Correio do Brasil
O ano termina com a presidenta Dilma Rousseff em sua melhor fase diante do eleitorado, desde que foi eleita, há dois anos. Com a popularidade recorde, Dilma seria reeleita com 57%, segundo divulgou, nesta segunda-feira, o instituto Datafolha, de propriedade do mesmo grupo que edita o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo.
Segundo o jornal, somente um outro petista, o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, poderia enfrentá-la, nas urnas, em condições de disputar
o cargo, em 2014.
Lula teria 56% dos votos, segundo o instituto. Trata-se, porém, de um
exercício próximo do absurdo, pois tanto Lula avisou que apoiará Dilma
para a reeleição, caso seja este o desejo dela, quanto a presidenta já
demonstrou seu apoio incondicional ao líder da legenda no governo, se
ele optar por concorrer ao cargo hoje ocupado por Geraldo Alckmin. Este é
um dos últimos representantes da velha oligarquia neoliberal ainda no
poder, em São Paulo.
Mesmo diante do maior ataque midiático já realizado contra um líder
de centro-esquerda no país, desde o golpe de 1964, do qual participou o
jornal que ora aponta a liderança de sua sucessora, o ex-presidente Lula
segue com o prestígio em alta perante o eleitorado e venceu, nas urnas,
as eleições na capital paulista, centro nervoso da direita brasileira.
Apesar do julgamento da Ação Penal (AP) 470 no Supremo Tribunal Federal
(STF), em
uma manobra que fez coincidir as condenações impostas aos líderes
petistas José Dirceu e José Genoino com o calendário eleitoral,
o respeito ao ex-presidente Lula manteve-se ascendente junto aos
brasileiros mais pobres. Eles formam a grande maioria beneficiada com as
medidas de promoção da justiça econômica para as populações rentes à
linha da miséria.
Na pesquisa realizada pela empresa do grupo Folha, que
recebeu cerca de 1/5 de toda a verba pública de propaganda do Palácio do
Planalto ao longo do último ano, Dilma ingressa em 2013 adiante de
possíveis candidatos na oposição ou na base aliada, entre eles Aécio
Neves (PSDB), Marina Silva (sem partido), Eduardo Campos (PSB) e Joaquim
Barbosa (presidente do STF e sem filiação partidária, ainda). De acordo
com o estudo, o cerco promovido pela imprensa conservadora ao governo
de centro-esquerda não foi suficiente para tirar dos trilhos o projeto
iniciado na primeira eleição do então ex-metalúrgico que, até 2002,
havia perdido quatro eleições para as hostes do neoliberalismo,
lideradas na época pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso (FHC).
Governar para os pobres
Em recente solenidade na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,
do qual foi presidente, Lula compareceu à posse da nova diretoria,
liderada por Rafael Marques. Bem-humorado, em um discurso de cerca de
meia hora, Lula lembrou de seus tempos como torneiro mecânico e destacou
as mudanças ocorridas no Brasil na última década. O ex-presidente
frisou que 40 milhões de pessoas afastaram-se da linha da pobreza.
– Não me peça para gostar de miséria, porque eu não gosto. E nenhum
de vocês deve gostar. A gente deve gostar de ter sonhos, de construir
coisa melhor, a gente quer uma casa boa, quer um carro bom, que os
filhos se vistam bem, é isso que a gente deseja – disse o ex-presidente,
do alto de seu pragmatismo.
Um dos fatores que, segundo as pesquisas de opinião, mantém Lula em
alta no campo político situa-se, exatamente, na forma como ele se dirige
aos trabalhadores. No encontro com velhos companheiros de militância
sindical, ele incentiva que a categoria siga em busca de seus sonhos e
de suas reivindicações.
– A democracia não é um pacto de silêncio, a democracia é um processo
de movimentação da sociedade na tentativa de conquistar. E cada vez que
a gente conquista uma coisa, a gente quer outra. Isso é natural –
afirmou.
