| Anttonia Aparecida da Silva Carrara* |
Por conta da intervenção e mobilização do movimento de Economia
Solidária junto ao governo federal e parlamentares (estaduais e
federais), foram retiradas as atribuições da Economia Solidária da nova
Secretaria Especial de Micro e Pequena Empresa, a ser criada no Projeto
de Lei 865. Se isto foi considerado uma vitória, é preciso dizer que
essa luta apenas começou.
A decisão de trabalharem juntos para vencer a situação de desemprego
trouxe contradições para quem trabalha em conjunto, em regime de
economia solidária. Dentro desta configuração do trabalho (nova ou não)
restam dúvidas, que não devem ser desprezadas, e sim debatidas com
profundidade.
Uma dessas grandes dúvidas é em relação à identidade das pessoas que
assim trabalham. Não são empresários, no sentido de relacionar-se entre
si, como patrões e empregados, já que um não vende a força de trabalho
para o outro.
Seriam, então, trabalhadores que dividem as funções e os ganhos
econômicos (ou perdas). Se são solidários ou não, podem até não se
denominarem “economia solidária”, mas certamente serão um grupo de
geração de renda. No entanto, continuam sendo pessoas que vivem do
trabalho. Como todos os trabalhadores, anseiam por direitos, com toda
razão.
Aí surge um perigo visível, quando, ao se formalizarem alguns grupos,
acabam sendo registrados como micro-empresas. Inadvertidamente ou não,
passam a chamar-se de empresários(as). E vêm as contradições, os perigos
e as questões:
Pois é, povo... Uma linguagem carregada de ideologia capitalista vem
dominando nossa comunicação, com o intuito justamente de descaracterizar
a classe dos que vivem do trabalho. E não só as palavras, mas – e isto é
histórico - muitas atitudes neste sentido.
Mas, enquanto prevalecer o sistema capitalista, a luta de classe
estará presente. Isto porque é da natureza do sistema explorar. Assim
como o anseio pela libertação permanece entre os trabalhadores.
Neste momento de profunda crise do sistema e dos ataques aos direitos
dos trabalhadores, os movimentos sindical e social comprometidos com os
interesses e a solidariedade de classe devem renovar a determinação de
combater essa sociedade injusta e colaborar para a construção de uma
sociedade justa, fraterna e solidária, que se manifesta na primazia do trabalho sobre o capital, no aumento da consciência de classe, nas ações transformadoras,
na construção de um novo modo de produção sócio-ecológico, em uma nova
cultura do trabalho, com vistas a romper com o sistema capitalista e
como realização da Pessoa Humana em todas as suas dimensões.
*Toninha Carrara, professora, é membro da coordenação da Pastoral Operária de Santo André. |

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