Por Marcelo Szpilman
Depois do oxigênio, a disponibilidade de água doce (e potável) é a
condição mais essencial à manutenção da vida terrestre em nosso Planeta. Sua
escassez, que já é uma realidade para 20% da população mundial, vem sendo
acentuada nos últimos 40 anos pela poluição dos rios, desmatamento das
florestas, degradação do solo, má gestão dos recursos hídricos e pelo grande
desperdício, na agricultura, na indústria e no nosso dia a dia.
Nos últimos 100 anos, o consumo de água aumentou oito vezes, enquanto a
população mundial cresceu quatro vezes. Ou seja, o consumo médio individual
dobrou. Porém, nesse mesmo período, poluímos 50% da água doce disponível para o
nosso uso. Significa dizer que hoje estamos gastando o dobro de uma fonte que
está com sua capacidade reduzida à metade. Não é por outra razão que em 2020,
60% da população mundial sofrerão carência de água de boa qualidade para
consumo. E presenciaremos a intensificação das guerras e disputas territoriais
pela água.
Pode parecer incrível, mas mesmo sabendo da clássica distribuição das
águas no Planeta e o quanto a disponibilidade de água doce é restrita __
97% são salgadas, 2% formam as geleiras e apenas 1% é doce, e dessa água doce
somente um terço está disponível __, nós continuamos desperdiçando
esse precioso líquido, especialmente no Brasil que detém 10% de toda a água
doce do mundo. E, se recebemos tal dádiva da Natureza, esse privilégio torna-se
acachapante quando confrontado pela triste estatística da ONU que revela que
80% das internações hospitalares no mundo atual são motivadas pela simples
falta de acesso à água potável.
É bem verdade também que o fato de termos água em abundância, e por isso
barata, pode ter nos tornado grandes esbanjadores. Nós nos acostumamos a
utilizar a água de forma livre e despreocupada, sem nos darmos conta de que seu
uso responsável no nosso cotidiano pode proporcionar considerável redução no
desperdício. E exemplos não faltam. Tomar banho fechando a torneira ao ensaboar
o corpo e os cabelos pode representar uma economia de até 90 litros de água por
banho. Da mesma forma que barbear-se fechando a torneira, quando a água não
estiver sendo utilizada, pode produzir uma economia de até 10 litros. Sem falar
na habitual e dispensável “vassoura hidráulica” utilizada pelos faxineiros dos
prédios para varrer e lavar as calçadas, onde o uso de uma vassoura normal
economizaria até 250 litros de água por dia.
Infelizmente, nessa questão da boa utilização da água, não se trata só
de ter ou não educação e boa vontade para adotar seu consumo consciente. Para
boa parte da população, o uso responsável só virá com mecanismos de punição,
como uma conta salgada no final do mês. Diferente da energia e do gás, cujos
consumos individuais vêm quantificados na conta mensal da concessionária,
permitindo que o cidadão sinta no bolso o uso exagerado e o desperdício, a
água, na maioria dos prédios residenciais, é cobrada do condomínio numa única
conta coletiva. Assim, o uso correto desse recurso só será possível quando
todas as residências tiverem seu consumo de água medido por hidrômetros
individuais e cobrado em contas separadas.
Um grande exemplo vem da Alemanha, onde o custo da água é bem alto e a
cobrança individual. Lá, só se costuma puxar a descarga do vaso no banheiro
após quatro ou cinco xixis. Substâncias para eliminar o cheiro desagradável da
ureia são utilizadas, sem dúvida, e é claro que está se falando de uma atitude
extrema, que espero não tenhamos que copiar, mas esse comportamento nos dá a
exata dimensão do quão sensível pode ser o bolso do consumidor e o quanto esse
mecanismo de punição financeira é eficiente na redução do consumo e do
desperdício de água.
Reflita sobre esse assunto. Seja consciente e responsável no consumo de
água, na sua residência ou no seu trabalho, para que não falte no futuro.
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