vez mais, avançam no abuso do bom senso e da nossa inteligência.
Como verdadeiros “bobos da corte”, sabem muito bem que quando
desagradam ao rei vem a degola e par agradar ao rei sempre vale tudo,
desde a humilhar ilustres desconhecidos que na boa fé aceitam falar com
eles nas ruas das cidades até a menosprezar e também tentar humilhar
tudo o que beira ao popular no país, da política à cultura.
Então que
humor é esse na televisão brasileira e por que têm tão boa audiência?
Isso sim muito preocupante. Será que a audiência é apenas por falta de
opções para o lazer ou as pessoas concordam com esse tipo de coisa?
No caso mesmo do reincidente “humorista”, de quem não quero nem
repetir o nome, há muito tempo ele vem falando absurdos e a platéia
rindo, porque como diz o grande Gonzaguinha: “a plateia só deseja ser
feliz”.
No meu próprio ambiente de trabalho, sempre havia comentários e a
maioria sempre a favor do dito “humor inteligente” feito pelo tal
“CQC”, agora quando o sujeito mexeu com “amigos do rei” – e aí concordo
plenamente com Araujo - todos o degolam, inclusive seus colegas da
emissora e de outros órgãos da mídia, que o tempo todo lhes deu grandes
destaques em suas páginas e programas televisivos e em rádios, inclusive
na publicidade, inúmeras empresas colaram seus nomes a esses senhores
sem escrúpulos para servir ao “rei”.
Então a responsabilidade desse
senhor ter chegado aonde chegou é de muita gente, porque a coisa vem de
longe. Por isso concordo amplamente com o músico Tico Santa Cruz, dos
Detonautas, quando ele diz que o maior problema do Brasil é a
impunidade.
O indivíduo só chegou aonde chegou porque teve cobertura da emissora
que o contratou, da mídia de uma forma geral e do público que lhe deu
audiência e o aplaudiu rindo de suas “piadas” sem a menor graça. E isso
não tem nada a ver com liberdade de expressão. Agora vou repetir um
velho clichê, mas que não deixa de ser verdade: toda liberdade implica
também em responsabilidade. Em qualquer setor da vida.
Voltando no tempo
Se olharmos para trás vê-se que a coisa vem de longe. Começou com a s
tais “pegadinhas”, primeiro no SBT, salvo engano, onde atores simulavam
pegadinhas em transeuntes, tudo muito mal disfarçado de que não passava
de encenação, mas a plateia enganada ria.
A audiência foi tamanha que o
Faustão levou para o seu programa algo similar, as tais “vídeo
cacetadas”, que tem até hoje, onde apresenta vídeos onde as pessoas
passam por situações constrangedoras e a plateia continua rindo.
Aí a
coisa se propagou de tal forma que chegamos ao primeiro programa do tipo
humilhar pessoas nas ruas e por vezes artistas em eventos. Entra em
cena o mau-humor do “Pânico na TV”, da RedeTV!.
Antes ainda do “Pânico” tínhamos os maus-humoristas globais do
“Casseta & Planeta”, da vênus platinada, com o mesmo teor de
humilhar tudo o que tem próximo ao popular, sempre detratando o Brasil e
seu povo, valorizando o estrangeiro europeu e norte-americano.
Mas o
“Pânico” faz enorme sucesso na intelligentsia que o venerava, mas com
vergonha de valorizar algo como diziam tão “vulgar”. Até entrar em cena o
“CQC”, dando o argumento para esse pessoal poder rir dos mais pobres e
do que é brasileiro: uma suposta “intelectualidade” dos integrantes
desse programa.
Mas na verdade a diferença dos dois programas e seus
similares está apenas na forma de apresentar o tal “humor” com uma
disfarçada sofisticação.
Voltando ainda mais no tempo
Imitando o belo filme “O Homem do Futuro”, voltando ainda mais no
tempo, pode-se saber que nem sempre foi assim o nosso humor.
Basta
lembrar a inteligência do Barão de Itararé (Aparício Torelly), das
décadas de 1920, 30 e subseqüentes, que com saborosas críticas faziam
rir as pessoas.
