01/01/2013

Dilma e Lula começam 2013 sem nenhum adversário à altura para as próximas eleições

 Correio do Brasil

O ano termina com a presidenta Dilma Rousseff em sua melhor fase diante do eleitorado, desde que foi eleita, há dois anos. Com a popularidade recorde, Dilma seria reeleita com 57%, segundo divulgou, nesta segunda-feira, o instituto Datafolha, de propriedade do mesmo grupo que edita o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo. Segundo o jornal, somente um outro petista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, poderia enfrentá-la, nas urnas, em condições de disputar o cargo, em 2014.

Lula teria 56% dos votos, segundo o instituto. Trata-se, porém, de um exercício próximo do absurdo, pois tanto Lula avisou que apoiará Dilma para a reeleição, caso seja este o desejo dela, quanto a presidenta já demonstrou seu apoio incondicional ao líder da legenda no governo, se ele optar por concorrer ao cargo hoje ocupado por Geraldo Alckmin. Este é um dos últimos representantes da velha oligarquia neoliberal ainda no poder, em São Paulo.

Mesmo diante do maior ataque midiático já realizado contra um líder de centro-esquerda no país, desde o golpe de 1964, do qual participou o jornal que ora aponta a liderança de sua sucessora, o ex-presidente Lula segue com o prestígio em alta perante o eleitorado e venceu, nas urnas, as eleições na capital paulista, centro nervoso da direita brasileira. Apesar do julgamento da Ação Penal (AP) 470 no Supremo Tribunal Federal (STF), em uma manobra que fez coincidir as condenações impostas aos líderes petistas José Dirceu e José Genoino com o calendário eleitoral, o respeito ao ex-presidente Lula manteve-se ascendente junto aos brasileiros mais pobres. Eles formam a grande maioria beneficiada com as medidas de promoção da justiça econômica para as populações rentes à linha da miséria.

Na pesquisa realizada pela empresa do grupo Folha, que recebeu cerca de 1/5 de toda a verba pública de propaganda do Palácio do Planalto ao longo do último ano, Dilma ingressa em 2013 adiante de possíveis candidatos na oposição ou na base aliada, entre eles Aécio Neves (PSDB), Marina Silva (sem partido), Eduardo Campos (PSB) e Joaquim Barbosa (presidente do STF e sem filiação partidária, ainda). De acordo com o estudo, o cerco promovido pela imprensa conservadora ao governo de centro-esquerda não foi suficiente para tirar dos trilhos o projeto iniciado na primeira eleição do então ex-metalúrgico que, até 2002, havia perdido quatro eleições para as hostes do neoliberalismo, lideradas na época pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso (FHC).

Governar para os pobres

Em recente solenidade na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, do qual foi presidente, Lula compareceu à posse da nova diretoria, liderada por Rafael Marques. Bem-humorado, em um discurso de cerca de meia hora, Lula lembrou de seus tempos como torneiro mecânico e destacou as mudanças ocorridas no Brasil na última década. O ex-presidente frisou que 40 milhões de pessoas afastaram-se da linha da pobreza.

– Não me peça para gostar de miséria, porque eu não gosto. E nenhum de vocês deve gostar. A gente deve gostar de ter sonhos, de construir coisa melhor, a gente quer uma casa boa, quer um carro bom, que os filhos se vistam bem, é isso que a gente deseja – disse o ex-presidente, do alto de seu pragmatismo.
Um dos fatores que, segundo as pesquisas de opinião, mantém Lula em alta no campo político situa-se, exatamente, na forma como ele se dirige aos trabalhadores. No encontro com velhos companheiros de militância sindical, ele incentiva que a categoria siga em busca de seus sonhos e de suas reivindicações.

– A democracia não é um pacto de silêncio, a democracia é um processo de movimentação da sociedade na tentativa de conquistar. E cada vez que a gente conquista uma coisa, a gente quer outra. Isso é natural – afirmou.

