O terremoto e o tsunami que atingiram o Japão no dia 11 de março começam a perder espaço na mídia. Parece ser o destino das grandes dores e crises da humanidade, o serem sucedidas pela necessidade de acreditar que foram algo excepcional, mas não a ponto de nos tirar da rota segura do cotidiano. Os bilhões de pessoas que se chocaram com a tragédia praticamente em tempo real, provavelmente sentiram, em meio à compaixão, o alivio de não estarem lá, de não vivenciarem o terror que arrasou territórios, vidas, infraestrutura, tudo, em tão pouco tempo.
Contudo, por mais que o assunto “tsunami no Japão” esteja próximo da página virada, de refluir aos nichos especializados, algo permanece no sistema de alerta de todos nós: e nossa fragilidade diante da natureza? e os riscos da energia nuclear? Esse tema, em evidência nos anos 70 e 80 do século passado, ressurge em outra dimensão, com outras perguntas, necessariamente associadas ao descontrole climático-ambiental que vivemos.
A questão não está no mérito da tecnologia nuclear, mas no seu entorno, naquilo que o aprendizado das últimas décadas nos ensinou, ou seja, é mais importante o olhar abrangente, para as cadeias de causas e conseqüências, do que para um ponto fixo.
A alternativa nuclear para a geração de energia é o ponto fixo, mas os opções de vida da humanidade, aparentemente escudadas por tecnologias inexpugnáveis e admiráveis, é que estão em jogo. Elas são frágeis, muito frágeis, embora queiram aparentar onipotência e domínio de suas circunstâncias. A principal – a de estarmos num planeta que precisa ser levado em conta como organismo vivo carente de cuidados – tem-se aproximado de seus limites sem que isso seja levado em conta em todo seu profundo significado.
As grandes potências da geopolítica mundial têm sido confrontadas com suas vulnerabilidades e, ao final, com sua humanidade. A impotência da potência, tal como costumamos entendê-la, por critérios de força militar e capacidade tecnológica, é um poderoso sinal para deixarmos de mistificar. É hora de recriarmos nossa idéia de civilização. É a era do aprendizado, da compaixão, da solidariedade, mas também da sabedoria, do não esquecimento, do enfrentamento e reconhecimento dos limites. Dos quais, aliás, já passamos.
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