Por Redação, com ABr - de Brasília
Em depoimento prestado à Comissão Nacional da Verdade (CNV) em
novembro de 2012, mas somente revelado nesta sexta-feira, o empresário
Boris Tabacof levou 60 anos para revelar as agressões pelas quais passou
ao ser preso, por motivos políticos, em 1952, em plena Era Vargas. Tabacof revelou à Comissão:
– Me obrigaram a tirar a roupa e a ficar nu durante vários dias e a
única coisa que tinha nesse cubículo era um balde para as necessidades e
esse balde não era retirado. Então, tinha que dormir no chão e, de vez
em quando, chegava um soldado e jogava água – descreveu.
No primeiro depoimento à CNV de uma vítima de violação de direitos
humanos fora do período da ditadura militar (1964-1985), Tabacof foi
vítima da intolerância política do regime.
– O único que falou que está dentro do período da comissão (de 1946 a
1988), mas que não foi torturado na ditadura, foi no governo Getúlio
Vargas (de 1951 a 1954) – ressaltou a psicanalista Maria Rita Kehl, um
dos membros da comissão presentes ao depoimento de Tabacof.
Aos 84 anos, atualmente, Tabacof era à época membro do Partido
Comunista Brasileiro (PCB) e dava suporte a militantes que atuavam
dentro das Forças Armadas.
– Fui secretário de organização do Comitê do PCB na Bahia, o segundo
cargo do partido no Estado. É aí que entra como eu tenho a ver com todo
esse movimento, que foi um movimento dentro da esfera militar. Eu só
tinha contato com uma pessoa, um cabo do Exército cujo nome de guerra
era Plínio – explica o empresário que fornecia material ideológico para
os militares comunistas.
Em 20 de outubro de 1952, Tabacof foi preso dentro de um ônibus.
– Foram bofetadas de todo jeito e me arrancaram do ônibus, me
colocaram em uma caminhonete e essa caminhonete foi direto para o Forte
do Barbalho (em Salvador) – relembra.
No local, começou o período de 400 dias de prisão ao qual foi
submetido. Segundo o empresário, as grades das celas do forte eram
cobertas com tábuas, “para ninguém ver o que estava acontecendo”.
Além de Tabacof, foram presos na operação para desarticular a
presença comunista nas Forças Armadas mais um civil e 28 militares. De
acordo com o empresário, os agentes do governo de Getúlio queriam provar
que havia um complô comunista simpático à União Soviética para assumir o
poder no Brasil.
– Como eu não estava contando nada que eles queriam, nem queria
assinar, eles foram piorando as coisas.
Eu fiquei alguns dias de pé com
um soldado, de baioneta calada, ao meu lado que não deixava que eu me
sentasse – lembra sobre o período de cárcere que também incluiu 50 dias
de isolamento em uma penitenciária em Sergipe.
Ao final, o empresário acabou assinando uma confissão, junto com os
demais presos. Ele respondeu a processo até julho de 1954, quando foi
solto após o julgamento. O trauma impediu que Tabacof revelasse sua
história até mesmo para a família, que só recentemente soube desses
eventos.
– Até a família não sabia, era uma coisa de humilhação que ele não conseguia contar – ressalta Maria Rita Kehl.
Militância política
Filho de imigrantes judeus russos, Boris Tabacof nasceu em 28 de
julho de 1929, na Bahia. Sua juventude foi marcada pela militância
política no Partido Comunista do Brasil (PCB). Em meados dos anos 1950,
Tabacof formou-se em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da
Universidade da Bahia. Iniciou então sua carreira empresarial, logrando
rápido sucesso no ramo da construção. Participou de governos e hoje,
Boris Tabacof segue atuando como presidente do Conselho de Administração
da Suzano Papel e Celulose.
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