De Flip, Flupp, Daslu, Daspu e outros babados
Por Emir Sader
Confesso que
nunca gostei da Flip. Sempre me pareceu sumamente elitista. Grandes
editoras globalizadas promovem seus autores estrangeiros, salpicados por
alguns brasileiros, numa badalação daquelas, entre agentes
internacionais e internacionalizados, jornalistas babando e preços
exorbitantes, em um cenário belíssimo, mas proibitivo para a grande
maioria.
Me lembro
que há uns anos realizou-se uma Feira de Livros para a Juventude na
Baixada Fluminense, em um mês de agosto, quando ainda não baixava a
espuma da badalação da Flip – a que se dedica a velha mídia de abril a
agosto. Foi difícil encontrar lugar, mas principalmente se contou com
algumas editoras alternativas apenas, a maioria mandou saldos e a mídia
não deu praticamente nenhuma cobertura.
Só posso olhar com simpatia a I Feira Literaria Internacional das UPPs
– Flupp –, que será realizada no Morro dos Prazeres, em novembro de
2012. Algo que nunca poderia se realizar não fosse a política de ocupar
os espaços liberados ao controle cruel das gangues do narcotráfico, para
promover políticas sociais e culturais.
A Flupp está para a Flip assim como
a Daspu está para a Daslu. Como as iniciativas das elites para
iniciativas que buscam realizar-se nos espaços populares, até
recentemente controlados pelo narcotráfico. Ainda é cedo para saber do
sucesso da política das UPPs, assim como da Flupp, mas vale a pena
apostar e contribuir. É a aposta mais importante no Rio e, se der certo,
pode servir para tantas outras grandes metrópoles brasileiras.
Já que
falamos em elites e alterantivas populares, é significativo que um bom
poeta, de trajetória esquerdista – já foi comunista – era praticamente
desconhecido. De repente, quando passou para a direita, ganhou coluna
semanal em jornal, elogios por todos os lados e prêmios. Não há prêmio
que não lhe deem. Apesar de sua reconhecida feiura, só falta ganhar
prêmio de Mister de beleza, de algum cosmético de moda. Assim a elite
recompensa quem aceita comer na sua mão, quem passa a preferir a Daslu à
Daspu, a Flip à Flupp.
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