Por Redação, com Brasil de Fato - de São Paulo
Relator especial da ONU para liberdade de expressão, Frank William la
Rue se disse escandalizado com a atitude do Supremo Tribunal Federal de
derrubar a vinculação horária da classificação indicativa dos programas
de televisão. Em uma visita não oficial ao Brasil, a convite do Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação, o relator preferiu não se
pronunciar sobre a concentração de poder na mídia nacional, ou a absoluta falta de marcos regulatórios para o segmento, a exemplo daqueles em vigor nos países desenvolvidos.
La Rue referiu-se à ação de inconstitucionalidade apresentada pelo
PTB e apoiada pelas emissoras de TV que tenta derrubar a obrigação das
emissoras respeitarem faixas horárias para veicular programas voltados
apenas a determinadas idades. As palavras do relator foram claras.
– Fiquei escandalizado que o Supremo Tribunal Federal esteja vendo
conflito entre liberdade de expressão e a proteção à infância. Não posso
entender e em nenhum país vi uma corte suprema que esteja disposta a
sacrificar a proteção da infância por outros interesses. É absolutamente
absurdo. A vinculação horária não é uma violação à liberdade de
expressão. A liberdade tem limites. Defendo a liberdade ampla, mas
reconheço os limites. Neste caso, o Estado tem obrigação de regular a
proteção da infância. Senão, dá-se a impressão de que interesses
econômicos podem se sobrepor a outros interesses – afirmou.
O susto do relator tem sentido. A ação começou a ser votada em
novembro de 2011, e depois dos votos de quatro ministros, todos
favoráveis à derrubada da vinculação de horários, foi suspensa por um
pedido de vistas do ministro Joaquim Barbosa. Desde então, o processo
não foi retomado.
“Esse alerta deveria ser levado em conta pelo STF na
continuidade da análise da ação. Seria muito ruim que prevalecesse no
Judiciário uma perspectiva que coloca os interesses comerciais das
empresas acima dos direitos das crianças e adolescentes. Entidades da
sociedade civil brasileira já vinham alertando para esse perigo. O
reforço, agora, vem da insuspeita relatoria de liberdade de expressão da
ONU”, repercutiu, em editorial, o jornal Brasil de Fato.
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