Também tivemos o Amigo da Onça, personagem criado por
Péricles de Andrade Maranhão nos anos 1940, com enorme sucesso divertia a
platéia com finas ironias rindo até de si mesmo, mas sempre com
inteligência.
E se falar ainda de Stanislaw Ponte Preta (codinome de
Sérgio Porto), décadas de 1950-60, ilustrando nosso cotidiano com
sabedoria em piadas que nos retratam tão bem.
E o jornal “O Pasquim”,
Millôr Fernandes, Henfil e outros, que hoje estão largados às traças,
prevalecendo o mau-humor atual.
E esses verdadeiros humoristas citados
nunca cederam aos poderosos e nos fizeram rir, sem perder de vista a
liberdade de expressão e também a responsabilidade pelo que escreviam ou
diziam.
Retornando ao presente
Os programas de tevê ditos de humor faz algum tempo, vêm detratando
as questões sociais e as chamadas minorias com descaso sem iguais.
E
instaurou-se o vale tudo para fazer sucesso, com tem-se o vale tudo pra
qualquer furo jornalístico. E digo isso, porque alguns telejornais mais
se assemelham a programas de “humor” do que a jornalismo. E tudo vale
pelo show.
Tudo é espetacularizado. Da dor da perda de entes queridos a
supostas acusações, mesmo sem comprovação de determinados crimes de
corrupção. Vale tudo pra levar a plateia ao delírio e atingir picos de
audiência a qualquer custo.
O preconceito sempre presente de programas matinais que apresentam a
nossa cultura como inferior a de outros países, sempre os do Primeiro
Mundo, óbvio.
Como no caso de Ana Maria Braga, apresentadora da Globo,
que mostrou em seu programa numa manhã dessas em que eu estava em
consultório esperando minha vez, japoneses parados num semáforo de
trânsito por cerca de dois a Três minutos esperando o semáforo dar-lhes
sinal verde, mesmo sem passar nenhum carro nesse tempo todo. E sem ver
as diferenças culturais entre Brasil e Japão, a apresentadora afirma que
“aquilo que é civilização”, atacando os brasileiros por não agirem
dessa forma. E esse programa matinal nem é de “humor”.
Usei esse exemplo apenas para ilustrar a que até mesmo a questão dos
programas de humor, que não é só na televisão, pois no rádio já ouvi
programas que passavam trotes telefônicos em pessoas e nunca forma
proibidos, a questão de tudo isso está na impunidade, como com razão
afirmou o músico Tico Santa Cruz no Rock in Rio, e também na falta de
regulamentação e de democracia da comunicação no Brasil.
Por isso não me
solidarizo com Rafinha Bastos, porque ele deve ser responsabilizado por
seus atos e dever responder por isso, assim como a sua contratante a
Band e os dirigentes e seus “companheiros” (grandes companheiros) do
“CQC”.
Os órgãos competentes têm que tomar providências. Basta de
impunidade. E isso não tem nada de censura, porque ele teve a liberdade
de dizer o que disse, agora deve responder por isso. Ele e seus colegas.
Portanto, regulamentação já em todos os níveis. E até mesmo os bobos da
corte do atual dito “humor” que não passa de mau-humor de tão ranzinza,
bobos da corte de todas as emissoras.
Finalmente, não me solidarizo com Rafinha Bastos porque ele faz parte
dessa turma que para agradar ao patrão fala mal do Brasil, da cultura e
do povo brasileiros.
Para agradar ao patrão fala mal dos defensores dos
direitos humanos, das crianças, dos adolescentes, dos idosos, dos
negros, das mulheres, dos homossexuais, dos pobres, dos índios, dos
blogueiros progressistas, dos defensores da democratização dos meios de
comunicação.
Para agradar ao patrão falam mal do ex-presidente Lula, da
presidenta Dilma, do Congresso nacional, do PT, do PCdoB, do MST, dos
políticos.
Para agradar ao patrão falam mal de tudo e de todos que
desagradam ao patrão.
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