O gradual distanciamento de Lula da mídia conservadora ficou, mais
uma vez, marcado no discurso do líder popular que, neste final de ano,
foi novamente alvo de ataques à sua imagem por um dos redatores da
revista semanal de ultradireita Veja, que depois precisou se
desculpar pela tentativa de ligar o ex-presidente, de alguma forma, a
pessoas investigadas pela Polícia Federal, em um inquérito que chegou à
representação da Presidência da República, em São Paulo. Lula questionou
o poder que tanto se atribui à mídia conservadora, diante da nova
realidade brasileira.
– Eles (os neoliberais) governaram antes de mim. Tinham unanimidade
na imprensa. Era um pensamento único, não tinha nada contra, era tudo
favorável. E por que não foram eles que fizeram essas coisas (em prol do
trabalhador)? Por que eles não cuidaram dos índios, dos negros, das
mulheres, dos pobres? – perguntou Lula. A resposta foram os aplausos do
público.
A fórmula aplicada aos oito anos do governo Lula, seguida à risca
pela sucessora, no entanto, tem sido um dos pontos cruciais dos ataques
promovidos por setores à direita no arco político e social. Aos ataques,
porém, a área de Comunicação Social da Presidência da República
responde com verbas maiores para o segmento da mídia que mais estragos
tentou produzir ao longo dos últimos dois anos. Este, segundo o
jornalista e doutor em Antropologia Social pela Universidade do Texas,
em Austin (EUA) Jaime Amparo Alves, é um dos pontos controversos na
política de reformas da presidenta Dilma.
“Os brasileiros no exterior que acompanham o noticiário brasileiro
pela internet têm a impressão de que o país nunca esteve tão mal.
Explodem os casos de corrupção, a crise ronda a economia, a inflação
está de volta, e o país vive imerso no caos moral. Isso é o que querem
nos fazer crer as redações jornalísticas do eixo Rio – São Paulo. Com
seus gatekeepers escolhidos a dedo, Folha de S. Paulo, Estadão, Veja e O
Globo investem pesadamente no caos com duas intenções: inviabilizar o
governo da presidenta Dilma Rousseff e destruir a imagem pública do
ex-presidente Lula da Silva. Até aí nada novo”, atenta Alves, em recente
artigo publicado em sites brasileiros
Ainda segundo o articulista, “tanto Lula quanto Dilma sabem que a
mídia não lhes dará trégua, embora não tenham – nem terão – a coragem de
uma Cristina Kirchner de levar a cabo uma nova legislação que
democratize os meios de comunicação e redistribua as verbas para o
setor. Pelo contrário, a Polícia Federal segue perseguindo as rádios
comunitárias e os conglomerados de mídia Globo/Veja celebram os recordes
de cotas de publicidade governamentais. O PT sofre da síndrome de
Estocolmo (aquela na qual o sequestrado se apaixona pelo sequestrador) e
o exemplo mais emblemático disso é a posição de Marta Suplicy como
colunista de um jornal cuja marca tem sido o linchamento e a
inviabilização política das duas administrações petistas em São Paulo”.
Alves acrescenta, em seu artigo, que sua esperança “ingênua e
utópica” é que o Partido dos Trabalhadores (PT) “aprenda a lição e leve
adiante as propostas de refundação do país abandonadas com o acordo
tácito para uma trégua da mídia”. O antropólogo e jornalista acredita
que “não haverá trégua, ainda que a nova ministra da Cultura se sinta
tentada a corroborar com o lobby da Folha de S. Paulo pela lei dos
direitos autorais, ou que o governo Dilma continue derramando milhões de
reais nos cofres das organizações Globo e Abril via publicidade
oficial. Não é o PT, o Congresso Nacional ou o governo federal que estão
nas mãos da mídia.
“Somos todos reféns da meia dúzia de jornais que definem o que é
notícia, as práticas de corrupção que merecem ser condenadas, e,
incrivelmente, quais e como devem ser julgadas pela mais alta corte de
Justiça do país”, concluiu.
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