O gradual distanciamento de Lula da mídia conservadora ficou, mais uma vez, marcado no discurso do líder popular que, neste final de ano, foi novamente alvo de ataques à sua imagem por um dos redatores da revista semanal de ultradireita Veja, que depois precisou se desculpar pela tentativa de ligar o ex-presidente, de alguma forma, a pessoas investigadas pela Polícia Federal, em um inquérito que chegou à representação da Presidência da República, em São Paulo. Lula questionou o poder que tanto se atribui à mídia conservadora, diante da nova realidade brasileira.

– Eles (os neoliberais) governaram antes de mim. Tinham unanimidade na imprensa. Era um pensamento único, não tinha nada contra, era tudo favorável. E por que não foram eles que fizeram essas coisas (em prol do trabalhador)? Por que eles não cuidaram dos índios, dos negros, das mulheres, dos pobres? – perguntou Lula. A resposta foram os aplausos do público.

A fórmula aplicada aos oito anos do governo Lula, seguida à risca pela sucessora, no entanto, tem sido um dos pontos cruciais dos ataques promovidos por setores à direita no arco político e social. Aos ataques, porém, a área de Comunicação Social da Presidência da República responde com verbas maiores para o segmento da mídia que mais estragos tentou produzir ao longo dos últimos dois anos. Este, segundo o jornalista e doutor em Antropologia Social pela Universidade do Texas, em Austin (EUA) Jaime Amparo Alves, é um dos pontos controversos na política de reformas da presidenta Dilma.

“Os brasileiros no exterior que acompanham o noticiário brasileiro pela internet têm a impressão de que o país nunca esteve tão mal. Explodem os casos de corrupção, a crise ronda a economia, a inflação está de volta, e o país vive imerso no caos moral. Isso é o que querem nos fazer crer as redações jornalísticas do eixo Rio – São Paulo. Com seus gatekeepers escolhidos a dedo, Folha de S. Paulo, Estadão, Veja e O Globo investem pesadamente no caos com duas intenções: inviabilizar o governo da presidenta Dilma Rousseff e destruir a imagem pública do ex-presidente Lula da Silva. Até aí nada novo”, atenta Alves, em recente artigo publicado em sites brasileiros

Ainda segundo o articulista, “tanto Lula quanto Dilma sabem que a mídia não lhes dará trégua, embora não tenham – nem terão – a coragem de uma Cristina Kirchner de levar a cabo uma nova legislação que democratize os meios de comunicação e redistribua as verbas para o setor. Pelo contrário, a Polícia Federal segue perseguindo as rádios comunitárias e os conglomerados de mídia Globo/Veja celebram os recordes de cotas de publicidade governamentais. O PT sofre da síndrome de Estocolmo (aquela na qual o sequestrado se apaixona pelo sequestrador) e o exemplo mais emblemático disso é a posição de Marta Suplicy como colunista de um jornal cuja marca tem sido o linchamento e a inviabilização política das duas administrações petistas em São Paulo”.

Alves acrescenta, em seu artigo, que sua esperança “ingênua e utópica” é que o Partido dos Trabalhadores (PT) “aprenda a lição e leve adiante as propostas de refundação do país abandonadas com o acordo tácito para uma trégua da mídia”. O antropólogo e jornalista acredita que “não haverá trégua, ainda que a nova ministra da Cultura se sinta tentada a corroborar com o lobby da Folha de S. Paulo pela lei dos direitos autorais, ou que o governo Dilma continue derramando milhões de reais nos cofres das organizações Globo e Abril via publicidade oficial. Não é o PT, o Congresso Nacional ou o governo federal que estão nas mãos da mídia.
“Somos todos reféns da meia dúzia de jornais que definem o que é notícia, as práticas de corrupção que merecem ser condenadas, e, incrivelmente, quais e como devem ser julgadas pela mais alta corte de Justiça do país”, concluiu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário