Em sua viagem à Alemanha, nesta sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva falou sobre a crise na Europa, sobre suas motivações na
política e pontuou que, em vez de salvar os bancos, é preciso ouvir as
pessoas para encontrar saídas para a crise. Lula falou para cerca
de 400 representantes sindicais alemães e convidados internacionais no
congresso do sindicato alemão de metalúrgicos, o IG Metall, em Berlim.
Num discurso de improviso, Lula recordou sua trajetória política, de
sindicalista a presidente da República e lembrou que o movimento
sindical alemão sempre foi muito solidário com os trabalhadores
brasileiros, desde a época das grandes greves do ABC nos anos 80.
O Congresso internacional Mudando o rumo para uma vida melhor
reuniu mesas de debates focadas principalmente nas saídas para a crise e
na qualidade de vida dos trabalhadores. Lula falou antes dos debates e o
tema de seu discurso foi O caminho para um mundo mais justo. O
ex-presidente acredita que a manutenção do emprego e o estímulo ao
crescimento dos países pobres são caminhos para a saída da crise e
criticou políticas de austeridade que castigam o trabalhador.
– Os magnatas do sistema financeiro, quando ganham, não repartem, mas quando perdem repartem os prejuízos com todos – afirmou.
Para Lula, os políticos precisam perder o medo de exercer a
democracia e ouvir o que o povo quer, no lugar de priorizar o salvamento
de bancos.
– A América Latina vive hoje uma era de paz e progresso que há muito
tempo não vivia. Continuamos pobres e com problemas, mas há muito tempo
não tínhamos esse progresso, principalmente com o aprofundamento da
democracia. E a Europa, que era um berço de tranquilidade, vive uma era
nervosa, apreensiva, principalmente para a juventude. E por que isso
aconteceu? Porque muitos políticos terceirizaram a política. E a
política não pode ser terceirizada – acrescentou.
Para Lula, o maior legado de seus oito anos de governo foi a relação
com a sociedade organizada e os movimentos sociais brasileiros.
– Eu passei parte da minha vida perdendo eleição atrás de eleição. Eu
cansava, mas nunca desisti – disse.
Quando finalmente venci, ele disse,
quis mostrar à sociedade brasileira e ao mundo, que um simples
trabalhador metalúrgico e sindicalista era capaz de ser presidente. “E
não só isso, que esse presidente era capaz de ajudar o país a avançar
econômica e socialmente. Eu queria provar, como presidente, que poderia
atender à pauta que eu fazia quando era dirigente sindical ou oposição”
completou.
Durante suas viagens, Lula disse que percebeu que foi um dos únicos presidentes que falou com os trabalhadores.
– Até hoje, em muitos países, a primeira reivindicação dos
trabalhadores é que eu interceda para que os presidentes os recebam –
notou. E lembrou que, durante seu governo, recebeu catadores, sem-teto e
movimentos sociais sem deixar de atender os governantes estrangeiros e
empresários.
Otimista, Lula disse acreditar que “até 2020 o futuro do Brasil é de
crescimento do emprego e das conquistas da sociedade brasileira”. “Só
interessa ao Brasil ser a quinta economia do mundo se isso servir para
melhorar a vida do povo”, e continuou: “vocês que conquistaram esse
padrão de vida não têm o direito de ficarem quietos vendo esses direitos
serem retirados”.
Lula recordou que decisões dos encontros do G-20 que participou em
Londres e Seul não foram implementadas. Essas decisões diziam que a
manutenção do emprego e o estímulo ao desenvolvimento dos países pobres
eram cruciais para a superação das crises. E sugeriu um prazo mais longo
de ajuste fiscal para Espanha e Grécia, alertando que esse ajuste
acelerado favorece a recessão e o surgimento de mais problemas e até o
questionamento de conquistas já alcançadas.
– Eu temo que na Europa vocês comecem a negar a União Européia. A
União Européia é um patrimônio da humanidade, ela superou 1500 anos de
conflitos – lembrou.
No discurso, que foi comentado nas mesas seguintes por políticos e
sindicalistas, Lula elogiou a democracia brasileira, lembrando as
dezenas de conferências realizadas em seu governo com os mais diversos
segmentos da sociedade.
– Os brasileiros deram o exemplo de que uma democracia viva é melhor
do que uma democracia em silêncio. Democracia é quando a sociedade toda
se movimenta – pontuou.
Entrevista relâmpago
O ex-presidente Lula teria dito, ainda nesta sexta-feira, que não se
surpreendeu com a operação Porto Seguro, deflagrada no último dia 23 de
novembro e que desarticulou um esquema de tráfico de influência,
corrupção e falsidade ideológica em órgãos federais.
– Eu não fiquei surpreso – teria afirmado Lula, na viagem à Alemanha,
onde participa de uma conferência internacional do sindicato dos
metalúrgicos do país, em uma entrevista-relâmpago ao diário conservador
paulistano Folha de S. Paulo.
A curta declaração teria sido a primeira feita pelo ex-presidente sobre o caso.
Pop star
Em sua sua viagem à Alemanha, na realidade, o ex-presidente tem
recebido tratamento de uma estrela da política internacional, nas
reportagens na imprensa local. O prestigioso jornal Süddeutsche Zeitung
se referiu a Lula como “superstar” em uma reportagem que afirma que o
Brasil é festejado sob seu governo, como se só agora o país tivesse sido
descoberto pelo resto do mundo. O texto diz ainda que o presidente
brasileiro tem um alto índice de aceitação não somente entre os próprios
brasileiros, mas também por parte de políticos de outros países.
O jornal econômico Handelsblatt disse que Lula chega à
Alemanha para conversar com a chanceler Angela Merkel “de igual para
igual”. No artigo intitulado Lula não vem como pedinte, o periódico
afirmou que o Brasil é um país desejado pelos investidores, e que a
líder alemã corteja, por isso, o país em nome do setor econômico alemão.
Já o conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ) disse
que Lula chega à Alemanha como representante de uma “nova terra do
milagre econômico” que “ultrapassou os tremores da crise global com uma
velocidade impressionante”.
Na reportagem intitulada Um visitante autoconfiante, o FAZ
lembra que as empresas brasileiras estão, em muitos setores, na ponta do
que há de melhor internacionalmente e que o “capital estrangeiro tem
entrado no Brasil como nunca antes”, o que faz do real “uma das moedas
mais fortes do mundo”.
O jornal disse ainda que o Brasil subirá em breve ao grupo das dez maiores economias do planeta.
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